Realismo fantástico – gênero, características e exemplos

Descubra suas principais características, como a integração do fantástico à realidade, e conheça exemplos icônicos de autores como Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges.

O realismo fantástico é um conceito presente em diversas manifestações artísticas, caracterizado pela fusão de elementos reais, fantásticos e oníricos em uma composição integrada. Ele utiliza a junção de fatos históricos, mitos, lendas e tradições folclóricas para criar narrativas inovadoras, desafiando as percepções tradicionais da realidade ao incorporar imagens que escapam à lógica científica convencional.

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Realismo fantástico

A fantasia literária tem suas raízes nas origens das comunidades humanas, associada à tradição oral de contar histórias e descrever lugares distantes, frequentemente fictícios, ou a um passado remoto em relação ao período do narrador. Por outro lado, a literatura realista, como aponta Jorge Luis Borges, começou a ganhar contornos mais definidos apenas a partir do século XIII, com o surgimento das sagas escandinavas e do romance picaresco.

Com o advento da Revolução Industrial e as transformações profundas que ela trouxe para o cotidiano europeu, consolidou-se o romance de costumes como um dos gêneros literários predominantes. Esse tipo de narrativa busca retratar e, por vezes, analisar os valores, crenças e contradições de uma sociedade contemporânea ao autor.

A tendência de ambientar histórias no presente foi reforçada pelos movimentos artísticos do realismo e do naturalismo, que emergiram na metade do século XIX. Essas correntes tinham como objetivo representar a realidade de forma objetiva, fundamentando-se em conceitos científicos e deterministas. A ascensão do método científico, os avanços tecnológicos e o ritmo acelerado das mudanças marcaram esse período, refletindo-se nas produções literárias.

Esse foco na representação objetiva da realidade restringiu o espaço para narrativas que se desviassem de uma lógica estritamente científica. No entanto, as experimentações promovidas pelas vanguardas artísticas, na primeira metade do século XX, buscaram romper com as convenções estabelecidas, propondo uma arte mais voltada à transformação da realidade do que à sua simples descrição.

Por volta do século XX, a literatura começou a transcender a mera representação da realidade. Surgiu, então, um interesse crescente por narrativas que ultrapassassem os limites factuais e cotidianos. O termo “realismo mágico” foi introduzido em 1925 pelo crítico de arte alemão Franz Roh. Mais tarde, em 1948, o venezuelano Arturo Uslar Pietri incorporou essa expressão à sua análise da literatura nacional, o que deu origem a um conceito ampliado: o realismo maravilhoso.

Na América Latina, especialmente entre os países hispano-americanos, o realismo maravilhoso floresceu entre as décadas de 1930 e 1970. Esse movimento tornou-se uma forma de afirmar a identidade cultural das nações colonizadas pela Espanha, ressignificando a ideia de “maravilha” associada pelos europeus ao chamado Novo Mundo. Assim, essa abordagem foi integrada à literatura regional como uma resposta crítica às exclusões sociais geradas pelos processos de modernização que impactavam (e continuam a impactar) a América Latina.

É fantástico, maravilhoso ou mágico?

Embora frequentemente tratados como sinônimos, os conceitos de realismo fantástico, realismo mágico e realismo maravilhoso possuem diferenças significativas, sendo alvo de amplos debates e discordâncias no meio crítico.

O realismo maravilhoso, em particular, está geralmente associado às produções literárias da América Latina, que resgatam o termo “maravilhoso” a partir de registros e relatos dos colonizadores durante o período das Grandes Navegações. Nesse contexto, os autores vinculados ao realismo maravilhoso adotam uma postura crítica que busca afirmar a identidade cultural latino-americana. Dessa forma, o realismo maravilhoso torna-se uma representação simbólica das diferentes temporalidades, contradições e sincretismos presentes na realidade latino-americana.

Por outro lado, os conceitos de realismo fantástico e realismo mágico não se vinculam a um movimento literário ou contexto histórico específico. Autores diversos, como E.T.A. Hoffmann e Edgar Allan Poe, frequentemente são incluídos nessa categoria, apesar das diferenças marcantes em suas obras.

Realismo fantástico – gênero, características e exemplos (Foto: Unsplash).
Realismo fantástico – gênero, características e exemplos (Foto: Unsplash).

As características e obras

O realismo maravilhoso combina elementos do cotidiano com aspectos provenientes de universos folclóricos, míticos ou oníricos. Nesse estilo, os elementos extraordinários e fantásticos são totalmente integrados à realidade, criando uma convivência natural entre o mundo real e o fantástico.

Esse gênero frequentemente quebra a linearidade temporal e desconsidera a causalidade, questionando a lógica e as convenções racionais.

Entre os principais autores desse movimento estão Gabriel García Márquez (Colômbia, 1927-2014) e Jorge Luis Borges (Argentina, 1889-1986), cujas obras se destacam no cenário latino-americano. Outros escritores notáveis incluem Mario Vargas Llosa (Peru, 1936), Julio Cortázar (Argentina, 1914-1984) e Isabel Allende (peruana radicada no Chile, 1942). A obra-prima do realismo maravilhoso é “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez, publicada em 1967.

A história, que se passa na fictícia Macondo, acompanha sete gerações da família Buendía, misturando eventos históricos da Colômbia, elementos da vida rural, ressurreições e até insônias coletivas. A obra foi inspirada por histórias da América Latina e pela tradição oral que García Márquez ouviu em sua infância. “Cem anos de solidão” foi o primeiro best-seller latino-americano e já vendeu mais de 50 milhões de cópias, traduzido para mais de 36 idiomas.

Jorge Luis Borges, por sua vez, é conhecido por suas narrativas labirínticas e filosóficas, que misturam o imaginário e o empírico. Sua coleção de contos “Ficcções” (1944) consolidou seu prestígio literário, apresentando histórias que brincam com a fronteira entre realidade e ficção. Outra obra relevante de Borges é “O livro dos seres imaginários” (1957), que reúne mais de cem criaturas mitológicas de diversos autores clássicos e do imaginário coletivo, como duendes e fadas.

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