Assonância – conheça a figura, seus usos e exemplos

Veja exemplos que mostram sua aplicação em textos literários, músicas e campanhas publicitárias.

Mas o que será a assonância? Você já percebeu como certas frases parecem ter uma musicalidade especial? Isso acontece, muitas vezes, graças à assonância — uma figura de linguagem que repete sons vocálicos para criar ritmo, harmonia ou até ênfase em um texto. Presente na poesia, na publicidade e até nas músicas que você escuta no dia a dia, a assonância é uma ferramenta poderosa na construção de frases marcantes. Hoje, você vai entender o que é essa figura, como utilizá-la de maneira eficiente e verá exemplos que ilustram sua força na comunicação.

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Explorando a assonância

A assonância é uma figura de linguagem caracterizada pela repetição intencional de sons vocálicos, especialmente em sílabas tônicas, com o objetivo de criar um efeito sonoro singular no texto. Esse recurso estilístico contribui para a musicalidade, o ritmo e a expressividade da linguagem, sendo amplamente empregado na poesia, nas letras de músicas e, eventualmente, em textos em prosa. A repetição dos fonemas vocálicos proporciona uma experiência auditiva que intensifica o significado e a emoção transmitidos pelas palavras.

Exemplos de assonância

Veja, a seguir, alguns exemplos que ilustram o uso desse recurso:

“Esta menina

tão pequenina

quer ser bailarina”

(Cecília Meireles)

Nesse trecho do poema de Cecília Meireles, é possível identificar a repetição do fonema vocálico /i/, especialmente nas palavras “menina” e “pequenina”. Essa repetição cria uma sonoridade suave e ritmada, transmitindo uma sensação de leveza e inocência, alinhada ao tema infantil abordado no texto.

Outro exemplo interessante ocorre em uma música de Caetano Veloso:

“Sou um mulato nato

No sentido lato

Mulato democrático do litoral”

(Caetano Veloso, “Sugar Cane Fields Forever”)

Nesse trecho, a repetição do som vocálico /a/ reforça a cadência e a musicalidade dos versos, criando uma harmonia sonora marcante. Além disso, há também a repetição do fonema consonantal /t/, caracterizando uma outra figura de linguagem, a aliteração, que será abordada adiante.

A assonância, no entanto, não se restringe aos textos poéticos ou musicais. Ela também aparece em prosa, como no exemplo a seguir, retirado de um texto de Guimarães Rosa:

“Cassiano pensou, fumou, imaginou, trotou, cismou, e, já a duas léguas do arraial, na estrada do norte, os seus cálculos acharam conclusão: Acertei minha ideia: eu não podia, por lei de rei, admitir o extrato daquilo.”

Nesse fragmento, percebe-se a repetição do som vocálico /o/, conferindo uma cadência particular à narrativa e reforçando o fluxo de pensamentos da personagem.

Assonância e Aliteração: Qual a Diferença?

Embora ambas sejam figuras de repetição sonora, a diferença entre assonância e aliteração está no tipo de som repetido. Enquanto a assonância foca nos fonemas vocálicos, a aliteração se concentra na repetição de sons consonantais.

Veja o exemplo abaixo:

“A brisa do Brasil beija a balança.”

(Castro Alves, “Navio Negreiro”)

Nesse verso de Castro Alves, a repetição do fonema consonantal /b/ cria um efeito sonoro que reforça a ideia de movimento e leveza transmitida pela brisa. A aliteração, assim como a assonância, é uma ferramenta que enriquece a expressão e a intensidade de um texto. Portanto, compreender e utilizar a assonância adequadamente pode transformar a qualidade sonora de um texto, tornando-o mais envolvente e impactante, seja em versos rimados, canções inesquecíveis ou narrativas em prosa.

Exercite!

(Enem) Confira o texto abaixo.

Para o mano Caetano

O que fazer do ouro de tolo

Quando um doce bardo brada a toda brida,

Em velas pandas, suas esquisitas rimas?

Geografia de verdades, Guanabaras postiças

Saudades banguelas, tropicais preguiças?

A boca cheia de dentes

De um implacável sorriso

Morre a cada instante

Que devora a voz do morto, e com isso,

Ressuscita vampira, sem o menor aviso

[…] E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo

Tipo pra rimar com ouro de tolo?

Oh, Narciso Peixe Ornamental!

Tease me, tease me outra vez 1

Ou em banto baiano

Ou em português de Portugal

De Natal

[…]

Tease me (caçoe de mim, importune-me).

LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).

Na letra da canção acima, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra em especial, por exemplo, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:

a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)

b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)

c) “Que devora a voz do morto” (v. 9)

d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12)

e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)

Resposta certa:

Alternativa “d”. Por quê? Lobão faz uso da assonância na repetição do fonema vocálico / o /, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido.

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