Entenda qual é o papel do paralelismo no texto
Veja como esse recurso pode melhorar a clareza, o ritmo e a expressividade da sua escrita.

Você já leu um texto em que as frases fluíam com tanta harmonia que pareciam quase musicais? Esse efeito muitas vezes é resultado do uso do paralelismo, uma técnica de estruturação que confere ritmo, clareza e coesão às ideias. No universo da escrita, seja em redações, textos literários ou publicitários, o paralelismo atua como um recurso poderoso para reforçar significados, facilitar a compreensão e tornar a leitura mais agradável.
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Nosso objetivo de hoje, é buscar entender o que é o paralelismo, como ele funciona na prática e por que seu uso consciente pode transformar a qualidade de qualquer texto.
O uso do paralelismo
Ao escrever, nosso principal objetivo é garantir que o leitor compreenda a mensagem com facilidade e interesse. Para isso, existem diversos recursos linguísticos que podem ser empregados — entre eles, o paralelismo se destaca por oferecer organização, ritmo e clareza ao texto. Mesmo que, à primeira vista, ele passe despercebido, seu uso é constante em praticamente todo tipo de construção linguística, da mais simples à mais elaborada.
O paralelismo contribui diretamente para a fluidez da leitura. Ele está presente quando mantemos uma estrutura equilibrada entre palavras, expressões ou orações, promovendo uma sensação de ordem. Isso facilita a assimilação das ideias e torna o texto mais agradável e compreensível. Afinal, para que o pensamento saia da mente do autor e chegue ao papel (ou à tela) de forma coesa e coerente, é necessário mais do que inspiração, é preciso técnica.
Na prática da escrita, dominá-lo é essencial para quem deseja desenvolver textos bem construídos, seja para fins literários, acadêmicos, publicitários ou mesmo no dia a dia profissional. É justamente nesse ponto que o paralelismo entra em cena como uma ferramenta estratégica para garantir clareza, lógica e precisão.
Por que o paralelismo importa?
Sem paralelismo, as frases podem parecer desconexas ou gerar confusão. Veja este exemplo:
“Maria é preguiçosa e veterinária.”
Embora gramaticalmente correta, essa frase combina duas ideias sem relação lógica entre si. Ser “preguiçosa” é uma característica pessoal; “veterinária” é uma profissão. A ausência de conexão entre os termos quebra a fluidez do enunciado, provocando um ruído na interpretação. Esse tipo de erro é chamado de quebra de paralelismo — e pode comprometer seriamente a qualidade da comunicação.
Para evitar esse problema, é importante compreender que o paralelismo pode se manifestar em diferentes níveis: sintático, semântico, morfológico e até rítmico. Vamos entender melhor como cada um funciona.
Tipos de paralelismo
Sintático (ou gramatical)
Ocorre quando as estruturas gramaticais das partes da frase seguem o mesmo padrão. Esse tipo de paralelismo proporciona harmonia e clareza ao texto. Compare os exemplos:
-
Sem:
Peguei todas as respostas da prova no site e da apostila.
Maria sempre foi educada, obediente e teve compreensão.
-
Com:
Peguei todas as respostas da prova no site e na apostila.
Maria sempre foi educada, obediente e compreensiva.
Nos exemplos corretos, as expressões estão organizadas de forma simétrica, facilitando a leitura.
Semântico
Relaciona-se com o significado das palavras. Para que haja paralelismo semântico, os termos precisam estar ligados por uma ideia comum, ou pelo menos dentro do mesmo campo de sentido.
-
Sem:
Gosto de café, sucos e música.
-
Com:
Gosto de café, sucos e vitaminas.
Neste caso, ao alinhar os termos ao campo semântico de bebidas, a frase ganha coerência e unidade.
Exemplos práticos do uso do paralelismo
Vamos analisar a seguinte construção:
“Na fase de grupos, a seleção brasileira vai enfrentar Portugal.”
Embora essa frase seja frequentemente utilizada, há um problema de paralelismo semântico. A seleção brasileira, nesse contexto, não competirá contra o país de Portugal em si, mas sim contra a seleção portuguesa. Para manter a coerência e o paralelismo semântico, a frase deve ser reestruturada da seguinte forma:
“Na fase de grupos, a seleção brasileira vai enfrentar a seleção portuguesa.”
Além do significado, os tempos verbais também devem seguir um padrão. Observe este exemplo:
“Se eles buscassem as crianças, ficaremos aliviados.”
A incongruência está na mistura de tempos verbais: “buscassem” está no pretérito imperfeito do subjuntivo, enquanto “ficaremos” está no futuro do presente. Para manter a harmonia verbal, a frase deve ser:
“Se eles buscassem as crianças, ficaríamos aliviados.”
O paralelismo pode, ainda, ser percebido por meio de determinadas expressões que organizam as ideias em estruturas simétricas e equilibradas. Veja a seguir alguns exemplos:
Expressões que reforçam
1. Não só… mas também
Essa estrutura é comumente usada para reforçar a adição de informações:
Errado:
“O preço da gasolina não só aumentou na região metropolitana de Salvador, mas em todo o estado da Bahia.”
Correto:
“O preço da gasolina não só aumentou na região metropolitana de Salvador, como também em todo o estado da Bahia.”
2. Quanto mais… mais
Esse recurso cria uma ideia de progressão, sendo útil para mostrar causa e consequência ou crescimento:
“Quanto mais estudo, mais chances tenho de ser aprovado no vestibular.”
3. Ora… ora / Seja… seja / Quer… quer
Essas duplas indicam alternância entre ações ou condições:
“É importante manter o foco, ora estudando, ora ouvindo palestras.”
Também pode ser escrito como:
“Quer estudando, quer ouvindo palestras.”
“Seja estudando, seja ouvindo palestras.”
4. Nem… nem / Não… nem
São usados para criar uma enumeração negativa:
“Não contamos com o apoio do Governo Federal, nem do Estadual.”
5. Tanto… quanto
Serve para expressar equivalência ou adição entre dois elementos:
“O valor da bonificação será o mesmo tanto para quem está na empresa há um ano quanto para os que completaram dois anos.”
6. Por um lado… por outro
Essa estrutura destaca dois aspectos de uma mesma situação, geralmente contrapondo pontos positivos e negativos:
“Por um lado, o Governo Federal não agiu com agilidade. Por outro, o Estadual implementou diversas medidas de prevenção.”
Tipos de paralelismo
Além das expressões que ajudam a construir paralelismo, é possível identificar diferentes formas dessa estratégia textual:
Morfológico
Acontece quando os termos usados pertencem à mesma classe gramatical. A ausência dessa harmonia prejudica o entendimento.
- Sem:
“Proibido caçar e animais.”
- Com:
“Proibido caçar e portar animais.”
Ou ainda:
“Proibido caçar. Proibido portar animais.”
Rítmico
É o paralelismo que se apoia na cadência e na musicalidade da frase. Muito comum em poesia e letras de música, ele busca manter o ritmo e o número de sílabas semelhantes entre os membros da oração.
- Sem:
“Vi o pássaro cantar, o pinto piar e a vaca.”
- Com:
“Vi o pássaro cantar, o pinto piar e a vaca mugir.”
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Criando filhos leitores – 4 dicas para incentivar a leitura”, já que o hábito da leitura estimula a criatividade, melhora o desempenho escolar e fortalece o vínculo familiar.