Foco narrativo – a perspectiva da história a ser contada
Aprenda também a escolher a perspectiva ideal para contar sua história.

Toda história é moldada pelo olhar de quem a conta. O foco narrativo define como o leitor vivencia os acontecimentos, quais informações recebe e a proximidade que estabelece com os personagens. Escolher a perspectiva correta pode transformar a experiência de leitura, intensificando emoções, criando mistérios ou ampliando reflexões.
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Seja em primeira, segunda ou terceira pessoa, cada ponto de vista traz nuances que influenciam a forma como a trama se desenrola. Mas como decidir qual é o melhor para sua história? Vamos explorar as possibilidades e impactos do foco narrativo para encontrar a voz ideal para sua narrativa.
O foco narrativo
O foco narrativo é um dos elementos essenciais na construção de uma narrativa. Ele determina quem está contando a história e de que maneira os eventos são apresentados ao leitor. A escolha do foco narrativo influencia diretamente a forma como os personagens são percebidos, a profundidade das informações transmitidas e o nível de imersão da leitura. Em outras palavras, ele define a perspectiva adotada pelo narrador, podendo situá-lo dentro ou fora da história.
Através do foco narrativo, o leitor compreende a relação do narrador com os acontecimentos narrados e o grau de conhecimento que esse narrador tem sobre os eventos. Esse elemento pode ser utilizado estrategicamente para criar mistério, proximidade emocional ou até mesmo manipular a percepção do leitor.
Além disso, uma história não precisa necessariamente manter o mesmo foco narrativo do início ao fim. Em algumas narrativas, há alternância de pontos de vista, o que pode tornar a experiência de leitura mais dinâmica. No entanto, essa mudança deve ser feita com cautela, pois uma transição mal planejada pode confundir o leitor e comprometer a fluidez do texto.
Os principais tipos
O foco narrativo pode ser classificado, de forma geral, em dois grandes grupos: narrativa em primeira pessoa e narrativa em terceira pessoa. Cada um deles possui características próprias e impacta a maneira como a história é absorvida pelo leitor.
1. Foco narrativo em primeira pessoa
Neste tipo de narrativa, o narrador participa ativamente da história e a conta sob sua própria perspectiva. Como consequência, a narração ocorre na primeira pessoa, utilizando pronomes como “eu” e “nós”. Esse recurso proporciona uma abordagem mais subjetiva e intimista, permitindo que o leitor experimente os eventos a partir do ponto de vista do próprio narrador.
A grande vantagem desse foco narrativo é a imersão profunda nos pensamentos e sentimentos do personagem narrador. No entanto, há uma limitação: o leitor conhece apenas o que esse personagem sabe, pensa ou observa, o que pode restringir a compreensão de outros elementos da trama.
2. Foco narrativo em terceira pessoa
Aqui, o narrador não faz parte da história como personagem ativo. Ele assume uma posição externa, relatando os acontecimentos sem estar envolvido diretamente nos eventos. Como consequência, os pronomes e verbos aparecem na terceira pessoa, como “ele”, “ela” e “eles”.
Esse tipo de narrativa permite um panorama mais amplo da história, já que o narrador pode fornecer informações que vão além da visão de um único personagem. Dependendo da abordagem adotada, ele pode ser um narrador observador ou onisciente.
Os tipos de narrador
Além do foco narrativo, é importante considerar os diferentes tipos de narrador, pois eles definem o tom e o nível de envolvimento com a história. Os principais tipos são:
1. Narrador-personagem
O narrador-personagem é aquele que está inserido na trama e participa dos eventos narrados. Esse tipo de narrador está sempre associado ao foco narrativo em primeira pessoa. Há duas variações principais:
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Protagonista: a história é contada sob o ponto de vista do personagem principal. O leitor acompanha a trama a partir de suas experiências diretas, conhecendo seus pensamentos e sentimentos de forma intensa.
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Testemunha: a história é narrada por um personagem secundário, que observa os eventos sem ser o centro da narrativa. Esse narrador oferece uma perspectiva externa sobre os acontecimentos e pode transmitir informações de forma mais imparcial.
2. Observador
O narrador observador geralmente aparece em narrativas em terceira pessoa. Ele se limita a relatar os fatos sem participar da história e sem interferir diretamente no enredo. Seu papel é semelhante ao de uma câmera que registra os acontecimentos sem acessar os pensamentos ou emoções das personagens. Esse tipo de narrador mantém um distanciamento da trama, permitindo que o leitor tire suas próprias conclusões.
3. Onisciente
O narrador onisciente também está presente na narrativa em terceira pessoa, mas, ao contrário do narrador observador, ele tem conhecimento completo sobre os personagens e os eventos. Ele pode revelar pensamentos, emoções e até informações que os próprios personagens desconhecem. Dentro dessa categoria, há duas variações:
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Onisciente neutro: transmite a história sem emitir juízos de valor. Ele conhece todos os detalhes do enredo, mas se mantém imparcial, permitindo que o leitor forme sua própria opinião sobre os personagens e acontecimentos.
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Onisciente intruso: além de conhecer tudo sobre a trama, esse narrador expressa suas opiniões e interfere diretamente na percepção do leitor. Ele pode fazer comentários, julgar personagens e até sugerir interpretações sobre os eventos narrados.
Diferenças entre foco narrativo e narrador
Embora foco narrativo e narrador estejam intimamente relacionados, eles representam conceitos distintos dentro da construção de uma narrativa:
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Foco narrativo: refere-se à perspectiva adotada para contar a história. Ele define o ângulo pelo qual os acontecimentos serão apresentados ao leitor.
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Narrador: é a entidade que transmite a história ao público. Pode ser um personagem inserido na trama (narrador-personagem) ou uma voz externa que relata os acontecimentos (narrador observador ou onisciente).
De maneira resumida, o foco narrativo estabelece o ponto de vista, enquanto o narrador é quem conduz a narração. A escolha de ambos deve ser cuidadosa, pois influencia diretamente a maneira como o leitor se conecta com a história.