Alô, pronomes – a colocação pronominal entre verbos
Próclise, ênclise ou mesóclise? Saiba quando usar cada uma e evite erros comuns!

A colocação pronominal é um dos temas mais desafiadores da gramática da língua portuguesa. Mesoclise, próclise, ênclise – essas palavras podem parecer complexas à primeira vista, mas são fundamentais para a construção de frases gramaticalmente corretas e naturais. Hoje, vamos explorar as regras e nuances que determinam a posição dos pronomes oblíquos átonos em relação aos verbos, desmistificando esse aspecto essencial da nossa língua.
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A colocação pronominal
A colocação pronominal é um dos aspectos da gramática da língua portuguesa que mais geram dúvidas, especialmente quando o pronome surge entre dois verbos. Será que existe uma única regra a ser seguida? Ou há variações aceitáveis dependendo da norma adotada?
Essa incerteza surge porque nossa escrita sofre forte influência da oralidade. A forma como falamos muitas vezes se reflete na forma como escrevemos, e, nesse processo, é comum que determinadas construções gramaticais passem a ser questionadas. No Brasil, frases como “vou te dizer”, “quero te avisar” e “estou te chamando” são extremamente naturais e amplamente utilizadas; no entanto, no português de Portugal, esse tipo de estrutura é rejeitado, pois, por lá, a gramática tradicional exige o uso do hífen, resultando em construções como “vou-te contar”, “quero-te avisar” e “estou-te chamando”.
Diante dessa diferença, surge um dilema: devemos seguir a norma culta de Portugal ou aceitar as particularidades do português brasileiro? Será que a ausência do hífen representa um erro gramatical?
Embora alguns defensores mais rigorosos da norma-padrão argumentem que a tradição lusitana deve ser preservada, muitos linguistas brasileiros defendem que a colocação pronominal deve seguir a inteligibilidade e a fluidez da língua. Ou seja, se a estrutura da frase faz sentido e é compreensível para os falantes nativos, a colocação do pronome pode variar sem prejuízo gramatical. Afinal, na prática, ninguém consulta um manual de regras antes de construir uma frase – os pronomes se encaixam naturalmente na fala.
1. O que é colocação pronominal e por que ela importa?
A colocação pronominal refere-se à posição dos pronomes oblíquos átonos em relação ao verbo dentro de uma oração. Embora possa parecer um detalhe técnico da gramática, essa estrutura é essencial para a clareza e a correção da escrita formal.
No português, os pronomes oblíquos átonos (como me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes) não aparecem soltos na frase; eles sempre acompanham um verbo. Porém, sua posição varia de acordo com diferentes fatores, como a presença de palavras atrativas, a formalidade do discurso e até mesmo a norma linguística seguida – seja a do Brasil ou a de Portugal.
Dominar as regras da colocação pronominal é fundamental para quem deseja escrever com correção, seja em textos acadêmicos, redações de concursos ou provas de proficiência em língua portuguesa. Além disso, compreender essas regras evita ambiguidades e confusões na interpretação de uma frase.
2. As três formas de colocação pronominal
A posição do pronome oblíquo em relação ao verbo pode ocorrer de três maneiras diferentes: próclise, ênclise e mesóclise.
Próclise (pronome antes do verbo)
A próclise ocorre quando o pronome aparece antes do verbo. Esse é o caso mais comum na fala cotidiana e na escrita formal quando há palavras que exigem essa colocação, como pronomes relativos, advérbios e palavras negativas.
Exemplos:
- Não me diga que você esqueceu! (palavra negativa “não” atrai o pronome)
- Sempre me perguntam sobre esse assunto. (advérbio “sempre” atrai o pronome)
- Quem me avisou sobre a mudança? (pronome relativo “quem” atrai o pronome)
Ênclise (pronome depois do verbo)
A ênclise ocorre quando o pronome aparece depois do verbo. Esse caso é mais comum no português escrito e formal, especialmente quando o verbo está no início da oração e não há palavras que justifiquem a próclise.
Exemplos:
- Diga-me a verdade.
- Contaram-me tudo sobre o evento.
- Escreveu-se um novo capítulo da história.
Mesóclise (pronome no meio do verbo)
A mesóclise ocorre quando o verbo está no futuro do presente (falará, dirá, estudará) ou no futuro do pretérito (falaria, diria, estudaria) e não há palavras que exijam próclise. Como o português brasileiro tende a evitar essa estrutura na fala, ela soa mais rebuscada e é mais comum em contextos formais.
Exemplos:
- Dir-lhe-ei toda a verdade.
- Contar-se-á essa história no futuro.
- Pedir-lhe-ia um favor, se fosse necessário.
3. A colocação pronominal entre dois verbos
Um dos aspectos mais controversos da colocação pronominal surge quando há dois verbos na oração, como em locuções verbais (vou dizer, quero avisar, estou chamando). Nesse contexto, surge a dúvida: o pronome deve ficar antes do verbo auxiliar, depois do verbo principal ou entre os dois?
No português brasileiro, a estrutura mais comum e natural na oralidade é colocar o pronome entre os dois verbos:
Exemplos:
- Vou te contar uma novidade.
- Quero te avisar sobre o evento.
- Estou te chamando para a reunião.
No português europeu, no entanto, a norma culta exige que o pronome se una ao verbo auxiliar com o uso do hífen:
Exemplos:
- Vou-te contar uma novidade.
- Quero-te avisar sobre o evento.
- Estou-te chamando para a reunião.
Essa diferença faz com que alguns gramáticos mais conservadores no Brasil também defendam o uso do hífen nessas construções. No entanto, linguistas modernos argumentam que o uso do pronome solto entre os verbos não compromete a inteligibilidade da frase e, por isso, deve ser aceito.
Quando a oração está na forma negativa ou contém palavras atrativas, o pronome segue a regra da próclise:
Exemplos:
- Não te vou contar nada.
- Sempre te quero ajudar.
Já em textos mais formais ou para evitar possíveis correções em provas e concursos, é recomendável seguir a norma tradicional e usar o hífen. No entanto, na prática, a construção brasileira sem o hífen é amplamente utilizada e aceita na comunicação do dia a dia.