Nível de escrita: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético
Entenda como cada etapa reflete o desenvolvimento da linguagem e contribui para a aprendizagem da leitura e escrita.

Com base na teoria de Jean Piaget, que esclareceu de forma detalhada como o ser humano constrói seu conhecimento desde os primeiros anos de vida, a psicóloga e pesquisadora Emília Ferreiro desenvolveu uma abordagem inovadora sobre o processo de aquisição da escrita. Por meio de seus estudos, ela identificou diferentes etapas pelas quais a criança passa ao aprender a escrever, classificando-as em cinco níveis: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético, alfabético e ortográfico.
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Ferreiro destacou que o aprendizado da escrita não começa apenas com a escolarização formal. Antes mesmo de ingressar na escola, a criança já estabelece uma relação com a escrita, ainda que, inicialmente, essa representação seja simbólica e não siga as convenções da língua materna. Com o tempo e a exposição ao ambiente letrado, esse conhecimento evolui, permitindo que a escrita se torne cada vez mais estruturada e compreensível.
O nível de escrita
O processo de aprendizagem da escrita acontece de forma gradual e estruturada, passando por diferentes níveis que refletem o desenvolvimento cognitivo da criança. Antes de atingir a alfabetização e o letramento completo, os pequenos percorrem um caminho que vai dos primeiros rabiscos até a escrita formal.
É essencial compreender que cada fase desempenha um papel fundamental no aprendizado, e respeitar esse percurso é indispensável para garantir um desenvolvimento consistente. O estímulo adequado em cada etapa contribui significativamente para o progresso da criança, permitindo que ela construa suas próprias hipóteses sobre a escrita e avance de maneira natural e progressiva.
A seguir, apresentamos os cinco níveis de escrita identificados por Emília Ferreiro, suas principais características e a idade média em que costumam ocorrer:
Tabela: Níveis de Escrita e suas Características
Nível de Escrita | Características | Idade Média |
---|---|---|
Pré-Silábico | – Uso de garatujas que imitam a escrita adulta, sem correspondência com sons específicos. – Representação de palavras com desenhos ou símbolos. – Ausência de compreensão sobre a relação entre letras e sons (fonemas). |
3 a 4 anos |
Silábico | – Cada símbolo (letra) representa uma sílaba, mas nem sempre corresponde ao som real. – Início da compreensão de que a escrita representa a fala. – Uso predominante de vogais ou consoantes mais sonoras. |
5 a 6 anos |
Silábico-Alfabético | – Combinação de elementos do nível silábico e alfabético. – Algumas sílabas são representadas corretamente, enquanto outras ainda são simplificadas. – Maior consciência de que sílabas podem conter mais de uma letra. |
6 a 7 anos |
Alfabético | – Representação completa das palavras com todas as letras correspondentes aos fonemas. – Aplicação das regras básicas da ortografia. – Capacidade de escrever de forma mais estruturada, ainda que com pequenos desvios. |
7 anos |
Ortográfico | – Uso correto das regras ortográficas e acentuação. – Maior domínio das convenções gramaticais, como pontuação e separação de sílabas. – Capacidade de revisar e corrigir a própria escrita. |
8 a 10 anos |
O que são níveis de escrita?
Entendendo os conceitos
Para compreender os níveis de escrita de maneira mais clara, é fundamental distinguir dois conceitos frequentemente relacionados: alfabetização e letramento. Embora interligados, eles possuem significados distintos e complementares.
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Alfabetização refere-se ao desenvolvimento das competências básicas de leitura e escrita. Nesse processo, a criança aprende a decodificar os símbolos gráficos que compõem a linguagem escrita, reconhecendo a relação entre letras e sons.
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Letramento, por outro lado, vai além da simples decodificação. Ele envolve o domínio funcional da língua escrita, permitindo que o indivíduo utilize a leitura e a escrita de forma significativa em seu cotidiano, compreendendo e produzindo textos em diversos contextos sociais.
Enquanto a alfabetização é o ponto de partida, o letramento representa o aprofundamento e a aplicação dessas habilidades, tornando a escrita uma ferramenta de comunicação efetiva.
A psicogênese da língua escrita e a evolução do aprendizado
A definição dos níveis de escrita foi desenvolvida a partir de estudos sobre a psicogênese da língua escrita, um campo de pesquisa que investiga a origem e o desenvolvimento das habilidades psicológicas e cognitivas relacionadas à escrita.
Os estudos demonstraram que a alfabetização não ocorre de maneira linear ou mecânica. Antes mesmo de serem formalmente ensinadas, as crianças já formulam hipóteses sobre como a escrita funciona, baseando-se em suas observações e interações com o ambiente letrado. Esse entendimento transformou a visão tradicional do ensino da escrita, mostrando que o processo deve respeitar a construção gradual do conhecimento e não se limitar a métodos convencionais rígidos.
Pesquisas também apontaram que dificuldades na aprendizagem da escrita muitas vezes estão relacionadas à falta de compreensão das etapas pelas quais a criança passa. Portanto, entender esses níveis permite que educadores e familiares ofereçam estímulos adequados, favorecendo um aprendizado mais natural e eficiente.
A Importância do desenvolvimento gradual
Cada fase da escrita desempenha um papel essencial no progresso da criança, e é fundamental respeitar o ritmo individual de aprendizagem. O avanço de um nível para outro deve ocorrer de maneira orgânica, sem pressa ou cobranças excessivas, para que o desenvolvimento das habilidades seja consolidado de forma sólida.
O estímulo adequado, a exposição contínua à leitura e a prática frequente da escrita são fatores determinantes para que a criança avance nos diferentes estágios. Dessa forma, ela constrói um aprendizado consistente e significativo, preparando-se para utilizar a escrita de maneira plena e funcional ao longo da vida.