Estilística na língua portuguesa: afinal, que estudo é esse?

Este é um ramo da linguística que analisa o uso das formas e significados das palavras para expressar sentimentos e trazer expressividade à linguagem.

A estilística é um ramo da linguística que se dedica ao estudo do estilo linguístico, explorando como a língua pode expressar recursos afetivos e expressivos, tanto na fala quanto na escrita. Este campo de estudo, estabelecido pelos linguistas Charles Bally e Karl Vossler no início do século XX, analisa diversos elementos como funções, figuras de linguagem e vícios linguísticos. Seu objetivo é ultrapassar o significado literal das palavras, revelando camadas mais profundas de sentido e emoção.

Leia também: Estrutura das palavras e seus elementos mórficos

O estudo da estilística

Este estudo explora a interdependência entre o emocional e o intelectual. Enquanto a gramática se concentra na linguagem padronizada e sistematizada, a estilística se dedica a uma abordagem estética e expressiva, visando intensificar a mensagem e ir além da mera transmissão de informações.

Categorias 

Os recursos estilísticos, que incluem elementos sintáticos, fonológicos e semânticos, desempenham um papel crucial na organização das palavras, na construção dos enunciados e até mesmo na interpretação das mensagens. Cada intenção do emissor, seja ela convencer, emocionar ou confundir, pode ser alcançada por meio de um recurso estilístico específico. Esses recursos também permitem desvios no padrão normativo da língua, com o objetivo de destacar um termo, uma mensagem ou um contexto específico.

Como método de análise, a estilística se divide em áreas semelhantes às da gramática.

Essas áreas incluem:

Fônica

A estilística fônica se dedica a analisar as expressões que operam no nível sonoro da língua. Isso inclui as figuras de som que conferem significado e harmonia à linguagem, seja por meio da reprodução, repetição ou imitação dos sons. Dentro da prosódia, que abrange o uso da acentuação tônica nas palavras durante a fala, os acentos de altura, intensidade e duração ampliam a expressividade de determinadas palavras ou frases.

Um exemplo pode ser encontrado na frase:

Hoje a aula de pilates foi incrível.

Aqui, o acento tônico em “crí” de “incrível” pode carregar um valor afetivo. Ao pronunciar essa sílaba com entusiasmo, a sonoridade se intensifica, demonstrando como a evocação sonora dos fonemas pode atingir objetivos estilísticos. E para ilustrar o funcionamento das figuras de som, podemos analisar o poema “Os sinos” de Manuel Bandeira:

“Sino de Belém, pelos que inda vêm!
Sino de Belém bate bem-bem-bem.
Sino da paixão, pelos que lá vão!
Sino da paixão bate bão-bão-bão.”
Note que a repetição da consoante “b” em cada verso evoca foneticamente o som dos sinos. Esse padrão rítmico é criado pela aliteração. Além disso, a onomatopeia “bem-bem-bem” transmite uma sensação de som metálico e vibrante.
 Estilística na língua portuguesa: afinal, que estudo é esse? (Foto: Unsplash).
Estilística na língua portuguesa: afinal, que estudo é esse? (Foto: Unsplash).

Sintática

O campo estilístico mais abrangente utiliza diversos recursos expressivos para modificar a estrutura das frases e orações. Esses recursos incluem inversão, repetição e omissão de palavras. A seguir, exploramos como as figuras de sintaxe ou construção podem ser usadas como ferramentas estilísticas:

Anacoluto: caracteriza-se pela desconexão sintática, criando a impressão de que o pensamento foi interrompido. Exemplo: “A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco).

Elipse: consiste na omissão de termos na oração, sem comprometer a compreensão. O contexto e os demais elementos gramaticais preenchem essa lacuna. Exemplo: “Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.” (Cecília Meireles).

Hipálage: atribui uma característica de um ser ou objeto a outro ser/objeto relacionado, resultando em uma adjetivação inusitada. Exemplo: “Fumando um pensativo cigarro.” (Eça de Queirós).

Silepse: a concordância da frase é realizada com base na ideia que se pretende transmitir, e não necessariamente nas palavras que a compõem, desobedecendo às regras gramaticais de concordância. Exemplo: “Enfim, lá em São Paulo todos éramos felizes graças ao seu trabalho.” (Rubem Braga).

Essas figuras de construção são essenciais para enriquecer a linguagem e conferir um estilo único ao texto, provocando variações que vão além das normas gramaticais convencionais.

Morfológica

Essa área foca no uso das formas linguísticas. Utiliza sufixos aumentativos e diminutivos para expressar sentimentos como carinho, afeto e desprezo.

Exemplos:

  • Que gatinho lindo e dócil!
  • Aquela mulherzinha não tem a mínima educação.
  • Aceita um copinho de leite?

Semântica

Estuda as significações das palavras para dar expressividade e afetividade à linguagem, utilizando figuras semânticas como:

Metáfora: Comparação implícita entre elementos com características comuns. Ex: “As mãos que dizem adeus são pássaros que vão morrendo lentamente.” (Mário Quintana)

Metonímia: Substituição de termos com sentidos próximos. Ex: “A nuvem carregada, espanto do marujo” (Victor Hugo)

Sinestesia: Combinação de palavras que expressam diferentes percepções sensoriais. Ex: O cheiro doce da juventude exalou naquelas fotografias.

Sinédoque: Substituição de uma palavra por outra, com redução ou ampliação do sentido. Ex: O estudante precisa manter o silêncio na sala de aula (todos os estudantes).

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.