Gradação: entenda a importância da figura de pensamento

Ela aprimora o significado com a progressão sutil de ideias ou intensidades, enriquecendo a expressão e o impacto de textos e discursos.

A gradação é uma figura de linguagem que envolve o uso de uma sequência de palavras ou expressões que intensificam ou suavizam gradualmente uma ideia. Esse encadeamento pode seguir uma ordem crescente, aumentando a intensidade do texto, ou decrescente, que produz um efeito de suavização na mensagem transmitida. Vamos entender como isso funciona!

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Gradação: como reconhecer e usar?

Como mencionado acima, a é uma figura de linguagem que pode ser reconhecida pela presença de uma sequência de palavras ou expressões que se intensificam ou suavizam gradualmente. Suas características principais incluem a progressão de termos que se organizam de maneira crescente ou decrescente, conferindo maior expressividade ao texto. Na ordem crescente, a gradação aumenta a intensidade da mensagem, enquanto na ordem decrescente, ela suaviza o impacto das palavras. Identificá-la envolve observar a forma como as palavras são dispostas para criar um efeito de escalada ou de redução, tornando a comunicação mais dinâmica e envolvente.

Veja alguns exemplos que vão elucidar melhor.

“O tempo passou. Com os anos, Julieta tornou-se encantadora, magnífica, impressionante… esplêndida.”

Neste primeiro caso, a progressão é ascendente, pois as descrições vão de menos intensas (encantadora) para mais intensas (esplêndida).

“O pequeno Carlos chorou, gritou, sussurrou… mas nada parecia prender a atenção do seu pai.”

No segundo exemplo, a sequência é descendente, indo de expressões mais intensas (chorar) para menos intensas (sussurrar).”

Tipos de graduação

Ela pode ocorrer de duas maneiras, dependendo do efeito desejado. Vamos explorar cada uma delas a seguir.

Climax

Conhecida também como gradação ascendente, essa técnica intensifica ou exagera o conteúdo do texto. O autor utiliza palavras para criar um ritmo progressivo entre as ideias, conduzindo-as a um ponto culminante. Assim como em um texto narrativo ou conto, é o momento de maior tensão. Essa técnica visa a instigar o leitor e guiá-lo até o clímax da história. Confira alguns exemplos:

“Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados…
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.”
Na estrofe de “O Desfecho”, de Machado de Assis, a gradação ocorre quando o escritor aumenta gradativamente os numerais. Veja: “mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião”. Percebe?

Anticlímax

A gradação descendente visa amenizar os efeitos da informação. A escolha e organização dos termos são feitas para suavizar o sentido dado à mensagem. É o que vemos nos exemplos abaixo:
“As dores são iguais em todos os lugares: do outro lado do planeta, em outro país, na esquina, aqui.”
“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Monteiro Lobato)
Gradação: entenda a importância da figura de pensamento (Foto: Unsplash).
Gradação: entenda a importância da figura de pensamento (Foto: Unsplash).

Figuras de pensamento

São ferramentas estilísticas utilizadas tanto na fala quanto na escrita para intensificar a expressividade da mensagem comunicada. No português, elas se dividem em quatro categorias: palavra, sintaxe, som e pensamento, sendo a gradação uma das figuras pertencentes a esta última.

Esse grupo de figuras de pensamento se foca no aspecto semântico da linguagem, ou seja, nos significados que uma palavra pode adquirir em diferentes contextos. Veja quais são os outros recursos que compõem as figuras.

Antítese – Aproxima palavras ou expressões com conceitos opostos, mas não contraditórios. Ex: “A vida é assim/Dia e noite, não e sim.” (Lulu Santos e Nelson Motta)

Apóstrofe – Similar ao vocativo, invoca ou chama o receptor da mensagem, destacando alguém (real ou imaginário), um sentimento ou objeto. Aparece entre vírgulas ou outro sinal que transmita entonação exclamativa ou apelativa. Ex: Ô João, você pode esperar mais um pouco?

Eufemismo – Usa palavras mais suaves para tratar de assuntos desagradáveis, tristes ou polêmicos. Suaviza a ideia principal sem alterar seu sentido. Ex: Após anos de sofrimento, Ana finalmente foi se encontrar com Deus. (em vez de “morte”)

Hipérbole – Emprega expressões que exageram a realidade, com o objetivo de destacar ou enfatizar uma ação ou sentimento. Ex: “Por você conseguiria até ficar alegre/ Pintaria todo céu de vermelho/ Eu teria mais herdeiros que um coelho.” (Roberto Frejat)

Ironia – Gera um efeito contrário ao sentido habitual, utilizando humor ou crítica para desvalorizar ou ridicularizar uma pessoa ou situação. Ex: Meu filho é um anjo, apenas recebeu cinco reclamações dos professores desde que as aulas começaram.

Paradoxo – Também conhecido como oxímoro, associa palavras contraditórias para construir uma ideia que parece ilógica, mas resulta em uma ‘contradição’ aceitável. Muito usado para expressar sarcasmo e ironia. Ex: “Amor é um fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói, e não se sente/É um contentamento descontente/É dor que desatina sem doer.” (Luís de Camões)

Personificação (ou prosopopeia) – Atribui características, sentimentos e ações humanas a seres inanimados ou irracionais. Ex: “Aprendi o segredo, o segredo, o segredo da vida/ Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar.” (Raul Seixas)

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