O que é assíndeto? Veja uma das figuras mais usadas e ignoradas
É uma figura de linguagem poderosa que omite conjunções para criar textos mais dinâmicos.
Você sabia que, mesmo sem perceber, você provavelmente já usou ou encontrou o assíndeto em diversas situações do dia a dia? Essa figura de linguagem é amplamente empregada tanto na escrita quanto na fala, mas muitas vezes passa despercebida devido à sua simplicidade. Vamos explorar o que é o assíndeto, como ele funciona e exemplos práticos de seu uso.
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O que é assíndeto?
É uma figura de construção que consiste na omissão de conjunções coordenativas entre termos ou orações de uma frase. Ele é usado para criar uma sensação de rapidez, fluidez ou intensidade no texto. Ao retirar conectivos como “e”, “mas” e “porém”, o autor aposta na justaposição das ideias para estabelecer relações de sentido entre elas.
Por exemplo:
- “Comprei flores, chocolates, um cartão.”
Nessa frase, percebe-se a omissão da conjunção “e” entre os itens listados, o que caracteriza o uso do assíndeto.
A diferença entre assíndeto e polissíndeto
Para entender melhor o assíndeto, é importante distingui-lo do polissíndeto, outra figura de construção. Enquanto o assíndeto omite as conjunções, o polissíndeto faz o oposto: adiciona conjunções repetidamente para enfatizar a ideia de continuidade ou exaustão. Veja a diferença:
- Assíndeto: “Ele correu, caiu, levantou, continuou.”
- Polissíndeto: “Ele correu e caiu e levantou e continuou.”
Ambas as figuras têm propósitos estilísticos distintos e podem ser usadas para enriquecer a expressividade do texto.
Por que o assíndeto é tão usado?
Ele é amplamente utilizado porque contribui para tornar a linguagem mais dinâmica e envolvente. Em contextos literários, ele pode ser empregado para criar ritmo e intensidade, enquanto, na fala cotidiana, sua presença é natural devido à tendência de simplificação na comunicação oral.
Na literatura, autores como Machado de Assis e Clarice Lispector utilizaram o assíndeto para imprimir estilo único a seus textos. Além disso, ele também é recorrente na poesia, ajudando a intensificar as emoções e criar um impacto maior no leitor.
Exemplos práticos
Para ilustrar melhor, aqui estão alguns exemplos de assíndeto:
- “Vim, vi, venci.” (Júlio César)
- “Andava pelas ruas, pensava, sonhava, esquecia-se de tudo.”
- “Abri a porta, entrei na casa, olhei ao redor.”
Nos exemplos acima, a omissão das conjunções permite que as ações sejam apresentadas de maneira direta e rápida, gerando maior dinamismo.
Como usar o assíndeto de forma eficaz
O uso do assíndeto deve ser consciente e alinhado ao objetivo do texto. Ele é especialmente útil para:
- Transmitir uma sensação de velocidade ou urgência;
- Criar um estilo mais coloquial e descontraído;
- Ressaltar a sequência de ações ou fatos.
Entretanto, é importante evitar excessos, pois a omissão constante de conjunções pode comprometer a clareza do texto, especialmente em textos mais formais ou acadêmicos.
Em resumo
O assíndeto é uma figura de linguagem poderosa e versátil, capaz de conferir ritmo e fluidez à comunicação. Embora muitas vezes passe despercebido, seu uso é frequente e essencial para enriquecer tanto a fala quanto a escrita. Ao compreender e aplicar o assíndeto de maneira consciente, você pode transformar seu texto em algo mais envolvente e dinâmico. Que tal tentar incluí-lo na sua próxima redação ou conversa?
Veja exemplos famosos!
- “Por você eu largo tudo. Vou mendigar, roubar, matar./ Que por você eu largo tudo. Carreira, dinheiro, canudo.” (música “Exagerado” de Cazuza)
- “Era impossível saber onde se fixava o olho de padre Inácio, duro, de vidro, imóvel na órbita escura. Ninguém me viu. Fiquei num canto, roendo as unhas, olhando os pés do finado, compridos, chatos, amarelos.” (“Angústia” de Graciliano Ramos)
- “Nascendo, rompendo, rasgando, E tomando meu corpo e então…Eu… chorando, sofrendo, gostando, adorando.” (música “Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração)” de Gonzaguinha)
- “Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar. Pra lua, a taxa é alta. Pro sol: identidade.” (música “Carimbador Maluco” de Raul Seixas)
- “A tua raça de aventura quis ter a terra, o céu, o mar/A tua raça quer partir, guerrear, sofrer, vencer, voltar.” (“Epigrama nº 7” de Cecília Meireles)
- “Tive ouro, tive gado, tive fazendas.” (“Confidência do Itabirano” de Carlos Drummond de Andrade)