Como analisar um poema
Uma das maiores dificuldades na hora ler poemas exigidos em um concurso é analisar o conteúdo deles, e de forma objetiva e adequada ao que normalmente é pedido.
Isso porque os concursos pecam em uma parte: exigem objetividade daquilo que não é objetivo. O poema não é algo fechado em só uma resposta.
Claro que um poema têm uma gama de possibilidades restritas. O Soneto da Felicidade não é um poema sobre a crise política na Primeira Era Vargas, por exemplo, da mesma forma que A rosa de Hiroshima não é sobre um casal apaixonado.
Assim, diante desse problema, como analisar um poema, em suas múltiplas possibilidades de leitura? Como identificar, a resposta exigida pelo concurso, mesmo se você não concordar com ela? Para isso existem algumas técnicas.
1. Contexto do autor
Saber a biografia de Carlos Drummond de Andrade não é essencial para ler as poesias dele, por exemplo. A vida do autor de poesias não necessariamente ajuda você a entender a obra. Podemos pensar, por exemplo, no caso de Wisława Szymborska.
Muitos de seus leitores, que compartilham seus poemas no instagram e afins, não sabem que ela foi, onde nasceu, como viveu (muitos, como eu, nem mesmo sabem falar o nome dela, direito). Isso não nos impede de entendermos a força de seus textos.
Porém, provas trazem aquele objetivo cruel: uma resposta fechada. Assim, pesquisar a vida de um autor, pode ajudar você a entender o texto.
O texto de poesia estará inserido no seu contexto histórico (relações políticas, culturais sociais), mesmo se for um texto do século XX sobre a Idade Média (por exemplo, Ítalo Calvino).
2. Leia em voz alta
Ler um poema em voz alta pode te dar muitas pistas sobre a mensagem dele. Poemas mais antigos costumam usar de pontuação, e ler respeitando ela pode te surpreender: você descobre rimas, não no fim do verso, mas no meio.
E, ter uma rima no meio pode mudar o significado de um verso. Rimas, em poesia, além de prezarem pela musicalidade, prezam pela associação de sentidos.
Lembre quando Caetano Veloso fala “Pra que rimar amor e dor?”. Mais do que um som, é uma associação de ideias (no caso, ele questiona porque associamos as noções de amor e de dor).
Já em “Vou-me embora pra Pasárgada”, por exemplo, Manuel Bandeira rima “Rei” e “escolherei”: além da sonoridade, há uma exaltação do seu poder de decisão.
3. Associe a poesia à coisas do seu dia-a-dia
A poesia não precisa ser apenas aquilo que ela foi em sua época. Se fosse assim, não seria poesia, seria documento histórico. Então, você pode associar uma poesia antiga, a algo do agora.
Por que não relacionar o “contentamento descontente” do Camões, por exemplo, aos emojis? Relacionar a Paulicéia Desvairada do Mário de Andrade aos Bailes funk de Paraisópolis?
Traga as imagens gerais do poema (amor, alegria, revolta) ao seu dia-a-dia. Não se prenda em só um significado, em cada palavra.
A poesia diz coisas sem propriamente dizer.