Elas no comando! O impacto positivo da liderança feminina nas organizações brasileiras
"Elas" são mais bem avaliadas em cargos de liderança; veja os números
Nos últimos anos, a presença feminina em posições de liderança nas organizações brasileiras tem se intensificado, refletindo uma transformação significativa no cenário corporativo. O fenômeno “Elas no comando!” não apenas simboliza a conquista de espaço por parte das mulheres, mas também destaca o impacto positivo que essa liderança pode trazer para as empresas.
Apesar dos desafios que ainda persistem na busca pela equidade de gênero, os avanços são inegáveis e cada vez mais reconhecidos. A liderança feminina se revela não apenas como uma questão de justiça social, mas também como uma estratégia eficaz para inovação, diversidade e desempenho organizacional.
Existe representatividade feminina no Brasil?
De acordo com uma pesquisa recente da FIA Business School, que analisou respostas de mais de 150 mil funcionários de 150 grandes companhias premiadas com o selo “Lugares Incríveis para Trabalhar” em 2023, as mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança no Brasil. Essa proporção se manteve estável em relação ao ano anterior, sinalizando um progresso constante, embora lento.
No entanto, quando se trata dos escalões mais altos de comando, a participação feminina ainda enfrenta obstáculos. A proporção de mulheres na diretoria e nos cargos de nível C (C-Level) das empresas caiu cinco pontos percentuais em 2023, atingindo 28%. Lina Nakata, professora da FIA Business School e uma das responsáveis pelo levantamento, explica: “Como esse nível conta com menos pessoas, qualquer variação pode alterar o percentual. As mulheres conquistaram representatividade na alta liderança, mas o movimento ainda é lento.”
Presença feminina no mercado de trabalho
Apesar de representarem 43% do quadro de funcionários nas organizações estudadas, as mulheres permanecem sub-representadas nos cargos de liderança. Esse desequilíbrio ocorre mesmo diante de evidências de que as líderes femininas são avaliadas de forma mais positiva pelos colaboradores.
De acordo com a pesquisa, 50% dos entrevistados consideraram a gestão das CEOs (Chief Executive Officers) como excelente, enquanto apenas 43% atribuíram a mesma avaliação aos CEOs homens. Além disso, 79% dos funcionários afirmaram confiar totalmente em suas CEOs, em comparação com 72% para os líderes masculinos.
As líderes femininas também demonstraram maior proximidade com suas equipes. Enquanto 84% dos colaboradores conheciam suas CEOs, apenas 79% afirmaram conhecer os CEOs homens em suas organizações. Esses dados sugerem a persistência de estereótipos de gênero, com os funcionários observando que as mulheres valorizam 50% mais a proximidade do que os homens, enquanto os líderes masculinos foram avaliados como mais conservadores e orientados para resultados.
Como impulsionar a liderança feminina?
Conscientes dos desafios e dos benefícios da diversidade de gênero nos quadros de liderança, muitas empresas estão adotando medidas proativas para reter e impulsionar o avanço das mulheres no mercado de trabalho.
Programas estruturados e monitoramento salarial
Dentre as organizações reconhecidas como “Lugares Incríveis para Trabalhar”, 51% possuem um programa formal e estruturado voltado para o desenvolvimento profissional das colaboradoras. De acordo com Naiara Oliveira, consultora da FIA Business School, “a prática mais frequente é o monitoramento e equiparação de diferenças salariais entre homens e mulheres”, adotada por 40% das empresas destacadas no estudo.
A igualdade salarial é prevista em lei no Brasil, e organizações com mais de cem funcionários são obrigadas a preencher e enviar relatórios de transparência salarial ao governo. Esse compromisso legal reforça a importância de eliminar disparidades remuneratórias baseadas em gênero.
Comitês para ascensão feminina
Outra iniciativa é a criação de comitês específicos para discutir a ascensão de mulheres a cargos de liderança. Essa prática foi implementada por 35% das organizações reconhecidas pela FIA, representando um aumento de 3 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. Esses comitês desempenham um papel fundamental no estabelecimento de metas, na identificação de talentos femininos e no desenvolvimento de estratégias para promover a equidade de gênero nos níveis de liderança.
Apoio pessoal e profissional
Além dos programas estruturados e das iniciativas voltadas para a carreira, as empresas destacadas pela FIA também se comprometeram com ações de apoio às mulheres em termos pessoais e profissionais. Embora essas ações tenham se mostrado menos frequentes em 2023 do que no ano anterior, elas representam um esforço contínuo para criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e acolhedor.
Algumas das práticas adotadas incluem:
- Palestras e rodas de conversa sobre maternidade e carreira, trabalho remoto, equidade de gênero, violência doméstica e outros temas relevantes, conduzidas por palestrantes e especialistas externos.
- Licença-maternidade estendida de 180 dias e programas que permitem que as mulheres trabalhem em regime de home office por 20 horas semanais durante os primeiros 90 dias após o retorno da licença-maternidade.
- Atividades de bem-estar, como massagens, oficinas de dança e yoga, além de palestras sobre saúde mental e física.
Essas iniciativas demonstram o compromisso das organizações em criar um ambiente de trabalho que valorize e apoie as necessidades e aspirações das profissionais femininas.
Qual o impacto positivo da liderança feminina?
Embora os desafios persistam, os benefícios da liderança feminina nas organizações brasileiras são cada vez mais evidentes. Estudos indicam que as mulheres tendem a adotar estilos de gestão mais colaborativos, empáticos e orientados para o desenvolvimento de equipes. Essas habilidades são fundamentais para construir ambientes de trabalho mais inclusivos, produtivos e inovadores.
Além disso, a diversidade de gênero nos quadros de liderança pode trazer vantagens para as empresas. Equipes diversificadas tendem a ser mais criativas, apresentando uma gama mais ampla de perspectivas e abordagens para a resolução de problemas. Essa pluralidade de visões pode impulsionar a inovação e a adaptabilidade das organizações em um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo.
Impacto econômico e social
O impacto da liderança feminina vai além das fronteiras organizacionais. Conforme o Banco Mundial, eliminar a desigualdade de gênero no mercado de trabalho poderia elevar o Produto Interno Bruto (PIB) global em mais de 20%. Essa projeção destaca o potencial econômico e social de promover a igualdade de oportunidades e a representatividade feminina em todos os níveis de liderança.