Gerúndio – o verbo de continuidade que se tornou um vício
Ele se tornou um vício na linguagem do dia a dia, especialmente no ambiente profissional.

Você já ouviu alguém dizer que está “resolvendo o problema”, “encaminhando o e-mail” ou “verificando a questão”? Essas construções, apesar de corretas do ponto de vista gramatical, têm se tornado um verdadeiro vício na comunicação cotidiana, principalmente no ambiente corporativo.
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O gerúndio, que originalmente expressa uma ação em andamento, passou a ser usado de forma exagerada e, muitas vezes, desnecessária. Neste texto, vamos entender o que é o gerúndio, qual seu uso adequado na língua portuguesa e por que ele ganhou fama de vilão nas conversas profissionais.
O uso do gerúndio
Por que ele virou um vilão na linguagem cotidiana?
Na gramática da língua portuguesa, o gerúndio é uma das formas nominais do verbo, caracterizado por expressar uma ação contínua, que está em andamento ou se prolonga no tempo. Essa estrutura verbal é amplamente utilizada para indicar que algo está acontecendo no exato momento da fala ou que se estende por determinado período.
Veja alguns exemplos do uso adequado do gerúndio:
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Estou levando o bolo que você me pediu.
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Ela está estudando para conquistar novas oportunidades.
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Estão terminando a reforma no apartamento.
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Nós estamos fazendo horas extras para concluir o projeto.
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Eles estão chegando ao local combinado.
Gramaticalmente, o gerúndio é invariável — ou seja, ele não sofre flexão de número ou gênero — e é formado de maneira bastante simples: basta substituir a terminação -r do infinitivo do verbo por -ndo. Assim, “levar” vira “levando”, “estudar” se transforma em “estudando”, e assim por diante.
As formas
Existem duas formas principais de gerúndio:
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Simples, como em “estudando”, “fazendo”, “chegando”;
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Composta, como “tendo estudado” ou “havendo terminado”, que indicam uma ação concluída antes da ação principal da oração.
Exemplos:
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Tendo realizado diversas reuniões sem resultado, decidi aplicar o protocolo de desligamento.
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Estando encerrada a reunião, segui direto para casa.
As funções do gerúndio
Ele pode desempenhar funções distintas na oração, atuando como advérbio ou adjetivo, dependendo do contexto.
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Como advérbio, ele pode indicar o modo como a ação ocorre:
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Na esquina, havia manifestantes protestando energicamente.
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Os pacientes estavam gritando de dor na sala de emergência.
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Como adjetivo, pode qualificar ou caracterizar um substantivo:
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A religiosa, chorando, agradeceu a oferta dos fiéis.
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A florista, sorrindo, recebeu a gorjeta do cliente.
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Exemplos de verbos conjugados no gerúndio:
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Amar: amando
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Caminhar: caminhando
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Conversar: conversando
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Chamar: chamando
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Vender: vendendo
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Fazer: fazendo
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Agradecer: agradecendo
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Atender: atendendo
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Partir: partindo
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Corrigir: corrigindo
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Fingir: fingindo
O que é o gerundismo?
Apesar de ser uma forma verbal correta, o uso excessivo ou inadequado do gerúndio deu origem ao chamado gerundismo — um vício de linguagem comum, especialmente em ambientes corporativos e no atendimento ao cliente. Trata-se do uso artificial ou forçado do gerúndio, geralmente associado a frases prolixas e desnecessariamente complicadas.
Exemplos típicos de gerundismo:
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Vou estar ligando para você mais tarde.
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Vamos estar transferindo sua chamada.
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Ele vai estar aplicando o manual de segurança.
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Vamos estar entrando em contato.
Essas frases, além de soarem mecânicas, tornam a comunicação menos eficiente. A forma mais natural e correta seria:
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Vou ligar para você mais tarde.
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Vamos transferir sua chamada.
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Ele aplicará o manual de segurança.
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Entraremos em contato.
Portanto, embora o gerúndio seja uma ferramenta importante para expressar continuidade, seu uso consciente é essencial para garantir clareza, naturalidade e objetividade na comunicação.
Impacto do gerundismo na comunicação profissional
Explorar com mais profundidade como o gerundismo pode afetar a imagem de empresas, principalmente no atendimento ao cliente, ajuda a contextualizar:
O uso indiscriminado do gerúndio em call centers, por exemplo, passou a ser visto como um artifício para “enrolar” ou parecer eficiente sem de fato resolver o problema. Isso compromete a credibilidade da empresa e pode gerar desconfiança no consumidor.
Quando o uso do é necessário (e até elegante)
Muitas pessoas passam a evitá-lo por medo de cometer erros. Vale ressaltar que o gerúndio não deve ser demonizado:
Frases, como “Passei a tarde lendo um bom livro” ou “Saiu da sala chorando” usam o gerúndio de forma correta, natural e até estilisticamente bonita. O problema não é o gerúndio em si, mas seu uso repetitivo, desnecessário ou mal planejado.
Dicas para evitar na prática
Incluir sugestões práticas ajuda o leitor a aplicar o conhecimento:
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Prefira construções no futuro do presente ou no infinitivo quando não houver necessidade de expressar continuidade.
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Releia seus textos e veja se o gerúndio está mesmo agregando sentido.
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Use o gerúndio apenas quando a ideia de “ação em curso” for indispensável.
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Criando filhos leitores – 4 dicas para incentivar a leitura”, já que o hábito da leitura estimula a criatividade, melhora o desempenho escolar e fortalece o vínculo familiar.