Como reconhecer o dígrafo no português e seus usos
Descubra seus principais usos com exemplos simples e práticos.

Você já se perguntou por que algumas palavras em português têm duas letras que produzem apenas um som? Esse fenômeno tem nome: dígrafo. Compreender o que é um dígrafo, como reconhecê-lo e onde ele aparece na nossa língua pode facilitar e muito a leitura, a escrita e até a pronúncia correta das palavras. Aqui, queremos explicar de forma clara e prática o que são os dígrafos, quais são os principais tipos existentes no português e como identificá-los em diferentes contextos.
Leia também: Hora literária – veja 5 poemas de Augusto dos Anjos
O dígrafo no português
A palavra dígrafo tem origem grega e significa, literalmente, “duas letras” (di = duas / grafo = escrita). Em português, chamamos de dígrafo a combinação de duas letras que, ao serem pronunciadas, produzem um único som. Ou seja, embora se escreva com duas letras, ouvimos apenas um fonema — e é aí que mora a chave para identificar esse fenômeno linguístico.
Para entender melhor, vale lembrar a diferença entre letra e fonema: letra é o sinal gráfico que vemos na escrita; fonema é o som que ouvimos ao falar. Portanto, quando duas letras se unem para formar um único fonema, temos um dígrafo.
Veja alguns exemplos:
-
Em chave, o som de “ch” equivale ao de uma única letra, como em “xave” (forma incorreta, mas que ilustra o som).
-
Em esquisito, o “qu” tem o mesmo som que o “k”, formando um dígrafo consonantal.
-
Já em embalagem, o “em” representa um único som nasal, configurando um dígrafo vocálico.
Agora que entendemos o conceito, vamos explorar os dois tipos principais de dígrafos no português.
Tipos: vocálico e consonantal
Os dígrafos se dividem em vocálicos e consonantais, de acordo com o tipo de som que produzem.
Dígrafos vocálicos
Ocorrem quando duas letras formam, juntas, um som de vogal nasal. Geralmente, uma vogal seguida das consoantes m ou n.
Exemplos:
-
AM: lamparina, campo
-
EM: embalagem, tempo
-
IM: impulso, simples
-
OM: combate, sombra
-
UM: chumbo, tumba
-
AN: canto, antigo
-
EN: frente, entender
-
IN: linda, inverno
-
ON: fonte, contrário
-
UN: fundo, sunga
Dígrafos consonantais
Ocorrem quando duas consoantes formam juntas um único som consonantal.
Exemplos:
-
CH: chave, chuva
-
LH: folha, baralho
-
NH: manhã, carinho
-
RR: carro, correr
-
SS: passar, pássaro
-
QU: queijo, qualquer
-
GU: guitarra, águia
-
SC: crescer, nascer
-
SÇ: desça, cresça
-
XC: exceção, excelente
-
XS: exsurgir, exsuflar
Dígrafo e encontro consonantal são a mesma coisa?
Apesar das semelhanças, não são a mesma coisa, e é fundamental entender a diferença.
-
Dígrafo: duas letras = um único som.
-
Encontro consonantal: duas consoantes juntas, cada uma mantendo seu som.
Exemplos de encontro consonantal:
-
Em livro, tanto o “v” quanto o “r” são ouvidos: li-vro.
-
Em prato, “p” e “r” mantêm seus sons: pra-to.
Os encontros consonantais ainda podem ser:
-
Perfeitos: as consoantes permanecem na mesma sílaba (claro, prato, blusa).
-
Imperfeitos: as consoantes se separam na divisão silábica (ab-soluto, for-te, tor-ta).
Há também encontros consonantais no início das palavras que, embora pareçam dígrafos, mantêm sons distintos:
-
Psicólogo – [p] e [s] são pronunciados: psi-có-lo-go
-
Gnomo – [g] e [n] são sons distintos: gno-mo
E quanto ao encontro vocálico?
Outro ponto importante é não confundir o dígrafo com o encontro vocálico, que acontece quando duas vogais aparecem juntas em uma palavra. Diferente do dígrafo, cada vogal pode ou não manter seu som individual.
Tipos de encontros vocálicos:
-
Ditongo: vogal + semivogal ou vice-versa na mesma sílaba.
Exemplos: caixa, flauta, beijo. -
Tritongo: semivogal + vogal + semivogal na mesma sílaba.
Exemplos: Uruguai, saguão, iguais. -
Hiato: duas vogais juntas na palavra, mas em sílabas separadas.
Exemplos: saúde (sa-ú-de), país (pa-ís), baú (ba-ú).
Separação silábica
Quando falamos de dígrafos na língua portuguesa, é essencial entender que nem todos eles se comportam da mesma maneira no momento da separação silábica. Alguns se separam, enquanto outros permanecem juntos. Vamos ver como isso funciona na prática:
Que se separam
Alguns dígrafos, mesmo representando apenas um som, devem ser divididos entre as sílabas durante a separação. É o caso dos seguintes:
-
RR → arrepio → ar-re-pi-o
-
SS → assar → as-sar
-
SC → crescer → cres-cer
-
XC → exceder → ex-ce-der
-
XS → exsudar → ex-su-dar
Esses dígrafos têm consoantes repetidas ou agrupadas que, foneticamente, não podem ser mantidas na mesma sílaba.
Que não se separam
Por outro lado, há dígrafos que formam um único som consonantal e que não devem ser divididos ao separar a palavra em sílabas. É o caso de:
-
LH → ilhado → i-lha-do
-
NH → manhã → ma-nhã
-
CH → cachorro → ca-chor-ro
-
QU → queijo → quei-jo
-
GU → guaraná → gua-ra-ná
Nesses casos, as duas letras representam um único fonema e devem sempre permanecer unidas.
Atenção às pegadinhas
Alguns encontros de letras podem parecer dígrafos, mas na verdade não são. Para não cair em armadilhas comuns, é importante observar alguns detalhes fonológicos. A seguir, destacamos algumas dessas situações:
QU e GU: dígrafos ou não?
Os encontros QU e GU só são considerados dígrafos quando vierem seguidos das vogais E ou I e o som da letra U não for pronunciado. Nesses casos, temos um único fonema.
São dígrafos:
-
Queijo
-
Quiabo
-
Quero
-
Quieto
-
Guitarra
-
Guerreiro
-
Guindaste
-
Dengue
Em todas essas palavras, o U não é falado — é mudo. Por isso, forma-se um dígrafo.
Não são dígrafos:
Se o U for pronunciado, como em quatro ou linguiça, o encontro deixa de ser um dígrafo, pois cada letra representa um som distinto.
SC e XC: quando são dígrafos?
Esses encontros também causam confusão. SC e XC apenas são dígrafos quando seguidos das vogais E ou I e representam um único som.
São dígrafos:
-
Piscina
-
Crescendo
-
Descendo
-
Excelente
-
Exceção
-
Excitante
Nesses casos, o som resultante é o mesmo de um S simples, e por isso o grupo de letras forma um dígrafo.
Em resumo
Estudar os dígrafos vai além de apenas reconhecer quando duas letras aparecem juntas. É essencial observar a pronúncia e o contexto em que elas ocorrem. Isso nos ajuda a fazer a separação silábica corretamente e evita confusões com encontros consonantais ou vocálicos. Ficar atento aos sons que realmente ouvimos ao falar as palavras é o segredo para dominar esse assunto!
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Criando filhos leitores – 4 dicas para incentivar a leitura”, já que o hábito da leitura estimula a criatividade, melhora o desempenho escolar e fortalece o vínculo familiar.