As manifestações poéticas da geração de 1930
Descubra como esses poetas reinterpretaram o regionalismo e abordaram a realidade brasileira com uma nova perspectiva, refletindo as tensões e transformações da Era Vargas.
A geração de 1930, que corresponde à segunda fase do Modernismo no Brasil, abrange o período entre 1930 e 1945. Esse momento histórico foi profundamente influenciado por uma série de conflitos sociais e políticos, como a Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, ocorridas no contexto da Era Vargas, além do impacto da Segunda Guerra Mundial.
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Geração de 1930
Essa fase foi marcada pela reflexão dos escritores sobre eventos contemporâneos, com obras que abordavam de forma realista questões sociopolíticas e o conflito espiritual vivido por alguns autores.
Na poesia, representada por nomes como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Murilo Mendes e Jorge de Lima, a liberdade formal prevalece. Já na prosa, assinada por romancistas como Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Erico Verissimo e Rachel de Queiroz, o foco está no engajamento político e nas questões sociais, frequentemente com uma perspectiva regionalista.
As manifestações poéticas
Manifestações poéticas nos remetem imediatamente a certos elementos que as caracterizam. Lirismo, subjetividade, emoções e aspectos formais como métrica, rima e soneto são exemplos disso. Essas características nos parecem familiares, certo? No entanto, para compreendermos os fatores que moldaram a produção lírica dos nossos escritores da época em destaque, é importante destacar algumas particularidades do movimento modernista, especialmente no que diz respeito à Semana de Arte Moderna, seu impacto e seus princípios ideológicos.
O cenário da época era marcado por instabilidades políticas e insatisfações decorrentes da situação econômica, controlada pelas oligarquias. Revoltas como a de 1924 e a do Forte de Copacabana, além da crise de 1929 com a queda da Bolsa de Nova Iorque, contribuíram para esse contexto. Ao mesmo tempo, uma burguesia voltada para valores culturais estrangeiros impulsionou os representantes do Modernismo a proclamar sua “liberdade artística”.
Semana de Arte Moderna
Em fevereiro de 1922, em um ambiente repleto de tensões, aconteceu a Semana de Arte Moderna, um evento que se tornou um marco fundamental para o Modernismo no Brasil. É essencial reconhecer que esse evento veio a consolidar os desejos já expressos por artistas pré-modernistas. Um dos principais objetivos que uniu os participantes da Semana foi a busca por uma nova forma de poesia, caracterizada pela liberdade estética, onde a quebra das estruturas tradicionais dava espaço ao verso livre e a composições irregulares.
Essas aspirações impactaram significativamente o surgimento de talentos renomados que integraram a segunda geração modernista, especialmente na poesia. As conquistas em relação à liberdade formal, juntamente com a ausência de um compromisso com uma revolução estética, propiciaram a valorização tanto dos versos livres quanto das formas clássicas. O contexto de insatisfação social, marcado pelo medo e pela perplexidade diante de revoltas e guerras, e a incerteza gerada por essa realidade, levou à emergência de uma temática voltada para a universalidade.
Simultaneamente, surgiu a chamada poesia intimista, que enfatiza a análise do ser humano e sua relação com o próprio “eu”. Essa abordagem reflete o contexto histórico já mencionado, no qual o poeta se volta para o transcendentalismo, expressando, de forma confidencial, os sentimentos mais profundos que orientam a existência individual. Entre os principais representantes desse movimento, destacam-se nomes como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Cecília Meireles, que se tornaram figuras emblemáticas na literatura brasileira.
Em resumo
A geração de 1930 é formada por escritores da segunda geração da prosa modernista. Preocupados com o cenário sociopolítico do Brasil — muitos enfrentaram perseguições durante a ditadura de Getúlio Vargas —, esses autores utilizaram suas obras como meio de reflexão política e resistência ao regime da época. Assim, suas criações oferecem uma análise crítica e realista do Brasil durante a Era Vargas.
O romance desse período revisita o regionalismo romântico, mas sob uma abordagem realista, distantes da idealização anterior. Nesse novo realismo, além de rejeitar a visão romântica, os escritores abandonaram também a impessoalidade típica do realismo do século XIX. As narrativas desse tempo surgiram a partir de um engajamento político, refletindo a perspectiva individual dos autores sobre a realidade brasileira.