Dia Internacional da Mulher vem aí: conheça as frases machistas mais ditas no Brasil e no mundo
Palavras que ferem: como expressões do dia a dia perpetuam o machismo?

As palavras têm um grande poder na formação de nossas percepções e na perpetuação de preconceitos. Frases aparentemente inofensivas podem carregar significados profundos e prejudiciais, reforçando estereótipos de gênero e limitando as oportunidades das mulheres. É fundamental reconhecer essas expressões e entender como elas contribuem para a manutenção de uma sociedade machista.
A Linguagem como reflexo da cultura
A forma como nos expressamos reflete diretamente nossa cultura e valores. Contudo, muitas expressões populares ainda carregam um forte viés machista, revelando preconceitos enraizados em nossa sociedade. Essas frases não apenas expressam ideias retrógradas, mas também as perpetuam, influenciando as gerações futuras.
O impacto psicológico das frases machistas
O uso constante de expressões machistas pode ter um impacto na autoestima e na confiança das mulheres. Desde a infância, meninas são expostas a mensagens que limitam suas aspirações e definem papéis de gênero restritivos. Isso pode levar a uma internalização dessas crenças, afetando suas escolhas e oportunidades ao longo da vida.
Frases machistas comuns no Brasil
No Brasil, algumas expressões machistas são tão comuns que muitas vezes passam despercebidas. Veja algumas das mais frequentes e seus significados implícitos:
“Como uma mulher tão bonita como você está solteira?”
Esta frase, aparentemente um elogio, carrega várias suposições problemáticas. Ela sugere que:
- O valor de uma mulher está primariamente ligado à sua aparência.
- Estar em um relacionamento é um objetivo universal e necessário para todas as mulheres.
- A beleza é o principal fator para atrair um parceiro.
Essa expressão ignora a complexidade das relações humanas e reduz as mulheres a objetos de admiração estética.
“Mulher tem de se dar ao respeito”
Esta afirmação é particularmente nociva porque:
- Coloca a responsabilidade do respeito exclusivamente sobre as mulheres.
- Sugere que o respeito é algo que precisa ser “conquistado” pelas mulheres, e não um direito básico.
- Frequentemente é usada para justificar comportamentos abusivos ou assédio.
É importante enfatizar que o respeito deve ser mútuo e não condicionado a comportamentos específicos ou formas de se vestir.
“Comporte-se como uma mocinha”
Esta frase é comumente usada para disciplinar meninas, mas carrega implicações problemáticas:
- Define um padrão restrito de comportamento “aceitável” para meninas.
- Limita a expressão natural e a individualidade das crianças.
- Reforça estereótipos de gênero desde a infância.
Ao invés disso, deveríamos encorajar todas as crianças a serem autênticas e expressarem suas personalidades únicas.
“Mal-amada”
Essa expressão é frequentemente usada para descrever mulheres de maneira pejorativa, sugerindo que seu humor ou comportamento está diretamente ligado à ausência de um parceiro.
- Implica que o bem-estar emocional feminino depende do afeto masculino.
- Não possui uma versão equivalente para homens, que são vistos como responsáveis por suas próprias emoções.
- Reforça a ideia de que a identidade e o estado emocional das mulheres são definidos por sua vida amorosa.
É fundamental desconstruir esse estereótipo e reconhecer que as mulheres têm autonomia sobre suas emoções, sem que sua felicidade ou frustração sejam atribuídas à presença ou ausência de um relacionamento.
“Mulher de malandro”
Essa expressão trata a violência doméstica de forma simplista e culpabiliza a vítima pelo abuso sofrido.
- Sugere que a mulher permanece em um relacionamento abusivo por escolha, ignorando fatores como dependência financeira e emocional.
- Minimiza a gravidade da violência, ao invés de apontar o agressor como responsável.
- Desconsidera o impacto psicológico da violência, que muitas vezes enfraquece a autoestima da vítima e dificulta sua saída do relacionamento.
Ao invés de perpetuar esse tipo de julgamento, é fundamental entender os desafios enfrentados por mulheres em situações de abuso e oferecer apoio para que possam romper o ciclo da violência.
Expressões machistas ao redor do mundo
O machismo não é exclusivo do Brasil. Veja algumas expressões problemáticas em outros países:
Argentina: “Sabes cocinar, ahora ya te podes casar”
Tradução: “Sabe cozinhar, agora já pode se casar”
Esta frase:
- Reduz o valor de uma mulher à sua habilidade culinária.
- Implica que o casamento é o objetivo final de toda mulher.
- Reforça papéis de gênero tradicionais e limitantes.
Chile: “Con ese carácter, nadie te va a aguantar”
Tradução: “Com essa personalidade, ninguém vai te aguentar”
Esta expressão:
- Critica mulheres que expressam opiniões fortes ou assertividade.
- Sugere que mulheres devem moldar suas personalidades para agradar aos outros.
- Desencoraja a autenticidade e a expressão individual.
Reino Unido: “Man up” (seja homem!)
Essa expressão é frequentemente utilizada para incentivar alguém a demonstrar força e enfrentar desafios, mas carrega significados problemáticos:
- Associa coragem e resiliência exclusivamente à masculinidade.
- Reforça a ideia de que emoções e vulnerabilidade não fazem parte do que significa “ser homem”.
- Implica que características tradicionalmente vistas como femininas, como sensibilidade e empatia, são sinais de fraqueza.
Colômbia: “Eso fue que se lo dio al jefe” (Ela deve ter dormido com o chefe)
Essa expressão reflete os desafios que as mulheres continuam enfrentando no mercado de trabalho:
- Sugere que o sucesso profissional feminino não é resultado de mérito ou competência, mas sim de favores sexuais.
- Reforça estereótipos de gênero e desvaloriza a presença das mulheres em posições de liderança.
- Ignora as barreiras reais enfrentadas no ambiente corporativo, como a desigualdade salarial e a falta de oportunidades.
Transformando palavras em mudança
A linguagem molda a sociedade, e eliminar expressões machistas é um passo determinante para a igualdade. Isso exige questionamento diário, educação inclusiva e responsabilidade de indivíduos, empresas e governos. A mídia também deve retratar mulheres sem estereótipos, reforçando narrativas de equidade.
Mudar a forma como falamos é mudar a forma como pensamos. Pequenos ajustes no discurso criam grandes impactos na cultura. A transformação começa no cotidiano — e cada palavra conta.