Dúvidas de Português: “às custas do” ou “à custa do”?

Será que as duas expressões estão corretas?

Uma dúvida comum na língua portuguesa envolve o uso correto das expressões “às custas do” e “à custa do”. Ambas são frequentemente utilizadas para indicar que algo foi feito ou obtido em detrimento de outra pessoa ou coisa, mas há uma forma correta de empregar cada uma delas. Nesta matéria, vamos esclarecer as diferenças entre essas expressões e explicar em que contextos cada uma deve ser utilizada, garantindo o uso adequado da norma culta do idioma. Vamos lá?

Entendendo a origem das expressões

Antes de analisarmos qual expressão está correta, é interessante entender a origem e o significado de cada uma delas. A palavra “custa” provém do latim costa, que significa “lado” ou “costela”. No entanto, em português, a palavra ganhou um sentido figurado relacionado a “despesa”, “sacrifício” ou “prejuízo”.

Assim, a expressão “à custa de” (ou será “às custas de”?) refere-se a algo que é feito com esforço, sacrifício ou prejuízo de alguém ou algo. Um exemplo claro seria: “Ele conseguiu o emprego à custa de muito estudo e dedicação”. Aqui, o sentido é de que a conquista foi alcançada com esforço e sacrifício pessoal.

Por outro lado, a forma “às custas de” é uma variação que, ao longo do tempo, passou a ser utilizada de maneira errônea por alguns falantes da língua portuguesa. A confusão se dá porque o plural de “custa” no sentido original da palavra latina (costela) é “custas”, e, em determinados contextos, como no campo jurídico, o termo “custas” realmente é utilizado no plural, referindo-se a despesas processuais, por exemplo. Essa utilização no plural acabou por influenciar o uso da expressão fora desse contexto, gerando a forma equivocada “às custas de”.

Qual é a forma correta?

De acordo com as normas da gramática normativa do português, a forma correta é “à custa de” quando nos referimos a algo feito com sacrifício ou prejuízo de alguém. A expressão no singular é a recomendada para esses casos em que o sentido é figurado. Por exemplo: “Ela atingiu o sucesso à custa de muitas noites sem dormir”.

Por outro lado, a expressão “às custas de” está incorreta quando utilizada nesse mesmo sentido figurado. No entanto, vale destacar que “às custas” pode aparecer de forma legítima no plural, mas apenas em contextos específicos, especialmente no âmbito jurídico, como mencionado anteriormente. Nesse caso, “custas” refere-se a despesas judiciais ou processuais, e não a sacrifícios ou prejuízos figurativos.

Exemplos práticos para entender a diferença

Para facilitar o entendimento e aplicação correta das expressões, vejamos alguns exemplos práticos:

  1. Exemplo correto: à custa de
    • “Ele completou a obra à custa de muitos investimentos pessoais.”
    • Aqui, a frase indica que a conclusão da obra foi alcançada com grande esforço financeiro, representado por “investimentos pessoais”.
  2. Exemplo incorreto: às custas de
    • “Ele completou a obra às custas de muitos investimentos pessoais.”
    • Apesar de ser uma construção comum na fala cotidiana, essa frase está incorreta de acordo com as normas gramaticais.
  3. Exemplo correto: às custas
    • “O processo foi arquivado, mas as partes terão que arcar com as custas judiciais.”
    • Neste caso, a utilização de “às custas” está correta, pois refere-se às despesas processuais, um uso legítimo do plural da palavra.
Erros de português
Dúvidas de Português. Imagem: Pexels

Por que a confusão entre as expressões é tão comum?

A confusão entre “à custa de” e “às custas de” é comum, em parte, devido ao uso popular e coloquial da segunda forma. Muitas pessoas acabam utilizando “às custas de” porque soa mais natural no discurso falado, principalmente pela influência de contextos em que o plural “custas” é apropriado, como no campo jurídico. Além disso, a mudança de significado de palavras ao longo do tempo e o impacto da linguagem oral na escrita contribuem para que a forma incorreta seja amplamente difundida.

Outro fator que intensifica essa confusão é o fato de que, em português, é comum a variação de número (singular/plural) em expressões idiomáticas. Exemplos como “aos poucos”, “às pressas” e “às vezes” reforçam a ideia de que a forma plural é frequentemente utilizada em locuções. Entretanto, no caso específico de “à custa de”, o singular é o correto quando o sentido é figurado.

Como evitar o erro?

Para evitar o erro ao utilizar essas expressões, é importante ter em mente a regra gramatical e o contexto em que a frase está inserida. Ao falar ou escrever sobre algo que envolva sacrifício, esforço ou prejuízo figurado, lembre-se de que a forma correta é “à custa de”. Caso esteja lidando com questões jurídicas ou despesas específicas, aí sim “às custas” pode ser a escolha certa.

Além disso, praticar a leitura de textos formais e estar atento ao uso dessas expressões em diferentes contextos pode ajudar a reforçar o aprendizado. Livros, artigos acadêmicos e materiais didáticos costumam seguir as normas gramaticais de maneira rigorosa, oferecendo bons exemplos do uso correto da língua.

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