Hora literária – veja 5 poemas da grande Cecília Meireles

Selecionamos 5 poemas marcantes dessa autora incrível para você se emocionar e se inspirar.

Cecília Meireles é um dos nomes mais marcantes da literatura brasileira, reconhecida por sua sensibilidade única e domínio impecável das palavras. Sua poesia transita entre o efêmero e o eterno, o real e o onírico, conquistando leitores de todas as idades e gerações. Neste artigo, selecionamos cinco poemas que representam a riqueza e a profundidade de sua obra. Prepare-se para mergulhar na delicadeza e na musicalidade dos versos dessa grande escritora!

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A grande Cecília Meireles

Cecília Meireles é uma das vozes mais marcantes da poesia moderna no Brasil. Sua escrita lhe garantiu um espaço de destaque na literatura nacional, sendo uma das primeiras mulheres a alcançar grande reconhecimento nesse meio. Embora sua trajetória seja mais lembrada pela poesia, sua produção literária abrange também contos, crônicas, literatura infantil e estudos sobre o folclore brasileiro.

Dona de um estilo singular, Cecília não se prendeu a nenhum movimento literário específico, apesar de sua obra apresentar traços do Simbolismo. Sua poesia dialoga com a tradição lírica luso-brasileira e traz elementos recorrentes que reforçam sua inclinação neossimbolista, como a natureza, o tempo, a solidão e a musicalidade das palavras.

A escritora valorizava profundamente a estética poética, escolhendo cada palavra com precisão para criar versos fluidos e harmoniosos. Seus poemas, geralmente curtos, fazem uso frequente de repetições e paralelismos. Entre os temas mais explorados em sua obra, destacam-se a efemeridade da vida, o amor, a criação artística e o infinito, sempre abordados com um olhar introspectivo e filosófico. Apesar de seu tom intimista, Cecília também se aventurou na poesia histórica, sendo “Romanceiro da Inconfidência” (1953) um dos exemplos mais notáveis. Nessa obra, a autora recria os eventos da Inconfidência Mineira, mesclando realidade e lenda após uma década de pesquisas.

Falecida aos 63 anos, no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1964, Cecília Meireles deixou um legado inestimável para a literatura brasileira. Para que você possa se encantar com a delicadeza de seus versos, selecionamos cinco poemas que ilustram a profundidade e a beleza de sua escrita.

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Hora literária – veja 5 poemas da grande Cecília Meireles (Foto: Unsplash).
Hora literária – veja 5 poemas da grande Cecília Meireles (Foto: Unsplash).

Canção do Amor-Perfeito

Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.

Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.

Bem no regaço da lua,
já não padeço.
Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço.

Onda

Quem falou de primavera

sem ter visto o teu sorriso,

falou sem saber o que era.

 

Pus o meu lábio indeciso

na concha verde e espumosa

modelada ao vento liso:

 

tinha frescuras de rosa,

aroma de viagem clara

e um som de prata gloriosa.

 

Mas desfez-se em coisa rara:

pérolas de sal tão finas

– nem a areia as igualara!

 

Tenho no meu lábio as ruínas

de arquiteturas de espuma

com paredes cristalinas…

 

Voltei aos campos de bruma,

onde as árvores perdidas

não prometem sombra alguma.

 

As coisas acontecidas,

mesmo longe, ficam perto

para sempre e em muitas vidas:

 

mas quem falou de deserto

sem nunca ver os meus olhos…

– falou, mas não estava certo.

Fio

No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.

Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.

Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão…

— Para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?

Murmúrio

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
– vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
– vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
– Vê que nem te digo – esperança!
– Vê que nem sequer sonho – amor!

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