Anacoluto – para que serve essa figura de linguagem?
Veja como essa figura de linguagem altera a estrutura das frases e para que ela serve na comunicação escrita e falada.
O anacoluto é uma figura de linguagem caracterizada pela interrupção da estrutura da frase, o que resulta no isolamento de certas palavras ou expressões, fazendo com que elas percam sua função sintática. Vale destacar que essa figura é, comumente, observada na comunicação oral. Considerando que o anacoluto envolve a organização dos termos, é importante diferenciá-lo do hipérbato, que se refere apenas à reordenação das palavras ou expressões.
Anacoluto
O anacoluto é uma figura de linguagem que se refere a uma quebra na estrutura sintática da oração, isto é, na organização das palavras e suas funções num contexto. Esse recurso ocorre quando o início da oração apresenta um termo ou locução que deveria cumprir uma função sintática, mas é seguido por uma construção que não corresponde à expectativa lógica e gramatical, resultando no isolamento do termo inicial. Consequentemente, ele perde seu papel na oração, não se integrando ao contexto de maneira coesa.
O anacoluto, assim como o personagem isolado na imagem, se encontra desconectado da estrutura da oração.
Entenda o uso
Esse fenômeno é bastante comum na linguagem falada, pois, durante a comunicação, os falantes frequentemente iniciam uma ideia, mas mudam a direção da frase à medida que o raciocínio se desenvolve. Isso ocorre devido à dificuldade de a linguagem acompanhar a velocidade do pensamento. Em muitos casos, ao começar a falar, o indivíduo não antecipa que a estrutura inicial da frase não será suficiente para concluir o raciocínio de maneira lógica, levando-o a reorganizar a sentença no momento em que percebe essa inadequação.
Exemplo I
Esse seu jeito, sua forma de falar me incomoda!
Esse seu jeito, | sua forma de falar | me | incomoda! |
Sem função sintática | sujeito | objeto direto | verbo transitivo direto |
Observe que a expressão “Esse seu jeito” se encontra desconectada do restante da frase e foi separada por uma vírgula, pontuação que frequentemente indica o uso do anacoluto.
Embora o anacoluto seja uma característica da fala cotidiana, ele também pode ser encontrado em textos literários; no entanto, em produções que exigem maior aderência à norma padrão da língua, seu uso não é recomendado, pois é um recurso estilístico que pode comprometer a coesão textual.
Aqui estão alguns exemplos de anacoluto em obras literárias:
- “E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas, sufocando-lhe a tosse.” (Almeida Garrett)
- “O homem, chamar-lhe mito/ não passa de anacoluto.” (Carlos Drummond de Andrade)
- “Olha: eu, até de longe, com os olhos fechados, o senhor não me engana.” (Guimarães Rosa)
Anacoluto e hipérbato
Embora tanto o anacoluto quanto o hipérbato envolvam alterações na ordem convencional das palavras em uma oração, eles apresentam diferenças significativas em sua estrutura. O anacoluto, como vimos, ocorre quando há uma interrupção no eixo sintagmático, resultando em uma palavra ou expressão que perde sua classificação sintática. Já o hipérbato, embora também altere a disposição dos termos, preserva a categorização sintática dos elementos da frase. Em outras palavras, o hipérbato reconfigura a ordem das palavras sem comprometer a função de cada uma delas.
Na língua portuguesa, que segue predominantemente a ordem SVO (sujeito + verbo + objeto), o hipérbato pode inverter essa sequência para uma configuração OSV (objeto + verbo + sujeito), desde que tal mudança tenha uma finalidade expressiva clara. O recurso é comumente utilizado para dar ênfase ou criar efeitos estilísticos específicos.
Exemplos de hipérbato:
- Eu comi uma pizza. (sujeito + verbo + objeto)
- Uma pizza, eu comi. (objeto + sujeito + verbo)
- “Essas que ao vento vêm
Belas chuvas de junho!” (J. Cardoso)
Para entender mais sobre o hipérbato e como ele altera a estrutura das frases, leia o texto completo sobre essa figura de linguagem caracterizada pela inversão sintática.
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