Como ensinar História e Cultura Indígena e Afro-brasileira na escola, para além de Português, História e Geografia?
Quem está na escola, seja publica ou privada, sabe que, desde 2003 há a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena. De fato, são leis extremamente importantes, pois, dessa forma, garantem que o aluno conheça tanto a História Europeia, quanto a História Africana e dos nativos americanos.
Logo, esse ensino deve ser voltado a combater preconceitos, injustiças e inadequações históricas. O problema é que muitos professores de matérias que não envolvem, diretamente, História e Cultura Indígena e Afro-brasileira ficam perdidos, precisamente na hora de aplicar essa lei.
Como relacionar os povos africanos ao ensino de matemática? Como falar sobre povos indígenas em uma aula de biologia?
Interdisciplinaridade: amarrando saberes na construção do conhecimento
Antes de pensar sobre como ensinar uma matéria, você precisa se perguntar o que você conhece e entende por currículo escolar. Currículo é apenas falar o que o aluno precisa aprender naquele ano, ou é também um plano de educação aberto às transformações sociais?
Partindo desse princípio, você precisa aplicar as teorias do Ensino Interdisciplinar, na matéria que ministra. Isso é, você precisa integrar à sua matéria não apenas os conteúdos tradicionais, mas conteúdos de outras áreas, que formaram ela.
Por exemplo, o estudo de formas geométricas. Esse, pode ser voltado apenas para arquitetura greco-romana ou, pode considerar, também, arquitetura de povos nativos. O professor traz o exemplo de ocas e tabas de nações indígenas, para falar sobre triângulos, ângulos, área e perímetro.
E não se limita a isso. Busca explicar o uso desses conceitos e princípios, a partir de uma análise histórica desses povos; o professor explica teorias matemáticas, a partir de uma leitura daquela sociedade, por exemplo.
Considerando os saberes tradicionais
Outra possibilidade, em um ensino interdisciplinar, é aquela que considera saberes tradicionais e orais – um traço predominante em nações africanas como os Bantos e os Nagôs.
Esses saberes são tão importantes, quanto à cultura escrita, vinda da Europa, uma vez que neles há ensinamentos de agricultura, astronomia, produção e conservação de alimentos, entre tantos outros. Logo, podem ser usados para o ensino de conceitos e praticas de Biologia e Química.
Esses povos, ainda, tinham uma estreita relação de reverência, respeito e proteção ao meio ambiente, por saberem-se dependentes dele. Logo, os mitos dessas nações africanas podem nortear um professor de Biologia, interessado no ensino de Ecologia ou Agricultura Sustentável.
Agroecologia e Movimentos Sociais
Por sua vez, um currículo de Biologia que se proponha a falar sobre Ecologia e Sustentabilidade deve, necessariamente passar pelos conceitos de Agroecologia e pela História dos Movimentos Sociais por terra.
Políticas extrativistas, que levaram muitas espécies animais e vegetais à beira da extinção, têm suas raízes na História das oligarquias brasileiras. Essas, por suas vez, se ergueram a partir do trabalho escravo e, após a abolição, a partir da briga entre grandes proprietários e agricultores familiares – esses, muitas vezes, filhos e netos de ex-escravizados.
Para resumir, um ensino preocupado com valores éticos e morais, e com a formação de cidadãos críticos, passa, necessariamente, pela educação interdisciplinar. Essa envolve tanto o ensino de culturas Europeias, quanto de culturas Afro-brasileiras e indígenas.