Hipercorreção: o que é e por que pode ser um problema
Veja como o excesso de zelo com a correção gramatical pode comprometer a clareza e a acessibilidade do texto.
Hipercorreção, também conhecida como ultracorreção, refere-se ao ato de corrigir algo que, na verdade, não precisava ser ajustado. No artigo de hoje, nós exploraremos esse conceito e apresentaremos alguns exemplos para ilustrá-lo. Vamos conferir direitinho!
Leia também: O criativo acróstico: veja o que é, como usar e 3 exemplos
O que é hipercorreção?
Como mencionado, é um fenômeno linguístico e social em que uma pessoa altera uma forma linguística ou um comportamento com a intenção de seguir uma norma percebida, mas acaba criando um erro ao corrigir algo que estava correto ou ao exagerar na correção. Esse processo pode ocorrer em várias áreas, como gramática, pronúncia, etiqueta social e escrita, resultando em usos inadequados ou excessivos que desviam das normas aceitas. A hipercorreção geralmente surge de um desejo de conformidade ou de evitar erros, mas, paradoxalmente, leva a novos equívocos.
Quais são as fontes?
- A variação linguística frequentemente apresenta uma forma considerada correta e outra vista como incorreta.
Exemplo: Haviam muitos carros no estacionamento. – O erro ocorre porque o falante segue a regra geral de concordância, que exige que o verbo concorde em número com o sujeito. No entanto, quando o verbo “haver” é usado no sentido de “existir”, ele é impessoal, ou seja, não varia e deve ser sempre utilizado no singular.
- O desejo de falar corretamente ou de uma maneira supostamente mais refinada.
Exemplo: Bandeija, carangueijo, prazeiroso – algumas pessoas, tentando evitar formas populares de falar que excluem a letra “i” de algumas palavras (pexe, chero, caxa, etc.), acabam por incluir a vogal em palavras onde ela não deve estar, como bandeja, caranguejo e prazeroso.
Perceba que o erro surge da intenção de a pessoa tentar falar difícil ou de maneira muito sofisticada.
Na escrita acadêmica
A hipercorreção na escrita acadêmica ocorre quando um autor, na tentativa de ser excessivamente correto, acaba introduzindo erros ou tornando o texto excessivamente complexo e menos compreensível. Este fenômeno pode surgir devido ao desejo de parecer erudito, ao medo de cometer erros gramaticais ou por não conhecer bem as regras da língua.
Principais causas
- Medo de erros: muitos acadêmicos temem cometer erros gramaticais e, na tentativa de evitá-los, acabam aplicando regras de maneira inadequada. Por exemplo, a hipercorreção pode levar alguém a usar “eu vi ele” em vez de “eu o vi”, por acreditar que a última forma soa menos correta.
- Desejo de erudição: na busca por um estilo mais sofisticado e culto, autores podem exagerar no uso de palavras difíceis, construções complexas e termos técnicos, o que pode resultar em um texto confuso e de difícil compreensão.
- Falta de conhecimento: a hipercorreção também pode ocorrer por desconhecimento das regras gramaticais e do uso adequado das palavras. Isso pode levar a erros como o uso incorreto de pronomes, concordância verbal inadequada e frases mal estruturadas.
Impactos
- Perda de clareza: a clareza é fundamental na escrita acadêmica. Quando um texto é excessivamente complexo e cheio de hipercorreções, a mensagem principal pode se perder, tornando difícil para o leitor entender o conteúdo.
- Redução da acessibilidade: textos muito complicados podem afastar leitores que não estão familiarizados com o jargão ou com as estruturas linguísticas complexas, reduzindo o impacto e a disseminação do trabalho.
- Credibilidade comprometida: erros decorrentes de hipercorreção podem comprometer a credibilidade do autor. Um leitor bem-informado pode identificar esses erros e questionar a competência do escritor.
É possível evitar?
Para evitar cometer hipercorreções ao escrever, é essencial cultivar duas qualidades fundamentais:
- Cautela – Sempre que surgir uma dúvida, consulte fontes confiáveis para verificar a regra gramatical correta. Isso pode incluir gramáticas, dicionários, ou até mesmo especialistas na língua. A precaução ajudará a evitar erros e garantirá que sua escrita seja precisa e correta.
- Humildade – Procure sempre comunicar suas ideias de maneira simples e direta, evitando o uso excessivo de termos rebuscados ou complexos. A clareza deve ser sua prioridade, adaptando sua linguagem ao nível de entendimento do seu público-alvo. Lembre-se de que a eficácia da comunicação está em quão bem sua mensagem é compreendida, não na complexidade das palavras que você utiliza.
Estas duas qualidades são essenciais para uma comunicação eficiente e precisa, evitando tanto erros gramaticais quanto o uso desnecessário de linguagem complicada.