Como fazer a alfabetização de crianças surdas?
O uso de materiais visuais contextualizados, bem como a inclusão de famílias no processo educativo para um letramento são fundamentais.
Alfabetização de crianças surdas é um assunto sério. Sem dúvidas, a visão é a principal conexão com o mundo para uma criança surda. Por isso, é natural que ela se comunique e aprenda principalmente por meio desse sentido. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a forma de expressão mais autêntica para essas pessoas, sendo considerada sua “língua materna”. No entanto, a comunidade surda é bastante diversa.
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Alfabetização de crianças surdas
Existem aqueles que nascem surdos e outros que perdem a audição em algum momento da vida; alguns têm surdez profunda, enquanto outros possuem deficiência auditiva que permite o uso de aparelhos auditivos. Conforme se desenvolvem, há indivíduos que se comunicam oralmente (fazendo leitura labial do português), aqueles que utilizam Libras, e ainda os bilíngues, que dominam ambas as formas de comunicação.
Vale lembrar que crianças surdas que nascem e crescem em famílias onde pelo menos um dos responsáveis também é surdo têm acesso à Libras desde cedo, permitindo que aprendam e dominem a língua de forma mais intuitiva e natural. Contudo, essa não é a realidade para a maioria. Muitas crianças surdas nascem em famílias de ouvintes, que geralmente não conhecem nem utilizam a língua de sinais.
Surdez e educação
De acordo com o Instituto Locomotiva, existem aproximadamente 10,7 milhões de pessoas com surdez ou deficiência auditiva no Brasil. No âmbito da educação básica, há 62.581 crianças e jovens com essa condição matriculados, sendo que 12% deles estão em classes especiais, conforme dados do Censo Escolar de 2020.
Embora haja uma crença comum de que a presença de um intérprete de língua de sinais em sala de aula é suficiente para garantir a inclusão, é evidente que a educação de alunos surdos requer um esforço muito mais abrangente. Esse desafio é especialmente evidente no ensino da língua portuguesa, que se baseia no sistema fonético e na sonoridade das letras.
O Programa de Avaliação Nacional do Desenvolvimento Escolar do Surdo Brasileiro (Pandesb) mostra que o domínio da Libras (Língua Brasileira de Sinais) facilita significativamente a aprendizagem da leitura e escrita em português. No entanto, é essencial que a interpretação da Libras realizada em sala de aula seja eficaz e significativa para os alunos surdos.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que o desenvolvimento escolar dos estudantes surdos enfatize o uso do espaço visual, que é essencial para a língua de sinais. Em outras palavras, é necessário alinhar discurso e prática: criar um ambiente adequado para as crianças surdas e implementar métodos e processos que as ajudem a se desenvolver como indivíduos bilíngues.
Línguas simultâneas?
Durante a fase de alfabetização, é essencial que a criança surda aprenda simultaneamente as duas línguas. O educador deve sempre considerar a Libras como a primeira língua dessas crianças, reavaliando os métodos de ensino tradicionais baseados na audição. Além disso, é crucial capacitar a equipe escolar e envolver as famílias para garantir a inclusão completa.
O professor pode desenvolver materiais de apoio visual, utilizando ilustrações, fotografias, vídeos, pinturas e objetos concretos para ensinar palavras e conceitos. É importante que esses materiais sejam contextualizados, mostrando a palavra em diversos contextos. Por exemplo, uma bola pode ser um item usado em futebol, tênis de mesa, como uma bola de sorvete ou na expressão “dar bola”.
Ademais, atividades bilíngues em casa, utilizando vídeos e pistas visuais, podem promover o letramento. Para famílias de baixa renda, vídeos online podem consumir muitos dados, então livros se tornam uma boa alternativa. Quando possível, pode-se produzir um vídeo com a tela dividida, mostrando de um lado a imagem de um objeto, e do outro, o sinal em Libras e a palavra escrita em português.