Estas são as profissões que mais causam transtornos mentais – A sua está na lista?
Descubra quais ocupações mais desafiam a saúde mental e os motivos por trás disso
O cenário laboral brasileiro enfrenta um desafio crescente: o aumento de transtornos mentais entre os trabalhadores. Este fenômeno não apenas impacta a saúde e o bem-estar dos indivíduos, mas também afeta a produtividade e a economia do país.
Dados recentes do Ministério da Previdência Social indicam que os transtornos mentais são a terceira causa mais comum de afastamento do trabalho no Brasil. Em 2023, mais de 288 mil trabalhadores precisaram se ausentar devido a problemas de saúde mental, o que equivale a 33 afastamentos por hora.
Este cenário preocupante coloca o Brasil em uma posição delicada no contexto global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país apresenta a maior prevalência de ansiedade no mundo, com aproximadamente 9,3% da população sofrendo de ansiedade patológica. Além disso, cerca de 5,8% dos brasileiros enfrentam depressão, a maior taxa entre os países da América Latina.
Diante desses dados, é importante compreender quais profissões estão mais suscetíveis a desencadear transtornos mentais e comportamentais, bem como as razões por trás dessa vulnerabilidade.
Profissões de alto risco para transtornos mentais
Algumas profissões se destacam como particularmente propensas a causar problemas de saúde mental. Especialistas apontam que enfermeiros, professores, policiais, atendentes de telemarketing, agentes carcerários e jornalistas estão entre as ocupações com maior tendência a desenvolver transtornos mentais e comportamentais.
Enfermagem: lidando com o estresse constante
A enfermagem é frequentemente citada como uma das profissões mais estressantes. Os profissionais desta área enfrentam desafios diários que podem afetar sua saúde mental:
- Carga de trabalho excessiva
- Exposição constante a situações de vida ou morte
- Turnos irregulares e longos períodos de trabalho
- Lidar com pacientes e familiares em momentos de extrema vulnerabilidade
O professor Thiago Dias Costa, da faculdade de psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca que o número de profissionais de enfermagem adoecendo por depressão está aumentando. Ele atribui isso às agressões cotidianas no contexto hospitalar, seja por pacientes ou seus familiares, que podem desencadear quadros depressivos.
Professores: educadores sob pressão
Os educadores enfrentam uma série de desafios que podem impactar negativamente sua saúde mental:
- Sobrecarga de trabalho, incluindo planejamento de aulas e correção de atividades fora do horário regular
- Lidar com alunos indisciplinados e, por vezes, violentos
- Pressão por resultados e metas educacionais
- Baixa valorização social e salarial
A combinação desses fatores pode levar ao esgotamento emocional, conhecido como síndrome de burnout, que é particularmente comum entre professores.
Policiais: o peso da responsabilidade
A profissão policial é estressante devido à natureza do trabalho:
- Exposição constante a situações de perigo e violência
- Pressão para tomar decisões rápidas e decisivas
- Turnos irregulares e longas jornadas de trabalho
- Lidar com o trauma e a violência de forma recorrente
O estresse crônico associado a essa profissão pode levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
Atendentes de telemarketing: a pressão das metas
Os profissionais de telemarketing enfrentam desafios únicos que podem afetar sua saúde mental:
- Metas de vendas ou atendimentos frequentemente irrealistas
- Interações repetitivas e muitas vezes negativas com clientes
- Monitoramento constante de desempenho
- Ambiente de trabalho controlado e restritivo
Essas condições podem levar ao desenvolvimento de ansiedade, depressão e outros transtornos relacionados ao estresse.
Agentes carcerários: tensão constante
Os agentes carcerários trabalham em um ambiente de alta tensão, o que pode ter sérias implicações para sua saúde mental:
- Risco constante de violência e rebeliões
- Exposição a comportamentos agressivos e situações traumáticas
- Turnos longos e irregulares
- Isolamento social devido à natureza do trabalho
O estresse crônico e a exposição contínua a situações de risco podem levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão.
Jornalistas: a pressão do prazo
Os profissionais da mídia enfrentam desafios que podem impactar sua saúde mental:
- Prazos apertados e pressão constante
- Exposição a eventos traumáticos e situações de crise
- Instabilidade na carreira devido às mudanças no cenário midiático
- Trabalho em horários irregulares e longos períodos
A combinação desses fatores pode levar ao desenvolvimento de ansiedade, depressão e burnout entre jornalistas.
Fatores que contribuem para o adoecimento mental no trabalho
Embora certas profissões apresentem riscos mais elevados, é importante reconhecer que qualquer trabalhador pode desenvolver problemas de saúde mental. A qualidade do ambiente de trabalho é um fator determinante nesse processo. Três elementos principais contribuem para o adoecimento mental no contexto laboral:
Desigualdade e insegurança no emprego
A instabilidade no emprego e as disparidades salariais são fontes de estresse para os trabalhadores brasileiros. Essa insegurança pode gerar:
- Ansiedade constante sobre o futuro profissional
- Sensação de impotência e falta de controle
- Dificuldades financeiras e preocupações relacionadas
- Competição excessiva entre colegas, minando o ambiente de trabalho
A longo prazo, essa insegurança pode desencadear transtornos mentais como ansiedade e depressão.
Pressão e estresse no ambiente organizacional
O ambiente de trabalho moderno é frequentemente caracterizado por:
- Metas ambiciosas e prazos apertados
- Expectativas irrealistas de produtividade
- Longas jornadas de trabalho e pouco tempo para descanso
- Falta de reconhecimento e feedback positivo
Mudanças na dinâmica do trabalho
A transformação do mercado de trabalho, impulsionada pela tecnologia, trouxe novos desafios:
- Aumento do trabalho remoto e isolamento social
- Dificuldade em estabelecer limites entre vida profissional e pessoal
- Necessidade constante de atualização e aprendizado de novas habilidades
- Sensação de desconexão e falta de pertencimento
Transtornos mentais mais comuns entre trabalhadores brasileiros
Os dados do Ministério da Previdência Social revelam os transtornos mentais e comportamentais que mais afetaram os trabalhadores brasileiros em 2023. Entre os dez mais comuns, seis são relacionados à depressão:
- Transtorno misto de ansiedade e depressão
- Episódios depressivos
- Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos
- Transtorno depressivo recorrente
- Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos
- Episódio depressivo moderado
Além desses, os transtornos de ansiedade também figuram na lista. O transtorno de ansiedade generalizada, caracterizado por preocupação excessiva e descontrolada, é particularmente comum.
Outro transtorno que merece atenção é o relacionado ao uso de múltiplas drogas ou substâncias psicoativas. Muitos trabalhadores recorrem ao álcool ou outras substâncias como forma de lidar com o estresse e as pressões do trabalho, o que pode levar ao desenvolvimento de dependência e outros problemas de saúde mental.
Mudanças na legislação e políticas públicas
O governo brasileiro tem tomado medidas para incentivar as empresas a cuidar da saúde mental de seus funcionários. A Lei da Saúde Mental (14.831/2024), sancionada em abril de 2024, criou o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, concedido pelo governo federal a empresas que implementam políticas e práticas para promover a saúde mental de seus colaboradores.
Iniciativas como essa são fundamentais para criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo em todo o país.