4 exercícios de intertextualidade para não se confundir mais

Veja como evitar confundir esse conceito com outras técnicas literárias.

A intertextualidade é um recurso essencial na construção de textos, permitindo que uma obra dialogue com outras de maneira criativa e significativa; contudo, nem sempre é fácil identificar ou aplicar esse conceito, o que pode gerar confusões tanto para quem escreve quanto para quem interpreta.

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Para ajudar a esclarecer de vez esse tema, preparamos quatro exercícios práticos que vão desenvolver sua habilidade de reconhecer e trabalhar a intertextualidade com segurança. Continue lendo e veja como aprimorar suas habilidades de leitura e escrita!

Exercícios de intertextualidade

Questão I

Texto I

“Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor; chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
as lágrimas são gotas de mentira
E o juramento manto da perfídia.”

Joaquim Manoel de Macedo

Texto II

“Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA”

Manuel Bandeira

(Enem) Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima, sugerem que:

a) Há um tratamento idealizado da relação homem/mulher.
b) Há um tratamento realista da relação homem/mulher.
c) A relação familiar é idealizada.
d) A mulher é superior ao homem.
e) A mulher é igual ao homem.

Resposta certa:

Alternativa “B”.

Questão II

Discorra sobre os diferentes tipos de intertextos.

Resposta adequada:

As relações intertextuais entre os diferentes discursos são manifestadas sob várias modalidades. Entre estas destacamos:

  • A paráfrase, a qual consiste em uma nova recriação, mantendo, porém, a essência discursiva referente ao texto original.
  • A paródia, que consiste também numa recriação, contudo, o discurso é voltado à ironia e à crítica.
  • Alusão ou referência, caracterizada pela menção que se atribui a um personagem, a um fato histórico ou até mesmo a um acontecimento marcante, mediante o ato de interlocução.
  • A epígrafe, representando um pensamento ou reflexão filosófica, proferida por uma figura de bastante representatividade, podendo ser um filósofo, escritor, cientista, estudioso de maneira geral, entre outros.
  • A tradução que, como o próprio conceito já retrata, consiste em reproduzir, para outro idioma, as ideias presentes em um outro discurso.
  • A citação, que se trata da transcrição, uma vez demarcada, das ideias já ditas por outrem.
4 exercícios de intertextualidade para não confundir mais (Foto: Unsplash).
4 exercícios de intertextualidade para não se confundir mais (Foto: Unsplash).

Questão III

Diante dos excertos poéticos em evidência abaixo, analise-os, tendo em vista as relações intertextuais entre estes e o texto-matriz, sob a célebre autoria de Gonçalves Dias.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
[…]

Gonçalves Dias

 

Canção do Exílio facilitada

“lá?
ah!
sabiá…
papá…
maná…
sofá…
sinhá…
cá?
bah!”

José Paulo Paes

 

Canto de regresso à pátria

“Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo”

Oswald de Andrade

 

Canção do Exílio

“Minha terra tem macieiras da Califórnia
Onde cantam gaturamos de Veneza
Os poetas da minha terra
São pretos que vivem em torres de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas,
Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
Com os oradores e os pernilongos
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas são mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
E ouvir um sabiá com certidão de idade!”

Murilo Mendes

Resposta certa:

Ao nos depararmos com os fragmentos poéticos em questão, percebemos que há uma unanimidade no discurso apresentado. Os autores, ligados ao período modernista, compartilham um objetivo comum: parodiar o pensamento ideológico predominante na era romântica, sobretudo entre os representantes da primeira fase. Essa crítica se volta principalmente contra o nacionalismo exagerado, que “maquiava” as reais condições da “terra descoberta”. Os modernistas, por sua vez, seguiram as ideias em alta na época e, embora também abordassem as raízes nacionais, o fizeram de maneira realista e transparente. Como exemplifica Murilo Mendes em seus versos:

“Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas são mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia…”

Questão IV

Discorra sobre seus conhecimentos acerca das relações intertextuais presentes no discurso.

Resposta adequada:

João Cabral de Melo Neto, em suas palavras, nos lembra que “um galo sozinho não tece uma manhã”, usando essa metáfora para ilustrar a ideia de intertextualidade. Ele destaca que um texto nunca é isolado, mas sim resultado de um constante diálogo com outros textos. Essa “polifonia” revela que as palavras não existem por si mesmas, mas são moldadas por um conjunto de ideias, opiniões e ideologias que surgem de contextos coletivos e variados, como os aspectos políticos, históricos e sociais.

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