Literatura: “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel A. de Almeida

Descubra a trama única e humorística que rompeu padrões do Romantismo brasileiro ao apresentar um anti-herói no Rio de Janeiro do século XIX.

Publicado em 1854, o livro “Memórias de um Sargento de Milícias”, escrito por Manuel Antônio de Almeida, é uma obra que integra a primeira fase do Romantismo no Brasil. Composta por dois volumes e dividida em 48 capítulos, a narrativa acompanha a trajetória de Leonardo, um personagem que cresce nas ruas do Rio de Janeiro durante o Brasil colonial.

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Memórias de um Sargento de Milícias

Os personagens principais desempenham papéis essenciais. Confira!

Leonardo: o protagonista da história e figura central da narrativa, Leonardo é o filho de Maria da Hortaliça e de Leonardo-Pataca. Sua trajetória e peripécias refletem a sociedade carioca da época, marcando-o como um anti-herói.

Maria da Hortaliça: mãe de Leonardo e uma mulher simples do campo. Após ser flagrada em um caso com outro homem, abandona a família, deixando Leonardo aos cuidados de outras pessoas.

Leonardo-Pataca: pai de Leonardo, é mineiro e atua como oficial de justiça. Ele enfrenta o desafio de ser traído pela esposa, Maria da Hortaliça, o que acaba resultando no abandono de Leonardo.

Compadre: o barbeiro da vizinhança, que também é padrinho de Leonardo. Após o abandono do menino pelos pais, assume sua criação e o cuida como se fosse seu próprio filho.

Comadre: vizinha e parteira, é a madrinha de Leonardo e ajuda a cuidar dele. Ela desempenha um papel importante na vida social da comunidade.

Chiquinha: filha da comadre e interesse romântico de Leonardo-Pataca, ela é uma personagem que contribui para os conflitos e as relações afetivas na história.

Luizinha: o amor de Leonardo, é uma jovem por quem ele se apaixona e representa seus desejos e aspirações. A relação entre os dois é uma das bases emocionais da história.

Dona Maria: avó de Luizinha e uma mulher de posses. Envolvida em disputas judiciais, ela representa a classe alta da sociedade e os interesses de status e patrimônio.

José Manuel: amigo da família de Luizinha, é um personagem que busca se aproximar dela e de sua avó por interesse financeiro, demonstrando a ganância presente na sociedade.

Vidinha: uma mulher de grande beleza, Vidinha desperta a atração de Leonardo, simbolizando a tentação e a complexidade dos relacionamentos do protagonista.

Major Vidigal: a figura da lei na narrativa, ele ordena a prisão de Leonardo, representando a repressão e a disciplina social da época.

Maria Regalada: antigo amor do Major Vidigal, ela adiciona um toque de nostalgia e romance à história, ligando o major a uma época passada.

Esses personagens contribuem para que “Memórias de um Sargento de Milícias” seja um retrato vívido e satírico do Rio de Janeiro colonial, revelando os valores, as relações e os conflitos da época.

Resumo da obra

A história de “Memórias de um Sargento de Milícias” se desenrola no Rio de Janeiro, destacando a trajetória e as aventuras de Leonardo. O protagonista, com uma personalidade malandra e inclinada a travessuras, vive uma série de eventos que o conduzem, com o tempo, ao cargo de sargento de milícias.

Logo no início, Leonardo é deixado aos cuidados dos padrinhos, uma parteira e um barbeiro, depois de ser abandonado pelos pais. O motivo do abandono é um episódio de infidelidade: Maria das Hortaliças, sua mãe, é surpreendida pelo marido com outro homem e decide fugir com o amante. O pai de Leonardo, por sua vez, não assume a responsabilidade de criá-lo, deixando a tarefa para os padrinhos, que acabam guiando o menino até a vida adulta. O padrinho tenta encaminhá-lo para os estudos e para uma carreira religiosa, mas Leonardo se interessa apenas em traquinagens e diversão.

Com o passar do tempo, Leonardo cresce e se apaixona por Luizinha. O romance é interrompido, pois a família da garota é abastada e José Manuel, um amigo da família, pede a mão de Luizinha com o objetivo de conquistar essa herança. Leonardo descobre as reais intenções de José Manuel e desabafa com os padrinhos, que, por sua vez, informam a avó da jovem, Dona Maria.

A notícia leva José Manuel a ser expulso da casa e impedido de se aproximar da noiva. Logo depois, o padrinho de Leonardo adoece e falece, deixando uma herança ao jovem. Esse fato atrai a atenção de seu pai, Leonardo-Pataca, que tenta se reaproximar dele para conseguir uma parte do dinheiro. Nesse momento, Pataca já vive com Chiquinha, filha da parteira, e tem outra filha.

A convivência entre Leonardo, o pai e a madrasta gera frequentes discussões que resultam na expulsão de Leonardo.

Vivendo afastado, Leonardo conhece Vidinha e se apaixona. Ela, no entanto, possui dois primos que, ao notar a presença de Leonardo, ficam com ciúmes e planejam uma armadilha. Os primos denunciam ao Major Vidigal que Leonardo reside ilegalmente na casa da Rua da Vala, o que leva o jovem à prisão. Posteriormente, ele é preso novamente ao se recusar a se alistar no exército. Contudo, sua madrinha, junto com Maria Regalada (ex-amor de Vidigal), intercede por sua libertação. Em troca, Maria Regalada aceita morar com o Major.

Finalmente livre, Leonardo é promovido a sargento, mas como o casamento de sargentos não era permitido, ele é intitulado “sargento de milícias” e pode se casar com Luizinha, seu amor de juventude.

Breve análise

Narrado em terceira pessoa, “Memórias de um Sargento de Milícias” descreve o cotidiano de personagens no Rio de Janeiro, destacando-se por ser uma história incomum para o século XIX. Publicada em capítulos semanais no Correio Mercantil do Rio de Janeiro, a obra conquistava leitores com uma narrativa curta, direta e em linguagem coloquial. Pela primeira vez no Romantismo brasileiro, o protagonista, Leonardo, era um anti-herói, retratado como um “malandro” em vez de um mocinho idealizado, e cercado por personagens com más intenções, como José Manuel, interessado em casar-se por dinheiro, e Leonardo-Pataca, que se reaproxima do filho por conveniência.

Além dos personagens, figuras anônimas, como a madrinha e o padrinho, são mencionadas pelo parentesco ou profissão, refletindo a representação das classes populares. O autor também menciona diferentes localidades para ilustrar as distinções sociais da época. Narrada com humor e ironia, a história oferece uma visão mais abrangente dos eventos e dos personagens, utilizando flashbacks para contextualizar a trama. Sem moralismo, a obra “Memórias de um Sargento de Milícias” apresenta personagens de baixa renda, oportunismo e falta de ideais, quebrando os padrões românticos típicos do período e proporcionando uma experiência literária única para o público da época.

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