Assonância – conheça a figura, seus usos e exemplos
Veja exemplos que mostram sua aplicação em textos literários, músicas e campanhas publicitárias.

Mas o que será a assonância? Você já percebeu como certas frases parecem ter uma musicalidade especial? Isso acontece, muitas vezes, graças à assonância — uma figura de linguagem que repete sons vocálicos para criar ritmo, harmonia ou até ênfase em um texto. Presente na poesia, na publicidade e até nas músicas que você escuta no dia a dia, a assonância é uma ferramenta poderosa na construção de frases marcantes. Hoje, você vai entender o que é essa figura, como utilizá-la de maneira eficiente e verá exemplos que ilustram sua força na comunicação.
Leia também: Hora literária – conheça “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry
Explorando a assonância
A assonância é uma figura de linguagem caracterizada pela repetição intencional de sons vocálicos, especialmente em sílabas tônicas, com o objetivo de criar um efeito sonoro singular no texto. Esse recurso estilístico contribui para a musicalidade, o ritmo e a expressividade da linguagem, sendo amplamente empregado na poesia, nas letras de músicas e, eventualmente, em textos em prosa. A repetição dos fonemas vocálicos proporciona uma experiência auditiva que intensifica o significado e a emoção transmitidos pelas palavras.
Exemplos de assonância
Veja, a seguir, alguns exemplos que ilustram o uso desse recurso:
“Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina”
(Cecília Meireles)
Nesse trecho do poema de Cecília Meireles, é possível identificar a repetição do fonema vocálico /i/, especialmente nas palavras “menina” e “pequenina”. Essa repetição cria uma sonoridade suave e ritmada, transmitindo uma sensação de leveza e inocência, alinhada ao tema infantil abordado no texto.
Outro exemplo interessante ocorre em uma música de Caetano Veloso:
“Sou um mulato nato
No sentido lato
Mulato democrático do litoral”
(Caetano Veloso, “Sugar Cane Fields Forever”)
Nesse trecho, a repetição do som vocálico /a/ reforça a cadência e a musicalidade dos versos, criando uma harmonia sonora marcante. Além disso, há também a repetição do fonema consonantal /t/, caracterizando uma outra figura de linguagem, a aliteração, que será abordada adiante.
A assonância, no entanto, não se restringe aos textos poéticos ou musicais. Ela também aparece em prosa, como no exemplo a seguir, retirado de um texto de Guimarães Rosa:
“Cassiano pensou, fumou, imaginou, trotou, cismou, e, já a duas léguas do arraial, na estrada do norte, os seus cálculos acharam conclusão: Acertei minha ideia: eu não podia, por lei de rei, admitir o extrato daquilo.”
Nesse fragmento, percebe-se a repetição do som vocálico /o/, conferindo uma cadência particular à narrativa e reforçando o fluxo de pensamentos da personagem.
Assonância e Aliteração: Qual a Diferença?
Embora ambas sejam figuras de repetição sonora, a diferença entre assonância e aliteração está no tipo de som repetido. Enquanto a assonância foca nos fonemas vocálicos, a aliteração se concentra na repetição de sons consonantais.
Veja o exemplo abaixo:
“A brisa do Brasil beija a balança.”
(Castro Alves, “Navio Negreiro”)
Nesse verso de Castro Alves, a repetição do fonema consonantal /b/ cria um efeito sonoro que reforça a ideia de movimento e leveza transmitida pela brisa. A aliteração, assim como a assonância, é uma ferramenta que enriquece a expressão e a intensidade de um texto. Portanto, compreender e utilizar a assonância adequadamente pode transformar a qualidade sonora de um texto, tornando-o mais envolvente e impactante, seja em versos rimados, canções inesquecíveis ou narrativas em prosa.
Exercite!
(Enem) Confira o texto abaixo.
Para o mano Caetano
O que fazer do ouro de tolo
Quando um doce bardo brada a toda brida,
Em velas pandas, suas esquisitas rimas?
Geografia de verdades, Guanabaras postiças
Saudades banguelas, tropicais preguiças?
A boca cheia de dentes
De um implacável sorriso
Morre a cada instante
Que devora a voz do morto, e com isso,
Ressuscita vampira, sem o menor aviso
[…] E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo
Tipo pra rimar com ouro de tolo?
Oh, Narciso Peixe Ornamental!
Tease me, tease me outra vez 1
Ou em banto baiano
Ou em português de Portugal
De Natal
[…]
Tease me (caçoe de mim, importune-me).
LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).
Na letra da canção acima, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra em especial, por exemplo, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:
a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)
b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)
c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)
d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12)
e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)
Resposta certa:
Alternativa “d”. Por quê? Lobão faz uso da assonância na repetição do fonema vocálico / o /, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido.