A regência correta: é “acarretar algo” ou “acarretar em algo”?

Esclareça essa dúvida e aprimore seu uso da língua portuguesa!

A língua portuguesa está repleta de armadilhas gramaticais que geram dúvidas até mesmo entre os falantes mais experientes. Uma delas envolve o verbo “acarretar”: afinal, o correto é “acarretar algo” ou “acarretar em algo”? Essa questão é comum porque muitos verbos possuem regências variadas, influenciadas tanto pela norma culta quanto pelo uso coloquial.

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Hoje, nós vamos esclarecer qual forma está de acordo com a gramática normativa e entender o motivo dessa escolha.

Afinal, é “acarretar algo” ou “acarretar em algo”?

Normalmente, o verbo “acarretar” é classificado como transitivo direto, ou seja, exige um complemento sem o uso de preposição. Dessa forma, a construção correta é “acarretar algo” e não “acarretar em algo”, que configura um erro gramatical bastante comum; no entanto, em contextos específicos, o verbo pode apresentar variações em sua regência, funcionando como bitransitivo (aceitando tanto um complemento direto quanto indireto) ou até mesmo como transitivo indireto.

Apesar dessas possibilidades, é importante ressaltar que, independentemente da estrutura, a preposição “em” não deve ser empregada com esse verbo. Neste artigo, vamos esclarecer como utilizar “acarretar” corretamente, evitando equívocos e aprimorando sua comunicação. Acompanhe!

O verbo “acarretar” e suas diferentes regências

O verbo acarretar é amplamente utilizado na língua portuguesa com o sentido de causar, provocar, gerar ou ocasionar algo. No entanto, sua regência varia de acordo com a estrutura da frase, podendo ser transitivo direto, bitransitivo (transitivo direto e indireto) ou, em casos mais raros, transitivo indireto. Compreender essas diferenças é essencial para garantir o uso correto do verbo e evitar erros gramaticais comuns.

1. Uso do verbo “acarretar” como transitivo direto

Na maioria das construções, acarretar é um verbo transitivo direto, ou seja, não exige preposição antes do complemento. Nessa função, ele indica que algo é a causa direta de um efeito.

Veja alguns exemplos:

  • A mudança na legislação acarretou novos desafios.

  • A falta de planejamento acarretará atrasos na entrega do projeto.

  • Ele advertiu que o aumento da carga tributária acarretaria a fuga de investidores.

Em todos esses casos, o verbo está diretamente ligado ao complemento, sem a necessidade de preposição intermediária.

2. Uso do verbo “acarretar” como transitivo direto e indireto (bitransitivo)

Há situações em que acarretar exige dois complementos: um direto (sem preposição) e um indireto (introduzido pela preposição a). Esse uso indica que determinada ação gera um efeito sobre alguém ou algo.

Confira alguns exemplos de acarretar como verbo bitransitivo:

  • Essa decisão judicial acarretará impactos significativos ao setor educacional.

  • O descaso com a manutenção dos equipamentos acarretou sérios prejuízos à empresa.

  • Suas atitudes impensadas acarretaram muito sofrimento à nossa família.

É importante destacar que a preposição adequada nesse caso é a e não em. Portanto, construções como “acarretar em problemas” são incorretas.

A regência correta: é “acarretar algo” ou “acarretar em algo”? (Foto: Unsplash).
A regência correta: é “acarretar algo” ou “acarretar em algo”? (Foto: Unsplash).

3. Uso raro do verbo “acarretar” como transitivo indireto

Embora menos frequente, acarretar pode aparecer como verbo transitivo indireto em duas situações específicas.

3.1 Com a preposição “com”
De acordo com o linguista Winfried Busse, no Dicionário Sintáctico de Verbos Portugueses, o verbo pode ser regido pela preposição com em construções que indicam assumir ou arcar com algo.

  • Márcio acarretou com as despesas do conserto do carro.

3.2 Com a preposição “para”
Outra possibilidade, apontada pelo dicionário Aulete, ocorre quando acarretar assume o sentido de transportar ou levar algo para um lugar. Esse uso é encontrado em textos literários, como no clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha:

  • “(…) de modo a lhe permitir acarretar para os recessos do continente…”

Em resumo

O verbo acarretar possui variações de regência que dependem do contexto em que é empregado. Seu uso mais comum é como transitivo direto, sem a necessidade de preposição; no entanto, em algumas situações, ele pode ser bitransitivo, exigindo um complemento indireto introduzido pela preposição a. Casos de regência puramente indireta são menos frequentes, mas ocorrem com as preposições com e para, dependendo do significado pretendido.

O ponto crucial a ser lembrado é que acarretar nunca exige a preposição em. Portanto, construções como “acarretar em prejuízos” estão incorretas. Ao dominar essas nuances, você garante mais precisão e clareza na comunicação escrita e falada.

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