O correto é “saudade” ou “saudades”?

Qual a forma ideal para se expressar: "estou com saudade" ou "estou com saudades"?

Quantas vezes você já sentiu aquela pontada no coração ao lembrar de um momento ou pessoa especial? E na hora de expressar esse sentimento, você disse que estava com “saudade” ou com “saudades”? Afinal, qual é a forma correta de usar essa palavra que carrega tanto sentimento? “Saudade” ou “saudades”, existe mesmo uma regra para isso? E mais, ao dizer “estou com saudade” ou “estou com saudades”, estamos realmente transmitindo a intensidade do que sentimos ou apenas seguindo velhos hábitos da linguagem? Vamos desvendar juntos essas questões e entender melhor como expressar esse sentimento tão único da língua portuguesa.

O correto é “saudade” ou “saudades”?

O substantivo “saudade” é  empregado no português para expressar um sentimento de falta ou nostalgia por algo ou alguém que está ausente. Curiosamente, o termo também é usado no plural, “saudades”, em diversos contextos. Essa variação também ocorre com outros substantivos abstratos como “ciúmes” e “felicidades”, levantando uma questão interessante sobre a flexibilidade numérica desses termos. Mas será que isso está correto?

A natureza dos substantivos abstratos

Substantivos abstratos, por definição, referem-se a ideias, qualidades ou estados que não possuem uma existência física palpável. Tradicionalmente, entende-se que esses substantivos não deveriam ser pluralizados, uma vez que representam conceitos indivisíveis e intangíveis. No entanto, o uso de “saudades” no plural é um exemplo de como a língua se adapta às necessidades expressivas de seus falantes. Ao dizer “tenho saudades da minha infância, dos amigos de escola, das viagens que fiz”, o falante está diferenciando várias experiências distintas de saudade, o que justifica o uso do plural.

A evolução linguística e o plural dos abstratos

A língua portuguesa, como qualquer língua viva, está em constante transformação, e o uso plural de certos substantivos abstratos é um reflexo dessa dinâmica. Além do termo “saudades”, frequentemente encontrado no plural, termos como “ciúmes” e “felicidades” também são utilizados, todos sendo exemplos de substantivos abstratos. Esta categoria gramatical normalmente não permite a pluralização, já que, por definição, itens abstratos não são contáveis. Como se contaria a saudade, o ciúme ou a felicidade? Isso pode variar, pois quem pode dizer que não é possível experienciar múltiplas saudades? Saudades da infância, da família, da escola, do amor juvenil… Ao desejar “felicidades” para alguém, estamos, na verdade, expressando múltiplos desejos de felicidade. Isso reflete uma expansão do significado original das palavras, uma alteração de seu sentido básico que, longe de ser prejudicial, representa a natural evolução e adaptação da linguagem. O mesmo ocorreu com “parabéns” e “pêsames”, que atualmente são quase exclusivamente usados no plural, e raramente se ouve alguém optar pelo singular sem correr o risco de ser considerado desinformado ou pouco culto.

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Tradição X Adaptação

Entre linguistas modernos, há uma crescente aceitação de que a flexão de número em substantivos abstratos como “saudades” pode ser válida, refletindo os novos usos e costumes da língua. Esses especialistas defendem que a língua deve ser suficientemente flexível para se adaptar às formas expressivas de seus usuários.

Por outro lado, os mais conservadores resistem a essas mudanças, argumentando que a pluralização de substantivos abstratos pode confundir as fronteiras entre conceitos abstratos e concretos. Eles defendem que substantivos como “saudade” devem permanecer no singular para preservar a clareza da língua.

Exemplos do uso no dia a dia:

  • “Minhas saudades são sinceras.”
  • “Tenho lembranças ternas daqueles dias.”
  • “Os amores da minha vida são meus filhos e amigos.”
  • “Desejo-lhe muitas felicidades neste novo capítulo.”

Essas frases ilustram como o uso do plural pode ser perfeitamente natural e gramaticalmente correto, dependendo do contexto e da intenção comunicativa.

Substantivos abstratos que resistem ao plural

Apesar da flexibilidade observada em muitos casos, certos substantivos abstratos raramente aparecem no plural, como “raiva”, “ódio” e “preguiça”. Estes geralmente são considerados universais ou monolíticos em sua natureza, o que faz com que seu uso no singular permaneça como a forma predominante.

Afinal, o correto é “saudade” e “saudades”?

Concluindo, tanto “saudade” quanto “saudades” são formas aceitáveis dependendo do contexto. A decisão de usar uma ou outra forma deve ser guiada pela precisão e pela intenção expressiva do falante. A riqueza da língua portuguesa permite essa flexibilidade, refletindo a complexidade e a profundidade dos sentimentos humanos.

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