3 mitos sobre poesia
Uma das artes literárias mais antigas de todos os tempos é a poesia. Como já aponta o antropólogo Mircea Eliade, o surgimento da poesia se deu, justamente, quando os seres humanos começam a fazer trabalhos coletivos.
Isso porque poesias serviam para dar a cadência de trabalhos coletivos, por exemplo, quando um grupo precisava serrar uma árvore: os movimentos precisavam ser coordenados e os sons da poesia pontuavam as coordenadas.
Com o tempo, os esses cantos começaram a versar sobre esses trabalhos, inclusive, como um recurso didático. Com o passar dos séculos, esses versos foram se complexificando, ganhando versos detalhes, narrativas, até se tornar um gênero de profunda abstração.
Ou seja, a poesia foi um gênero ligado à rotina de trabalho, depois se tornou um recurso didático, por fim, se tornou o gênero de abstração. Contudo o gênero ainda é cercado de mitos. Você sabe quais são esses?
1. “A poesia é inspiração”
Quando pensamos em escrita de poesia, o senso-comum ainda traz muito da ideia grega de “Inspiração”, ou seja, uma ideia de origens místicas ou esotéricas, que “desce” na cabeça dos “escolhidos” (os poetas).
Esse mito vem, principalmente, da ideia Romântica de poesia, devido ao fato de que, no Romantismo, foi criada a personagem do “poeta atormentado”, inspirada, principalmente, em escritores como Byron e Lamartine, poetas com textos de profundo esoterismo.
Porém, a poesia é um gênero complexo, não por demandar inspiração – e sim por demandar muitos estudos.
O tema da poesia pode ser algo comum – “o amor, caso de Vinícius de Moraes. Porém, a forma como esse tema vai ser trabalhado exige muitos estudos de Literatura, Linguística e Poesia, sob o risco de soar um texto banal e repetitivo.
2. “A poesia é música”
Músicas podem ser poemas (como no caso das músicas do Milton Nascimento) ou não (como nos poemas de João Cabral de Melo Neto).
A ideia de que todo verso é poesia, ou que toda a música é poesia, vem da Poesia Clássica, isso é, anterior ao século 19.
Nessa época, todas as poesias eram pensadas de forma musical. O termo “Lírica” vem a lira, instrumento de cordas semelhante a uma harpa, que era usado para acompanhar leituras de poesias, na Grécia Antiga.
Porém, a poesia se refere mais a uma forma de ver o mundo, do que uma forma de escrita. Ary Toledo tem versos que não são poesia, enquanto Rimbaud tem poemas que são no formato de texto.
3. “Poesias têm rimas”
Complementando a questão anterior, nem todos os poemas têm rimas. E Nem sempre o texto versificado e rimado é poesia.
Ary Toledo é um exemplo disso. Seus versos cantados têm rimas, mas essencialmente são debochados, e não apresentam uma visão complexa e abstrata sobre o mundo – essa, a principal característica do que se entende por “Linguagem poética”.
Já o livro Galáxias de Haroldo de Campos é um livro com poemas, praticamente, sem rimas.
A rima serve para produzir a essência poética da poesia. Mas não são essenciais.