Diversidade no Brasil: como enfrentar o preconceito linguístico

Descubra as raízes e manifestações do preconceito linguístico no Brasil.

O preconceito linguístico é uma forma de discriminação baseada na maneira como as pessoas falam ou escrevem no dia a dia. Ele se manifesta quando uma determinada variedade é considerada superior a outras, resultando em estigmatização, marginalização e até mesmo exclusão social daqueles que falam ou escrevem de maneira diferente. Este fenômeno desagradável pode ocorrer em qualquer lugar do mundo e em diferentes contextos.

Uma das formas mais comuns de preconceito linguístico é aquela que valoriza apenas uma variedade padrão da língua, muitas vezes associada às normas cultas ou às elites educacionais.

Veja mais: Puro suco do Brasil: veja 4 gírias de CADA região do país

O que é preconceito linguístico?

O preconceito linguístico, conforme explicado e muito discutido pelo professor, filólogo e linguista Marcos Bagno, refere-se à atribuição de valor negativo, como a reprovação, repulsa e até desrespeito, às variedades linguísticas que são vistas como de menor prestígio social. Geralmente, esse tipo de julgamento é direcionado às formas mais informais e associadas às classes sociais menos privilegiadas, que frequentemente têm acesso limitado à educação formal ou enfrentam deficiências no sistema educacional, portanto, não dominam a norma culta.

O preconceito linguístico no Brasil

No Brasil, isso é um fenômeno bastante presente e complexo, pois se manifesta de diversas maneiras ao longo da história e em diferentes regiões do país. Ele está intrinsecamente ligado às desigualdades sociais, culturais e educacionais existentes na sociedade brasileira.

A diversidade linguística do Brasil é imensa, refletindo a rica mistura de culturas e influências históricas do país; no entanto, essa diversidade muitas vezes é vista de forma negativa, sendo alvo de estereótipos e discriminação. Por exemplo: sotaques regionais podem ser ridicularizados ou associados a estereótipos negativos, enquanto formas de fala características de grupos marginalizados, como os falantes de línguas indígenas ou afrodescendentes, podem ser consideradas inferiores.

Diversidade no Brasil: como enfrentar o preconceito linguístico (Foto: Unsplash).
Diversidade no Brasil: como enfrentar o preconceito linguístico (Foto: Unsplash).

As consequências

Este tipo de preconceito pode ter diversas consequências negativas, pois pode levar à exclusão de pessoas de oportunidades educacionais, profissionais e sociais simplesmente por não se adequarem a um determinado padrão linguístico. Além disso, pode gerar sentimentos de inferioridade e baixa autoestima naqueles que são alvos desse tipo de discriminação.

É importante ressaltar que todas as formas de expressão linguística são igualmente válidas e carregam consigo uma riqueza cultural e identitária. Não existe uma variedade linguística superior ou inferior, apenas diferentes formas de comunicação que refletem a diversidade humana. Reconhecer e valorizar essa diversidade é essencial para combater o preconceito e promover uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

Exemplos

Veja formas de preconceito linguístico encontrados no país até hoje.

Preconceito regional

Uma das principais causas do preconceito no Brasil reside na disparidade socioeconômica entre diferentes regiões do país. É “normal” ver casos em que pessoas residentes em regiões mais afluentes manifestam aversão ao sotaque ou aos regionalismos característicos de áreas menos privilegiadas. Essa dinâmica reflete não apenas a desigualdade de oportunidades, mas também a percepção negativa associada a certas formas de expressão linguística, alimentando os estereótipos e reforçando divisões sociais.

Preconceito cultural

Ocorre quando um grupo étnico, religioso, nacional ou cultural é tratado de forma inferior e discriminatória devido às suas práticas, crenças, costumes ou identidade cultural. Essa forma de preconceito pode se manifestar de diversas maneiras e em diferentes contextos, como na educação, no local de trabalho, na mídia e na vida cotidiana.

Preconceito socioeconômico

Entre todas as causas, esta pode ser considerada a mais comum. Isso se deve ao fato de que membros das camadas socioeconômicas menos favorecidas, frequentemente com acesso limitado à educação e à cultura, por exemplo, tendem a utilizar predominantemente as variedades linguísticas consideradas informais e de menor prestígio.

Como resultado, essas pessoas são frequentemente excluídas dos melhores empregos e oportunidades no mercado de trabalho, contribuindo para o fenômeno conhecido como a ciclicidade da pobreza, que é quando o pai ou a mão não consegue oferecer melhores condições de vida e oportunidades aos filhos e, assim, perpetuam a desigualdade ao longo das gerações (se nada mudar).

Marcos Bagno na luta

Bagno argumenta que todas as formas de expressão linguística são válidas e merecem respeito, e que o preconceito linguístico tem profundas implicações sociais, econômicas e educacionais, contribuindo para a perpetuação da desigualdade e exclusão. Isso tem que parar.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.