Diversidade no Brasil: como enfrentar o preconceito linguístico
Descubra as raízes e manifestações do preconceito linguístico no Brasil.
O preconceito linguístico é uma forma de discriminação baseada na maneira como as pessoas falam ou escrevem no dia a dia. Ele se manifesta quando uma determinada variedade é considerada superior a outras, resultando em estigmatização, marginalização e até mesmo exclusão social daqueles que falam ou escrevem de maneira diferente. Este fenômeno desagradável pode ocorrer em qualquer lugar do mundo e em diferentes contextos.
Uma das formas mais comuns de preconceito linguístico é aquela que valoriza apenas uma variedade padrão da língua, muitas vezes associada às normas cultas ou às elites educacionais.
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O que é preconceito linguístico?
O preconceito linguístico, conforme explicado e muito discutido pelo professor, filólogo e linguista Marcos Bagno, refere-se à atribuição de valor negativo, como a reprovação, repulsa e até desrespeito, às variedades linguísticas que são vistas como de menor prestígio social. Geralmente, esse tipo de julgamento é direcionado às formas mais informais e associadas às classes sociais menos privilegiadas, que frequentemente têm acesso limitado à educação formal ou enfrentam deficiências no sistema educacional, portanto, não dominam a norma culta.
O preconceito linguístico no Brasil
No Brasil, isso é um fenômeno bastante presente e complexo, pois se manifesta de diversas maneiras ao longo da história e em diferentes regiões do país. Ele está intrinsecamente ligado às desigualdades sociais, culturais e educacionais existentes na sociedade brasileira.
A diversidade linguística do Brasil é imensa, refletindo a rica mistura de culturas e influências históricas do país; no entanto, essa diversidade muitas vezes é vista de forma negativa, sendo alvo de estereótipos e discriminação. Por exemplo: sotaques regionais podem ser ridicularizados ou associados a estereótipos negativos, enquanto formas de fala características de grupos marginalizados, como os falantes de línguas indígenas ou afrodescendentes, podem ser consideradas inferiores.
As consequências
Este tipo de preconceito pode ter diversas consequências negativas, pois pode levar à exclusão de pessoas de oportunidades educacionais, profissionais e sociais simplesmente por não se adequarem a um determinado padrão linguístico. Além disso, pode gerar sentimentos de inferioridade e baixa autoestima naqueles que são alvos desse tipo de discriminação.
É importante ressaltar que todas as formas de expressão linguística são igualmente válidas e carregam consigo uma riqueza cultural e identitária. Não existe uma variedade linguística superior ou inferior, apenas diferentes formas de comunicação que refletem a diversidade humana. Reconhecer e valorizar essa diversidade é essencial para combater o preconceito e promover uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
Exemplos
Veja formas de preconceito linguístico encontrados no país até hoje.
Preconceito regional
Uma das principais causas do preconceito no Brasil reside na disparidade socioeconômica entre diferentes regiões do país. É “normal” ver casos em que pessoas residentes em regiões mais afluentes manifestam aversão ao sotaque ou aos regionalismos característicos de áreas menos privilegiadas. Essa dinâmica reflete não apenas a desigualdade de oportunidades, mas também a percepção negativa associada a certas formas de expressão linguística, alimentando os estereótipos e reforçando divisões sociais.
Preconceito cultural
Ocorre quando um grupo étnico, religioso, nacional ou cultural é tratado de forma inferior e discriminatória devido às suas práticas, crenças, costumes ou identidade cultural. Essa forma de preconceito pode se manifestar de diversas maneiras e em diferentes contextos, como na educação, no local de trabalho, na mídia e na vida cotidiana.
Preconceito socioeconômico
Entre todas as causas, esta pode ser considerada a mais comum. Isso se deve ao fato de que membros das camadas socioeconômicas menos favorecidas, frequentemente com acesso limitado à educação e à cultura, por exemplo, tendem a utilizar predominantemente as variedades linguísticas consideradas informais e de menor prestígio.
Como resultado, essas pessoas são frequentemente excluídas dos melhores empregos e oportunidades no mercado de trabalho, contribuindo para o fenômeno conhecido como a ciclicidade da pobreza, que é quando o pai ou a mão não consegue oferecer melhores condições de vida e oportunidades aos filhos e, assim, perpetuam a desigualdade ao longo das gerações (se nada mudar).
Marcos Bagno na luta
Bagno argumenta que todas as formas de expressão linguística são válidas e merecem respeito, e que o preconceito linguístico tem profundas implicações sociais, econômicas e educacionais, contribuindo para a perpetuação da desigualdade e exclusão. Isso tem que parar.