Ariano Suassuna – o gênio por trás de “Auto da Compadecida”
Veja sua trajetória, legado e a genialidade por trás de suas histórias.
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Ariano Suassuna foi um renomado dramaturgo brasileiro, nascido em 16 de junho de 1927, na cidade de João Pessoa, Paraíba. Formou-se em Direito e Filosofia, além de ter atuado como professor na Universidade Federal de Pernambuco e ocupado o cargo de secretário de Cultura no estado pernambucano.
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Suassuna deixou um legado marcante ao exaltar a cultura popular nordestina e brasileira em suas obras. Entre seus escritos mais conhecidos estão “Romance d’A Pedra do Reino” e o “Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” e “Auto da Compadecida”, esta última uma peça teatral que lhe rendeu reconhecimento em todo o país. O autor faleceu em 23 de julho de 2014, na cidade do Recife.
Ariano Suassuna – o dramaturgo
Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, na cidade de João Pessoa, Paraíba. Seu pai, João Suassuna, foi governador do estado e faleceu tragicamente em 1930, durante a Revolução. Ainda criança, o futuro escritor mudou-se para Taperoá, onde iniciou seus estudos em 1934. Em 1942, sua família se estabeleceu no Recife, Pernambuco. Na capital pernambucana, estudou no Ginásio Pernambucano e, posteriormente, no Colégio Oswaldo Cruz. Em 1946, ingressou na Faculdade de Direito, e no ano seguinte escreveu sua primeira peça teatral, “Uma Mulher Vestida de Sol”, que lhe rendeu o Prêmio Nicolau Carlos Magno.
Ainda envolvido com o teatro, Suassuna trabalhou com apresentações itinerantes e, em 1950, foi premiado com o Martins Pena. Nesse mesmo ano, formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, mas precisou retornar a Taperoá por conta de problemas pulmonares.
Em 1952, voltou ao Recife e atuou como advogado até 1956, quando iniciou sua carreira como professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. Durante esse período, também dirigiu o setor cultural do Serviço Social da Indústria (SESI). Em 1957, casou-se com Zélia de Andrade Lima e, no ano seguinte, recebeu a medalha de ouro da Associação Paulista de Críticos Teatrais pela peça “Auto da Compadecida”.
Em 1960, concluiu sua graduação em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco. Sua trajetória acadêmica e cultural seguiu intensa: integrou o Conselho Federal de Cultura em 1967 e, no ano seguinte, o Conselho Estadual de Pernambuco. Em 1969, assumiu a direção do Departamento de Extensão Cultural da UFPE.
Nos anos seguintes, ocupou cargos públicos, sendo secretário de Educação e Cultura do Recife (1975-1978) e, mais tarde, secretário de Cultura de Pernambuco em 1995 e novamente em 2007. Sua contribuição para a cultura brasileira foi reconhecida com sua eleição para a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras em 1989, tomando posse no ano seguinte.
Além de sua atuação como escritor e gestor cultural, Suassuna criou, em 1970, o Movimento Armorial. A iniciativa buscava unir as expressões populares nordestinas às manifestações artísticas eruditas, valorizando a literatura, a música, a dança e o cinema de raízes culturais regionais. As obras de Ariano Suassuna são marcadas por características como o regionalismo, a valorização da cultura nordestina, o uso de uma linguagem acessível, a crítica social, além de uma combinação de humor e tragédia.
Principais obras do autor
Poesia
- Ode (1955);
- Dez Sonetos com Mote Alheio (1980);
- Sonetos de Albano Cervonegro (1985);
- Poemas (1999).
Romances
- A História do Amor de Fernando e Isaura (1956);
- Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971);
- História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana (2015, póstumo);
- Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores (2017, póstumo).
Ariano Suassuna faleceu em 23 de julho de 2014, no Recife, deixando um legado que perpetua a riqueza cultural do Nordeste e sua importância para a identidade brasileira.
Auto da Compadecida
A peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, pertence ao gênero dramático, sendo uma comédia que exalta a cultura popular nordestina. Os protagonistas, João Grilo e Chicó, formam uma dupla que conduz a narrativa com humor e astúcia. João Grilo é o cérebro da operação, sempre usando sua esperteza para se livrar das dificuldades, enquanto Chicó, com sua imaginação fértil, segue o parceiro com suas histórias mirabolantes.
A trama tem início com os dois tentando convencer o padre a abençoar o cachorro da esposa do padeiro. O padre reluta, mas eles inventam que o animal teria deixado um testamento beneficiando não apenas o padre, mas também o bispo e o sacristão. Para garantir a herança, seria necessário realizar a cerimônia de enterro em latim, o que acaba acontecendo.
Em meio a essas situações cômicas, os protagonistas ainda vendem um gato que, segundo eles, tem a habilidade de “descomer” dinheiro. No entanto, o tom leve da história dá lugar a uma atmosfera tensa quando o cangaceiro Severino invade o vilarejo. O cangaceiro assassina o padre, o bispo, o sacristão, o padeiro e sua esposa. João Grilo, mais uma vez, tenta enganá-lo ao afirmar que poderia ressuscitá-lo com uma gaita mágica. Severino, devoto de Padre Cícero, aceita o desafio e acaba morto, mas o comparsa dele percebe a farsa e tira a vida de João Grilo.
No desfecho, todos os mortos são julgados. O diabo tenta condená-los, mas Nossa Senhora, conhecida como a Compadecida, intercede por João Grilo, usando sua misericórdia para garantir um final feliz ao herói, que recebe uma nova chance de viver. Assim, a peça une humor, crítica social, religiosidade popular e elementos do folclore nordestino, consolidando-se como uma das obras mais importantes do teatro brasileiro.