Os autores do Simbolismo brasileiro
Veja como suas obras transformaram a literatura nacional com lirismo, espiritualidade e sensibilidade estética.

O Simbolismo brasileiro, surgido oficialmente em 1893 com a publicação da obra Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa, representou uma profunda ruptura com o Realismo e o Naturalismo vigentes na literatura nacional. Influenciado por correntes europeias, especialmente pelo movimento simbolista francês liderado por Baudelaire, Verlaine e Mallarmé, o Simbolismo no Brasil desenvolveu uma linguagem marcada pela musicalidade, subjetividade, espiritualidade e pelo uso frequente de símbolos para expressar emoções e estados da alma.
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Neste contexto, autores como Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e outros nomes menos conhecidos, mas igualmente relevantes, contribuíram para moldar uma estética literária rica em sensações, misticismo e lirismo. Conhecer esses escritores é mergulhar em uma fase intensa e poética da literatura brasileira.
Os autores do Simbolismo
O Simbolismo brasileiro foi um movimento literário que floresceu no final do século XIX, tendo como marco inicial a publicação das obras Missal (prosa poética) e Broquéis (poesia), ambas de João da Cruz e Souza, em 1893. Influenciado pelas correntes simbolistas da Europa — especialmente pela poesia de Charles Baudelaire, autor de As Flores do Mal —, esse movimento representou uma ruptura com os ideais objetivos e racionalistas do Realismo e do Parnasianismo, em favor de uma literatura mais introspectiva, espiritualizada e voltada à expressão subjetiva da alma.
Enquanto o Realismo buscava retratar fielmente a realidade social e o Parnasianismo valorizava a perfeição formal e a impessoalidade, o Simbolismo se destacou pelo mergulho no inconsciente, pela musicalidade dos versos e por um lirismo profundamente sensorial. Seus autores procuravam acessar o invisível por meio de símbolos, metáforas e sonoridades, evocando emoções, estados espirituais e imagens oníricas.
No Brasil, o movimento encontrou resistência, em parte por sua proposta contra-hegemônica frente ao prestígio parnasiano e também por seu pioneiro, Cruz e Souza, ser um homem negro e filho de ex-escravizados — algo que o tornava alvo de preconceito em uma sociedade ainda marcada pelo racismo. Apesar disso, alguns escritores se destacaram por sua expressiva produção literária, consolidando-se como os grandes nomes do Simbolismo no país.
Características principais do Simbolismo brasileiro
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Enfoque na subjetividade e na introspecção;
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Exaltação do misticismo, da espiritualidade e da religiosidade;
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Forte musicalidade nos versos, com uso frequente de aliterações e sinestesias;
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Presença do erotismo, do mistério e de temas ligados à morte;
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Rejeição ao materialismo e ao cientificismo do século XIX;
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Exploração do inconsciente, aproximando-se de ideias freudianas;
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Imagens simbólicas que revelam estados psíquicos ou espirituais;
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Temática onírica e transcendental;
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Individualismo e busca pela essência da existência.
Principais autores
João da Cruz e Souza (1861–1898)
Nascido em Desterro (atual Florianópolis), Cruz e Souza foi o grande precursor do Simbolismo no Brasil. Filho de pais libertos e vítima constante de preconceito racial, construiu uma poética marcada por dor, êxtase e espiritualidade. Publicou em vida Broquéis e Missal, além de Tropos e Fantasias. Após sua morte, outros títulos póstumos foram organizados, como Últimos Sonetos e Faróis.
Sua obra é marcada por uma linguagem rebuscada, uso intenso de imagens brancas (símbolo de pureza, mas também de obsessão estética), e temas como sofrimento humano, transcendência, erotismo, satanismo e musicalidade.
Trecho do poema “Lésbia” (Broquéis):
Cróton selvagem, tinhorão lascivo,
Planta mortal, carnívora, sangrenta,
Da tua carne báquica rebenta
A vermelha explosão de um sangue vivo…
Alphonsus de Guimaraens (1870–1921)
Natural de Ouro Preto, Minas Gerais, Afonso Henrique da Costa Guimarães adotou o pseudônimo Alphonsus de Guimaraens e destacou-se por uma poesia melancólica, espiritualizada e marcada por forte religiosidade católica. Foi amigo de Cruz e Souza, com quem compartilhou ideais e afinidades literárias.
Dentre suas obras, destacam-se Dona Mystica, Kiriale, Câmara Ardente e Septenário das Dores de Nossa Senhora. Sua poesia exalta a mulher idealizada, frequentemente associada à Virgem Maria, e apresenta temas como morte, mistério e a busca pela elevação espiritual.
Trecho do soneto “Dona Mystica”:
Piedosa: o olhar nunca baixou à terra
Fitava o céu, porque era pura e santa …
[…]
Foi-lhe a vida um eterno mês-de-maio.
Augusto dos Anjos (1884–1914)
Poeta paraibano, Augusto dos Anjos é um caso à parte na literatura brasileira. Embora tenha surgido na esteira do Simbolismo, seu estilo único o aproxima também do Pré-Modernismo e até do cientificismo. Sua obra traz um vocabulário inusitado, com termos científicos, e uma temática obsessiva sobre a morte, o sofrimento, o corpo em decomposição e o niilismo.
Publicou apenas um livro em vida: Eu, composto por 58 poemas. Posteriormente, o livro foi ampliado e reeditado como Eu e Outras Poesias.
Trecho do poema “Versos Íntimos”:
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Emiliano David Perneta (1866–1921)
Paranaense de Curitiba, Emiliano Perneta foi um dos nomes relevantes do Simbolismo fora do eixo Rio–Minas. Sua poesia, marcada por musicalidade, lirismo e temas etéreos, buscava expressar a sensibilidade artística e espiritual, mantendo forte ligação com a estética simbolista europeia.
Durante sua vida, publicou obras como Músicas, A Vovozinha e Ilusão. Após sua morte, Setembro foi publicado como coletânea póstuma. Perneta foi também importante incentivador das letras paranaenses, contribuindo para a consolidação cultural da região.
Em resumo
O Simbolismo brasileiro, embora tenha enfrentado resistência e marginalização em seu tempo, revelou autores cujas obras continuam a ecoar nas letras nacionais pela riqueza estética, pela musicalidade e pela intensidade emocional. Cruz e Souza, Alphonsus de Guimaraens, Augusto dos Anjos e Emiliano Perneta são nomes fundamentais para entender esse movimento que fez da poesia um portal para o invisível, o sagrado e o inconsciente humano.
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Criando filhos leitores – 4 dicas para incentivar a leitura”, já que o hábito da leitura estimula a criatividade, melhora o desempenho escolar e fortalece o vínculo familiar.