O que são as famosas cantigas trovadorescas? Entenda tudo

Conheça suas características, tipos e importância cultural e histórica.

As cantigas trovadorescas, uma forma de poesia medieval, eram tradicionalmente apresentadas ao som de instrumentos musicais, adicionando uma dimensão performática às palavras recitadas. Entre os instrumentos mais frequentemente utilizados, destacavam-se a viola, a lira, a harpa, a flauta, o alaúde e o pandeiro, que complementavam o tom e o ritmo das cantigas.

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Essas composições poéticas foram reunidas em coleções chamadas de cancioneiros, que são livros que agregam as obras de vários trovadores de diferentes épocas. Os cancioneiros servem como registros históricos e literários, preservando a riqueza cultural das cantigas e permitindo que o legado dos trovadores seja transmitido ao longo do tempo.

Cantigas trovadorescas

As cantigas trovadorescas são classificadas em duas categorias principais: cantigas líricas e cantigas satíricas. Dentro das cantigas líricas, encontramos as cantigas de amor e as cantigas de amigo. Por outro lado, as cantigas satíricas se dividem em cantigas de escárnio e cantigas de maldizer. Cada tipo de cantiga apresenta temas, estilos de linguagem e abordagens distintas. Vamos explorar cada uma delas e seus exemplos:

Cantigas de amor

As cantigas trovadorescas de amor concentram-se nas qualidades da mulher amada, com o poeta assumindo uma postura de submissão em relação a ela. Nessa dinâmica, a mulher é vista como a figura dominante, enquanto o poeta se coloca como um vassalo.

O tema central dessas cantigas é o amor não correspondido, frequentemente devido a razões como o fato de a mulher já estar casada, pertencer a uma classe social diferente ou outras circunstâncias que impedem a realização do romance. Essas cantigas são escritas em primeira pessoa, e o eu-lírico demonstra uma completa submissão à amada. Entre os trovadores que mais se destacaram nesse estilo está D. Dinis, que produziu 138 textos desse gênero.

Veja um exemplo:

“A dona que eu amo e tenho por Senhor
amostra-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.
A que tenh’eu por lume d’estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte […]”.

 

O que são as famosas cantigas trovadorescas? Entenda tudo (Foto: Unsplash).
O que são as famosas cantigas trovadorescas? Entenda tudo (Foto: Unsplash).

Cantigas de amigo

Nas cantigas de amigo, o tema central é o lamento de uma mulher pela ausência de seu amado. Embora a voz poética seja feminina, são os trovadores homens que escrevem essas composições. Eles tentam captar e transmitir de forma fiel os sentimentos e pensamentos femininos, colocando-se no lugar das mulheres para expressar suas emoções.

Essas cantigas geralmente são escritas em primeira pessoa e, por vezes, apresentam-se como diálogos. A protagonista das cantigas de amigo costuma experimentar uma profunda angústia pela falta de seu amado, sentimento que frequentemente compartilha com membros próximos da família, como a mãe, o irmão ou um amigo. A natureza também desempenha um papel significativo nessas cantigas, sendo um elemento recorrente na poesia trovadoresca de amor. Há frequentes referências a elementos naturais como pássaros, rios, flores e a luz, criando uma atmosfera que reflete o estado emocional da personagem feminina.

A seguir, apresentamos um exemplo de uma cantiga de amigo:

“Ai flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo?
ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi a jurado?
ai, Deus, e u é?” […]”.

 

Cantigas de escárnio

As cantigas de escárnio são composições poéticas que criticam alguém de maneira indireta e satírica. Nelas, a identidade da pessoa criticada é sugerida, mas nunca revelada explicitamente. Esse tipo de cantiga frequentemente utiliza figuras de linguagem, como a ironia e o duplo sentido, para transmitir suas críticas de forma velada.

Veja a seguir um trecho de uma cantiga de escárnio escrita por Pero da Ponte:

“De um certo cavaleiro sei eu, por caridade,
que nos ajudaria a matar tal saudade.
Deixai-me que vos diga em nome da verdade:
Não é rei nem é conde mas outra potestade,
que não direi, que direi, que não direi…”

 

Cantiga de maldizer

Nas cantigas trovadorescas de maldizer, os trovadores empregavam uma linguagem crua, direta e até vulgar, com o intuito de satirizar ou criticar alguém de maneira explícita. Nessas composições, o alvo da sátira geralmente é mencionado de forma clara, sem esconder sua identidade.

Veja, por exemplo, um trecho de uma cantiga de maldizer composta por Dom Afonso X, o Sábio:

“Trovas não fazeis como provençal
mas como Bernaldo o de Bonaval.
O vosso trovar não é natural.
Ai de vós, como ele e o demo aprendestes.
Em trovardes mal vejo eu o sinal
das loucas ideias em que empreendestes.”
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