Hora literária – conheça “O crime do padre Amaro”, de Eça de Queirós
Uma obra realista que critica a Igreja Católica e revela os conflitos humanos por meio de uma trama repleta de paixão e tragédia.
O romance “O Crime do Padre Amaro”, do autor português Eça de Queirós, é uma obra-prima do realismo e foi publicado pela primeira vez em 1875. A narrativa oferece uma crítica contundente à Igreja Católica, explorando os conflitos entre a moralidade religiosa e os desejos humanos.
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A história tem início com a transferência do padre Amaro para a cidade de Leiria, onde ele se apaixona por Amélia, uma jovem que acaba tendo sua vida profundamente impactada por essa relação proibida.
Amélia está noiva de João Eduardo, um jovem bem-sucedido, mas pouco dedicado às práticas religiosas. Ela é filha de D. Joaneira, que por sua vez tem um relacionamento com o cônego Dias. A convivência entre o padre Amaro e Amélia se intensifica quando ele passa a morar na casa de D. Joaneira, por indicação do cônego. O sentimento entre os dois se desenvolve e resulta em uma paixão recíproca, que culmina em um desfecho trágico.
“O Crime do Padre Amaro”, um clássico
Tempo da obra
A narrativa, publicada pela primeira vez em 1875, apresenta um tempo cronológico e descreve acontecimentos situados na segunda metade do século XIX.
Espaço da narrativa
Os eventos principais se desenrolam na cidade de Leiria, em Portugal. Contudo, outras localidades como Carcavelos, Estrela e a vila de Vieira também servem de cenário para a trama.
Todos os personagens
João Eduardo: escrevente; Maria da Assunção: amiga da S. Joaneira; Joli: cão de José Miguéis; Natário: padre; Joaquina Gansoso: beata; Gertrudes: ama do abade; Domingos: escrivão; Tio Cegonha: mestre de piano; Gouveia Ledesma: secretário-geral; Carlos: boticário; Maria Vicência: criada de padre Amaro; Carlota: “tecedeira de anjos”; Doutor Gouveia: médico; Conde de Ribamar: marido de Luísa; Dionísia: ex-prostituta; Ruça: criada da S. Joaneira; Sra. Gonçalves: esposa de Gonçalves; Marquesa de Alegros; Antônia ou Totó: filha do sineiro; Ferrão: abade; Mendes: coadjutor; Liset: padre; Cândida: esposa do doutor Godinho; Teresa: prima de Luísa; Amparo: esposa do boticário; Luísa: filha da marquesa; Nunes Ferral: tabelião; Brito: padre; Freitas: procurador; Amaro Vieira: padre e protagonista;
Silvério: padre; Gustavo: tipógrafo; Ana Gansoso: beata; Tio Osório: dono da casa de pasto; Correia: ministro; Abade da Cortegassa; Gonçalves: tio de Amaro; Augusta Caminha ou S. Joaneira: amante do cônego; Joana: mãe de Amaro; Valente: padre; Escolástica: cozinheira de dona Josefa; Cruz: cônego; Agostinho Pinheiro: redator do Voz do Distrito; Tio Esguelhas: sineiro; Artur Couceiro: cantor de modinhas; Amélia: filha da S. Joaneira; Matias: sacristão; Borges: escrivão; Doutor Godinho: um dos criadores do jornal Voz do Distrito; Agostinho Brito: parente de Maria da Assunção; Barbara de Noronha: irmã do marquês; Cruz: cônego; José Miguéis: padre.
Enredo do livro
Após a morte do pároco José Miguéis, o jovem padre Amaro Vieira assume o cargo em Leiria, com ajuda do cônego Dias, que lhe providencia hospedagem na casa da S. Joaneira. Lá, Amaro conhece Amélia, filha da anfitriã, e se encanta por ela. Amaro, que foi criado na casa da marquesa de Alegros e educado graças a ela, entrou no seminário sem vocação devido à influência da marquesa.
Na casa da S. Joaneira, encontros sociais frequentes reuniam o cônego Dias, D. Maria da Assunção e outros, incluindo Amélia, que tocava piano e chamava a atenção do padre. Amélia já havia se apaixonado antes, mas estava comprometida com João Eduardo, um escrevente que planejava se casar com ela ao conquistar um cargo público. Contudo, o sentimento entre Amaro e Amélia cresceu, gerando um conflito interno no padre entre o sacerdócio e seu desejo por ela.
Após um beijo apaixonado em Amélia, Amaro decide mudar de casa, mas continua frequentando os encontros na residência da S. Joaneira. João Eduardo, desconfiado do interesse de Amélia por Amaro, escreveu um artigo difamatório para o jornal “Voz do Distrito”, atacando indiretamente o cônego e o padre. Ao descobrir que João Eduardo era o autor, Amaro usou a situação para provocar o rompimento do noivado entre ele e Amélia.
Com a ajuda de Dionísia, os amantes passaram a se encontrar secretamente na casa do sineiro, tio Esguelhas. O cônego Dias descobriu os encontros e ameaçou expor o caso, mas Amaro o chantageou, mencionando o relacionamento dele com a S. Joaneira. Assim, ambos concordaram em manter silêncio.
Quando Amélia engravidou, o cônego sugeriu que ela se casasse rapidamente com João Eduardo, mas o rapaz havia deixado a cidade. A solução foi enviar Amélia para a quinta da Ricoça até o nascimento da criança, planejando entregá-la a uma ama de criação distante; no entanto, Amaro consultou Carlota, conhecida como “tecedeira de anjos”, para se livrar do bebê. Após o parto, a criança foi entregue a Carlota, mas Amélia não resistiu às complicações e faleceu.
Desesperado, Amaro procurou Carlota, que informou que o bebê também havia morrido. No funeral de Amélia, João Eduardo compareceu, visivelmente abalado, enquanto Amaro deixou a cidade, abandonando tudo para trás.
Sobre o autor
Eça de Queirós (1845-1900) foi um dos maiores escritores da literatura portuguesa e uma figura central do Realismo em Portugal. Conhecido por sua prosa detalhista e crítica social afiada, ele abordou temas como hipocrisia, desigualdade e a corrupção moral da sociedade de sua época. Entre suas obras mais famosas estão “O Primo Basílio”, “Os Maias” e “O Crime do Padre Amaro”, que são exemplos emblemáticos de seu estilo literário e de sua capacidade de expor, com ironia e profundidade, os problemas da sociedade portuguesa do século XIX. Além de escritor, Eça foi diplomata, atuando em países como Cuba, Inglaterra e França, onde viveu grande parte de sua vida.