O que é o Nheengatu?
Quando falamos que a língua portuguesa sofre influências do tupi-guarani, o que é preciso levar em consideração é o início da colonização americana por europeus. Porque não devemos ser ingênuos de pensar que os europeus não sofreram influência dos nativos.
Eles foram bastante influenciados, tanto que, a primeira língua da então colônia brasileira, até meados do século 19, não era o português – ou pelo menos, não entre as camadas populares (mineradores, trabalhadores rurais, trabalhadores braçais).
Era uma língua chamada Nheengatu ou língua-geral – uma maneira como era referido a língua Tupi-guarani.
Porém, a adoção do nheengatu não foi algo natural, e imediato. E a língua não era a principal, entre os nativos.
Para entender melhor, leia nosso artigo.
Uma língua comum na América Portuguesa
Quando os europeus aportaram nas Américas, havia uma imensa gama de línguas e povos habitando as três américas. Pesquisadores estimam algo como 1200 dialetos e idiomas.
Ainda que os povos nativos da América Central tivessem pouco ou nenhum contato com os nativos do Sul e do Norte, nas regiões que viriam a ser a América Latina havia um trânsito cultural e econômico.
Os europeus que aportaram onde viria a ser o Brasil, dessa maneira, se viram diante de um impasse: era preciso se comunicar com aquelas pessoas – inclusive, para aprender a sobreviver na terra nova.
O tronco linguístico “escolhido” para compor uma língua geral sul-americana foi o tupi-guarani, uma das etnias mais presentes na região costeira brasileira.
Entretanto, como dissemos, essa adoção da língua não foi unilateral. O que hoje conhecemos como nheengatu é uma língua de forte influência do tronco tupi, mas com diversas adaptações linguísticas feitas pelos europeus.
A língua de mulheres, crianças e padres
No início da colonização, nos séculos 16 e 17, o nheengatu era uma língua difundida entre as classes mais populares, devido a uma das formas como se dava a colonização: pela catequese e matrimônios entre europeus e nativos.
Dessa forma, o português era muito mais utilizado por homens, principalmente por homens das classes mais altas.
O nheengatu era mais utilizado por indivíduos que, efetivamente, não precisavam interagir com a Coroa: os trabalhadores rurais e de minas e seus familiares.
Isso porque, nos primeiros séculos muitas famílias eram formadas por uma mulher de origem gentia e um homem europeu, ou de família europeia. Já os religiosos, esses aprendiam a língua para poderem catequisar a população.
O nheengatu hoje
Assim, chegamos a uma questão importante: se existia no Brasil uma língua-geral, por que hoje falamos apenas o português?
Há algumas explicações para isso. A primeira é o fato de o nheengatu ser uma língua de classes mais populares. Outro motivo foram as campanhas de nacionalização, iniciadas a partir da chegada da Coroa em 1808.
Contudo, a língua não morreu totalmente. Além de ter sido o idioma que nomeou milhares de coisas do Brasil (cidades, alimentos, objetos cotidianos), o nheengatu se transformou na língua Guarani, usada no Paraguai, e regiões da Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul.