O que foi o Teatro Popular do Nordeste?
Dentre os muitos movimentos artísticos do Brasil pós-II Guerra, um dos mais influentes foi o Teatro Popular do Nordeste (TPN).
Podemos dizer, inclusive, que aquilo que conhecemos enquanto arte popular brasileira se deve, em muito, a esse movimento artístico. Peças como O Auto da Compadecida ou O santo e a porca de Ariano Suassuna se devem, em muito, a esse movimento.
Por quê? Porque Ariano, junto com o dramaturgo Hermilo Borba Filho e o músico Capiba, ambos pernambucanos, foram os fundadores desse movimento artístico.
Conheça mais sobre a história desse marco da dramaturgia nacional:
Origens estudantis
Antes de falarmos do TPN, é preciso voltarmos até os anos de 1940, quando Borba e Suassuna se unem, a fim de criarem o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP).
Esse grupo tinha como proposta apresentar peças de teatro de forte influência regionalista do Nordeste, prezando, contudo, pela excelência estética e dramatúrgica.
Já o público-alvo seria a população geral, notadamente, estudantes universitários e trabalhadores do proletariado.
Entretanto, não se tratava apenas de encenar, mas encenar por meio de uma estética e linguagem própria das manifestações populares do Nordeste.
Dentre essas, o teatro de mamulengos (aqueles fantoches típicos, com roupas bufantes e cabeças de papel machê), o teatro religioso, o cordel, o Bumba-meu-boi, e o repente.
Esses padrões viriam a servir de influência na composição, tanto das peças e textos, quanto da metodologia de atuação.
Contudo, o TEP foi perdendo sua força, ainda que as ideias continuassem vivas.
Um teatro do povo
O caminho natural de Borba, Suassuna, Capiba e ainda de autores como Cavalcanti Borges e Gastão Holanda foi a criação do TPN, nos anos de 1960.
Esse procurou aprofundar as questões levantadas pelo TEP, trazendo textos de caráter político, como o caso de A Mandrágora de Maquiavel.
Esse foi o principal carro-chefe do TPN: levar as obras de autores de relevância mundial, como Gogol, Pirandello e Ibsen a públicos variados. Além de autores consagrados, o grupo teve a proposta de criar peças inéditas, a partir dessa estética.
Ou seja, a partir de uma linguagem de caráter fortemente alegórico e oralizada, influenciada pela estética medievalista. Isso não significava criar uma peça apelativa, e superficial.
Antes, uma obra complexa, mas acessível a uma audiência sem estudos formais ou avançados.
Um teatro político, mas não panfletário
Apesar de ser um teatro de forte carga social, o trabalho do TPN não era panfletário, isso é, engajado com um discurso político direto e combativo.
Por esse motivo, desagradava a algumas esferas e setores da esquerda política de sua época, que prefeririam uma arte de enfrentamento direto.
Por outro lado, por ser minimamente engajada na educação e formação artística das populações carentes, o TPN foi duramente criticado pelos setores da direita, mas continuou suas atividades, mesmo após o Golpe Militar de 1964.
Porém, depois de 1968, com o Ato Institucional nº5, o TPN foi duramente perseguido, e embora continuasse, encerrou suas atividades em 1975, com a morte de Hermilo Borba Filho.