Anacoluto: o que é isso na língua portuguesa?

Entenda sua definição, exemplos e uso em contextos diversos para aprimorar sua escrita e compreensão textual.

O anacoluto é uma figura de linguagem caracterizada pela mudança abrupta de pensamento no meio de uma frase, o que interrompe a estrutura lógica do discurso. Esse fenômeno é mais comum na linguagem falada, onde a fluidez da comunicação permite ao falante alterar seu raciocínio e inserir interrupções não planejadas.

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Anacoluto: o que é?

Figuras de linguagem

Essas figuras, que também conhecidas como figuras de estilo ou figuras de retórica, são recursos que os autores utilizam para criar efeitos específicos no público leitor ou ouvinte. Essas figuras podem incluir metáfora, comparação, personificação, catacrese, onomatopeia, paradoxo, ironia, antítese e eufemismo, entre outras.

Quando usamos o anacoluto?

Como discutido anteriormente, o anacoluto é frequentemente encontrado na linguagem oral. Este fenômeno só pode ser considerado um erro quando ocorre dentro de uma frase completa.

Na expressão “Eu, também me parece que as fiz, porém vou sempre negar”, a palavra “eu” se destaca, afastando-se dos outros elementos da frase. No restante da construção, o termo “eu” é subentendido devido à elipse.

Similarmente, na frase “o meu cachorro, levo-o sempre àquele veterinário”, típica da fala cotidiana, a expressão “o meu cachorro” aparece isolada do resto da frase, sendo substituída por um pronome.

No entanto, alguns autores não consideram esses casos como anacoluto, mas sim como um recurso estilístico para chamar a atenção. Segundo esses autores, o anacoluto é caracterizado quando uma frase é interrompida, deixando parte do enunciado em suspenso.

Exemplos de anacoluto:

  • Eu, acho que não estou passando muito bem.
  • Nora, lembro dela toda vez que faço esse pudim.
  • A vida, não sei como será sem saúde.
  • Adolescentes, como são difíceis de conversar.
  • Regina, ouvi dizer que está ocupada.
  • Miami, quantas lembranças boas eu guardei.

Exemplos de anacoluto na literatura:

  • “O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu.” (Rubem Braga)
  • “Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura.” (Manuel Bandeira)
  • “A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)
  • “Eu, porque sou mole, você fica abusando.” (Rubem Braga)
  • “E o desgraçado tremiam-lhe as pernas, sufocando-o a tosse.” (Almeida Garrett)
Anacoluto: o que é isso na língua portuguesa? (Foto: Unsplash).
Anacoluto: o que é isso na língua portuguesa? (Foto: Unsplash).

Figuras de sintaxe

Além do anacoluto, a língua portuguesa possui diversas figuras que alteram a estrutura das frases.

Elipse

Nesta figura de linguagem, o autor omite palavras na frase, mas elas podem ser deduzidas pelo contexto.

Exemplo:

  • Ficaram satisfeitos com o desenho dos arquitetos.

(O verbo indica que o termo omitido é “eles”.)

Zeugma

O zeugma é caracterizado pela omissão de um termo já mencionado anteriormente, evitando assim sua repetição.

Exemplo:

  • Ana foi ao teatro, eu (fui) ao cinema.

Hipérbato

No hipérbato, há uma alteração na ordem usual dos elementos da frase, como sujeito, verbo, complementos e adjuntos.

Exemplo:

  • Nasceu meu sobrinho. (Ordem direta: meu sobrinho nasceu)

Silepse

A silepse se divide em três tipos: gênero, número e pessoa. Na silepse de gênero, há discordância entre gêneros; na silepse de número, a discordância ocorre entre singular e plural; na silepse de pessoa, o sujeito está na terceira pessoa e o verbo na primeira pessoa do plural.

Exemplos:

  • Rio de Janeiro é suja. (silepse de gênero) • Um bando de políticos gritavam enlouquecidos. (silepse de número) • Todos os jogadores estamos confiantes para o torneio. (silepse de pessoa)

Assíndeto

No assíndeto, as orações são conectadas sem a utilização de conectivos.

Exemplo:

  • Eu tenho uma lista de matérias para estudar: português, matemática, física, história, geografia, biologia, espanhol e inglês; nunca mais terminarei de estudar.

Polissíndeto

O polissíndeto é a repetição da mesma conjunção coordenativa.

Exemplo:

  • “Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ índios e padres e bichas, negros e mulheres/E adolescentes fazem o carnaval.” (Música “Podre Poderes” de Caetano Veloso)

Anáfora

A anáfora é empregada para reforçar um elemento já mencionado no texto. Essa figura é comum em poemas e letras de músicas.

Pleonasmo

O pleonasmo pode ser literário ou vicioso, e é caracterizado por adicionar informações redundantes ao contexto.

Exemplos:

  • “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa) • “Morrerás morte vil na mão de um forte” (Gonçalves Dias) • “Quando com os olhos eu quis ver de perto” (Alberto de Oliveira) • “Chovia uma triste chuva de resignação” (Manuel Bandeira)
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