Mais do português: a origem das expressões – parte I
Explore como essas frases evoluíram ao longo do tempo, revelando insights sobre culturas e costumes passados e presentes.
O idioma português é rico em expressões fascinantes. Muitas dessas expressões se mantêm inalteradas ao longo do tempo, desempenhando um papel significativo na cultura da língua. Há estudiosos dedicados a investigar e descobrir as origens dessas expressões, que podem estar enraizadas na cultura local ou serem influenciadas por elementos estrangeiros, mitológicos, religiosos, históricos, entre outros.
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É sabido que as expressões são aprendidas através do contato direto com a língua durante a socialização dos indivíduos. Conforme apontam estudos, a partir dos 5 ou 6 anos de idade, as crianças começam a utilizar certas expressões e, a partir desse ponto, continuarão a expandir seu vocabulário mental continuamente.
A origem das expressões
As expressões idiomáticas, como muitas são conhecidas, surgiram de diversas formas ao longo da história e são um reflexo da cultura, história e experiências coletivas de uma comunidade. Aqui estão alguns fatores que contribuíram para o surgimento e a propagação delas.
Tradições e cultura popular
Muitas expressões idiomáticas derivam de costumes, tradições e lendas locais. Essas expressões são transmitidas de geração em geração, enraizando-se na língua cotidiana.
História e eventos históricos
Alguns idiomatismos têm origem em eventos históricos específicos. Por exemplo, “sair da frigideira para o fogo” tem suas raízes em contos antigos sobre situações de perigo crescente.
Literatura e mitos
Obras literárias, mitos e fábulas frequentemente introduzem expressões que se tornam populares e são incorporadas ao uso comum. Shakespeare, por exemplo, introduziu muitas expressões que ainda usamos hoje.
Profissões e ofícios
Muitos idiomatismos têm origem em vocabulários específicos de profissões e ofícios. Expressões náuticas, agrícolas e industriais frequentemente entram na linguagem comum à medida que esses setores influenciam a sociedade.
Interação social e humor
A criatividade na linguagem cotidiana, incluindo trocadilhos e jogos de palavras, também gera novas expressões idiomáticas. O humor e a observação do comportamento humano são fontes ricas de idiomatismos.
Influência de outras línguas
A troca cultural e a influência de outras línguas por meio do comércio, migração e colonização também introduzem novas expressões na língua.
Por serem figurativas e não literais, elas ajudam a enriquecer a comunicação, tornando-a mais vívida e expressiva. Elas são mantidas e adaptadas ao longo do tempo, refletindo as mudanças culturais e sociais.
Algumas das mais comuns
Sem eira nem beira
Indica indivíduos desprovidos de recursos ou propriedades. A “eira” representa um terreno de solo compactado ou cimento, onde os grãos são deixados ao ar livre para secar. A “beira” refere-se à borda da eira.
Quando uma eira não tem beira, os grãos são levados pelo vento e o dono fica sem nada. Na região nordeste, este ditado tem um significado semelhante, porém com outra explicação. Segundo a tradição, antigamente as casas das pessoas abastadas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a “tribeira”, a parte mais alta do telhado.
As pessoas menos favorecidas não tinham meios para construir um telhado tão elaborado, então se contentavam em erguer apenas a tribeira, ficando assim “sem eira nem beira”.
Chegar de mãos abanando
A expressão tem sua origem associada aos imigrantes que chegaram aqui no século XIX.
Esses imigrantes frequentemente traziam consigo da Europa ferramentas para o cultivo da terra, como foices e enxadas, além de animais como vacas e porcos. A presença de uma ferramenta indicava uma profissão, uma habilidade e demonstrava disposição para o trabalho. Por outro lado, chegar sem trazer nada consigo era interpretado como sinal de preguiça.
Nos dias de hoje, ao comparecer a uma festa, é considerado de bom-tom levar um presente. Se alguém comparece sem trazer nada, é comum dizer que ele “chegou de mãos abanando”.
Ovelha negra
Na verdade, essa expressão não é exclusiva do Brasil nem do português. Diversas outras línguas a empregam para descrever alguém que se destaca negativamente num grupo, assim como uma ovelha preta se diferencia em um rebanho de ovelhas brancas.
Na Antiguidade, animais de cor preta eram frequentemente vistos como maléficos e, portanto, eram sacrificados como oferendas aos deuses ou para selar certos pactos. Foi dessa prática que surgiu o costume de chamar de “ovelha negra” aqueles que se destacam de maneira negativa ou chocante para os demais.