A crase pode ser facultativa: quando posso dispensá-la?

Veja em quais situações você pode optar por usá-la ou não, sem comprometer a correção do seu texto.

A crase é um dos temas que mais geram dúvidas na língua portuguesa. Embora, na maioria dos casos, seu uso seja obrigatório, há situações específicas em que ela pode ser facultativa, ou seja, você pode optar por usar ou não o acento grave sem cometer erro. Mas quando exatamente isso acontece? Vamos esclarecer de forma simples e prática em quais contextos a crase pode ser dispensada e como fazer a escolha mais adequada para cada situação.

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A crase pode ser facultativa?

Muitas pessoas ficam em dúvida sobre quando a crase é realmente necessária e quando seu uso é apenas opcional. A chamada “crase facultativa” indica justamente essa possibilidade de escolha: o emprego do acento grave (`) não é obrigatório e pode ser feito de acordo com a preferência do escritor, sem que isso caracterize um erro.
Em português, a crase acontece quando duas vogais idênticas se fundem, sendo indicada pelo acento grave. Normalmente, essa fusão ocorre entre a preposição “a” e o artigo definido feminino “a” (a + a = à). Essa é a regra geral. Mas como saber quando o uso é opcional? Vamos entender melhor!

Quando a crase é facultativa?

O uso da crase se torna facultativo nos casos em que a presença do artigo definido “a” ou da preposição “a” também é opcional. Se ambos estiverem presentes na frase, a crase é obrigatória; se apenas a preposição ou o artigo estiver presente, a crase deixa de ser necessária, pois não haverá contração.

Como reconhecer a crase facultativa?

Existem três situações principais em que a crase é opcional. A primeira delas é antes de nomes próprios femininos. Nessas circunstâncias, o uso do artigo definido “a” pode ser dispensado, tornando a presença da crase uma escolha.

Observe os exemplos:

  • “Obedeça a Joana” ou “Obedeça à Joana.”

  • “Peça isso a tia Márcia” ou “Peça isso à tia Márcia.”

  • “Entreguei o celular a Bruna” ou “Entreguei o celular à Bruna.”

Analisando essas frases, percebemos que o artigo pode ou não acompanhar o nome próprio feminino. Veja:

  • “Camila tem o que você quer” ou “A Camila tem o que você quer.”

  • “Lana pegou o celular” ou “A Lana pegou o celular.”

Em ambos os casos, o uso do artigo definido “a” antes dos nomes é opcional, o que torna o emprego da crase também opcional:

  • “Marta está atrasada de novo” ou “A Marta está atrasada de novo.”

  • “Ana Paula veio da Bahia” ou “A Ana Paula veio da Bahia.”

Se o artigo for utilizado junto à preposição, ocorre a contração, exigindo o uso da crase. Caso contrário, apenas a preposição estará presente, e o acento grave será dispensável.

A crase pode ser facultativa: quando posso dispensá-la? (Foto: Unsplash).
A crase pode ser facultativa: quando posso dispensá-la? (Foto: Unsplash).

Uma maneira prática de identificar a necessidade da crase é substituir o nome feminino por um nome masculino:

  • Com preposição e artigo (contração):

    • “Pedi um livro ao Julio.”

    • “Pedi um livro à Tâmara.”

  • Com apenas a preposição:

    • “Vá na cozinha e peça água a Pedro.”

    • “Vá na cozinha e peça água a Renata.”

Pronomes possessivos femininos

Outro caso de crase facultativa ocorre antes dos pronomes possessivos femininos: minha(s), tua(s), sua(s), nossa(s), vossa(s). Assim como acontece com nomes próprios femininos, o uso do artigo “a” antes desses pronomes pode ser opcional. Exemplos:

  • “Querem assistir a nossa entrevista?” ou “Querem assistir à nossa entrevista?”

  • “Esse celular pertence a minha mãe” ou “Esse celular pertence à minha mãe.”

  • “Vamos a minha cozinha” ou “Vamos à minha cozinha.”

Analogamente:

  • “Minha mãe é dona desse celular” ou “A minha mãe é dona desse celular.”

  • “Nossa entrevista foi assistida por muitas pessoas” ou “A nossa entrevista foi assistida por muitas pessoas.”

  • “Minha cozinha está de pernas para o ar” ou “A minha cozinha está de pernas para o ar.”

Se surgir dúvida, aplique a mesma substituição para confirmar:

  • “Gostaria que você desse o cargo ao meu filho” ou “Gostaria que você desse o cargo à minha filha.”

  • “Gostaria que você desse o cargo a meu filho” ou “Gostaria que você desse o cargo a minha filha.”

Uso da preposição “até” antes de substantivos femininos

Outro contexto onde a crase é opcional é com a preposição “até”, quando combinada com substantivos femininos:

  • “Sempre chego do trabalho até as 20h” ou “Sempre chego do trabalho até às 20h”;

  • “À noite, dirigimos até a praça” ou “À noite, dirigimos até à praça”;

  • “Vou levar essa situação até as últimas consequências” ou “Vou levar essa situação até às últimas consequências.”

Nesses exemplos, o artigo definido pode ou não ser usado, e o mesmo ocorre com a preposição “a”.

Explicando:

  • Até + as 20h = até as 20h

  • Até a + as 20h = até às 20h

  • Até + a praça = até a praça

  • Até a + a praça = até à praça

  • Até + as últimas consequências = até as últimas consequências

  • Até a + as últimas consequências = até às últimas consequências

Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “A beleza e origem das palavras aportuguesadas”, ou seja, termos que nasceram em outros idiomas, mas que, ao longo do tempo, foram abraçados pela nossa língua com novas formas, pronúncias e sentidos.

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