Curiosidades: por que as pessoas falam que as cegonhas trazem os bebês?
A vinculação simbólica entre cegonhas e bebês baseia-se a mitos e lendas antigas
Desde tempos antigos, as cegonhas têm sido associadas ao nascimento de bebês e à formação de famílias. Essa crença atravessou gerações e culturas, enraizando-se profundamente no folclore e nas tradições de muitos povos. Mas de onde exatamente surgiu a ideia de que essas aves entregam os recém-nascidos aos pais? Você sabe por que as pessoas falam que as cegonhas trazem os bebês?
A conexão com os bebês
A vinculação simbólica entre cegonhas e bebês têm origem em mitos e lendas antigas que remontam a diversas civilizações. Na mitologia grega, por exemplo, acreditava-se que as cegonhas estavam envolvidas no sequestro de crianças, depois que Hera transformou sua rival em uma dessas aves e ela tentou roubar o filho da deusa.
Já no Egito antigo, a cegonha era vista como uma representação da alma humana. Sua presença simbolizava o retorno da alma, permitindo que uma pessoa fosse “reanimada”. E na mitologia nórdica, a ave era um emblema dos valores familiares e do compromisso mútuo.
A fidelidade conjugal
Além disso, em várias culturas, as cegonhas eram veneradas como símbolos de fidelidade e casamento monogâmico. Acreditava-se que esses pássaros tinham apenas um companheiro para toda a vida, uma crença enraizada em seu comportamento natural de retornar aos mesmos ninhos ano após ano e geralmente se acasalar com o mesmo parceiro.
O ciclo migratório e a conexão com os nascimentos
No entanto, a associação mais direta entre cegonhas e bebês parece ter se originado na Alemanha, há vários séculos. O padrão migratório dessas aves forneceu uma explicação convincente para o mito.
Como pássaros migratórios, as cegonhas brancas voavam para o sul no outono e retornavam à Europa cerca de nove meses depois. Elas geralmente eram avistadas voltando para o norte entre março e abril, coincidindo com o período em que muitos bebês nasciam – tipicamente concebidos por volta do solstício de verão em 21 de junho.
A conexão com os casamentos de verão
O solstício de verão era uma celebração pagã associada ao casamento e à fertilidade. Como muitos casamentos aconteciam nessa época, muitos bebês nasciam por volta da mesma época em que as cegonhas podiam ser vistas voando para o norte após seu retorno migratório. Essa coincidência temporal forjou uma conexão simbólica: as cegonhas traziam os bebês.
A popularização do mito
O simbolismo do padrão migratório das cegonhas, juntamente com sua presença recorrente em mitos e lendas, provavelmente contribuiu para a popularidade da história de que elas entregavam os recém-nascidos.
O conto de Hans Christian Andersen
O escritor dinamarquês Hans Christian Andersen ajudou a difundir amplamente a fábula no século XIX com seu conto “As Cegonhas”. Nessa narrativa, as aves voam sobre uma vila e são provocadas por um menino, vingando-se ao deixar um bebê morto na casa de sua família. Andersen apresentou a ideia de que as cegonhas tiravam os bebês de uma lagoa e os entregavam a famílias com filhos bem-comportados.
Variações do mito
Outras versões populares do mito incluíam a noção de que os bebês eram encontrados em cavernas chamadas “Adeborsteines” (literalmente “rocha da cegonha” em alemão) ou que eram deixados em rochas para secar depois de serem retirados do mar. Algumas crianças também jogavam pedras pretas e brancas para cima, sinalizando para as cegonhas que queriam um irmãozinho.
A necessidade de contornar assuntos delicados
A história das cegonhas que trazem bebês se espalhou devido à necessidade de contornar as questões espinhosas relacionadas à reprodução humana, especialmente quando se tratava de crianças muito novas.
O Tabu do Sexo
Na época de Andersen, o sexo era um tabu, um assunto proibido de ser discutido abertamente. Mesmo hoje, muitas crianças ganham irmãozinhos antes de estarem preparadas para “aquela conversa” sobre a reprodução. Sua natureza curiosa exige que os pais expliquem de alguma forma a origem dos bebês, e o mito das cegonhas fornece, por algum tempo, a explicação.
Curiosidades e variações culturais
Ao longo do tempo, surgiram muitas curiosidades e variações culturais em torno do mito das cegonhas que trazem bebês:
- Em alguns países, acreditava-se que deixar doces na janela era uma maneira de informar às cegonhas que a casa estava pronta para receber um bebê.
- Na Grécia antiga, havia uma lei chamada “Pelargonia” (derivada da palavra grega para cegonha, “pelargos”) que obrigava os filhos a cuidarem de seus pais idosos, inspirada pelo comportamento das cegonhas que continuam cuidando de seus filhotes mesmo depois que eles aprendem a voar e se alimentar.
- As cegonhas costumavam fazer ninhos nos telhados e chaminés das casas, e a presença de uma cegonha no telhado era vista como um sinal de que o casal teria um filho.
- Março, o mês em que nasciam muitos bebês concebidos no solstício de verão, já foi considerado um tempo de sorte para dar à luz.
- As cegonhas são conhecidas por sua tolerância à presença humana e não se assustam facilmente conosco.
- Algumas versões do mito não são tão bonitas quanto a que conhecemos hoje. Na Polônia, por exemplo, dizia-se que as penas brancas da cegonha eram um presente de Deus, enquanto as pontas pretas eram um presente do diabo, simbolizando tanto o bem quanto o mal. Na Inglaterra, a ave era um símbolo de adultério, e na Alemanha, acreditava-se que bebês deficientes eram entregues pela cegonha como punição pelos pecados dos pais.
- Apenas as cegonhas brancas estão relacionadas aos bebês, provavelmente devido ao simbolismo da pureza, embora existam também cegonhas pretas.
- Ironicamente, assim como outros animais, as cegonhas são conhecidas por matar seus próprios filhotes em tempos de escassez de recursos, o que as torna talvez não as melhores criaturas a quem confiar nossos recém-nascidos!