“Mendigo” ou “mendingo”: você sabe qual a forma correta?

Esse tema é um pouco polêmico; entenda o porquê

Você já se deparou com aquela dúvida repentina ao escrever uma palavra e, por mais simples que ela pareça, sua mente começa a questionar tudo? Entre tantas armadilhas da nossa língua, uma delas pode surgir na grafia de um termo muito utilizado no dia a dia: afinal, é “mendigo” ou “mendingo”? Prepare-se para desvendar esse mistério ortográfico e nunca mais ser pego de surpresa!

“Mendigo” ou “mendingo”

A resposta é clara: a única forma dicionarizada e reconhecida oficialmente é “mendigo”. Essa palavra tem origem no latim “mendicum”. De acordo com os principais dicionários, a palavra “mendigo” refere-se a pessoas que dependem de pedir esmolas para sobreviver. Porém, apesar de ser a grafia correta, o uso do termo “mendigo” exige uma reflexão mais profunda, que vamos entender a seguir.

Por que Devemos Repensar o Uso da Palavra?

Embora “mendigo” seja o termo correto do ponto de vista gramatical, seu uso pode ser problemático, principalmente devido ao peso histórico e social que carrega. O termo “mendigo” tem sido associado a um histórico de discriminação, particularmente em períodos em que pessoas em situação de rua eram criminalizadas simplesmente por existirem. Thimotie Aragon Heemann, promotor de Justiça e professor de Direitos Humanos e Direito Constitucional, explica em um artigo para o JOTA como a palavra “mendigo” foi utilizada em contextos de exclusão social, reforçando preconceitos e estigmatizando uma parcela da população vulnerável.

Além disso, ao usar a palavra “mendigo” para se referir a todas as pessoas em situação de rua, corre-se o risco de simplificar excessivamente a realidade dessas pessoas, pressupondo que todas dependem exclusivamente de esmolas para sobreviver. Essa generalização não reflete a complexidade das condições de vida dessa população, que enfrenta desafios variados e nem sempre recebe ajuda na forma de esmolas.

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Dúvidas de Português. Imagem: Freepik

A Terminologia Oficial

Reconhecendo a necessidade de uma abordagem mais cuidadosa e inclusiva, o governo brasileiro adotou oficialmente o termo “população em situação de rua” para se referir a esse grupo social. Esse termo é utilizado no decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, que institui a política nacional para a população de rua. De acordo com esse decreto, a “população em situação de rua” é definida como um “grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular.”

Essa definição reflete uma compreensão mais abrangente e precisa da situação enfrentada por essas pessoas. O termo “população em situação de rua” reconhece que a condição de viver nas ruas é resultado de uma série de fatores interligados, como a pobreza extrema e a ruptura ou fragilização dos vínculos familiares, e não se resume apenas à prática de pedir esmolas.

Exemplos de Uso Adequado do Termo

Diante dessa reflexão, muitas pessoas e instituições têm optado por substituir o uso da palavra “mendigo” por expressões mais inclusivas e respeitosas, como “pessoa em situação de rua” ou “população em situação de rua”. Aqui estão alguns exemplos de como esses termos podem ser utilizados de forma correta e consciente:

  • Exemplo 1: “Hoje em dia, prefiro evitar a palavra ‘mendigo’ e, em vez disso, uso o termo ‘pessoa em situação de rua’ para me referir a esse grupo.”
  • Exemplo 2: “A população em situação de rua também tem direitos e merece ter acesso a políticas públicas que garantam sua dignidade.”
  • Exemplo 3: “Durante o inverno, muitas pessoas em situação de rua enfrentam condições extremas, e é fundamental que a sociedade se mobilize para ajudá-las.”

A Importância de Escolher as Palavras com Cuidado

A língua é um instrumento poderoso que não só reflete a realidade, mas também ajuda a moldá-la. Por isso, é importante escolher nossas palavras com cuidado, especialmente quando falamos de grupos vulneráveis. O termo “mendigo”, embora correto do ponto de vista gramatical, pode reforçar estigmas e preconceitos. Por isso, a adoção de expressões como “pessoa em situação de rua” é uma maneira mais adequada e respeitosa de se referir a essa população, reconhecendo a complexidade de suas situações e evitando generalizações simplistas.

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