Hora literária – “As horas nuas”, de Lygia Fagundes Telles
Uma hora literária dedicada à análise do enredo, estilo, temas e importância no contexto do pós-modernismo brasileiro.

“As horas nuas”, romance de Lygia Fagundes Telles, insere-se na terceira fase do Modernismo brasileiro, também conhecida como pós-modernismo. Lançado em 1989, a obra acompanha a trajetória de Rosa Ambrósio, uma atriz em declínio que enfrenta profundas reflexões existenciais enquanto vive em um apartamento na cidade de São Paulo.
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A narrativa destaca a construção da identidade feminina e traz características marcantes como o monólogo interior, a fragmentação e o uso de elementos fantásticos. Por meio desses recursos, a autora retrata a realidade da burguesia brasileira no final do século XX, em um cenário de transição para a democracia após o período da Ditadura Militar.
Do que fala “As Horas Nuas”?
Resumo do livro
“As Horas Nuas” é um romance escrito por Lygia Fagundes Telles, uma das grandes autoras da literatura brasileira. Publicado em 1989, o livro faz parte do movimento literário conhecido como terceira fase do modernismo — ou pós-modernismo — e acompanha os dias de Rosa Ambrósio, uma atriz em processo de decadência, pertencente à elite burguesa.
A protagonista, Rosa, vive mergulhada em lembranças e reflexões sobre sua vida, carreira e escolhas. O romance retrata sua rotina repleta de frustrações, relações rompidas e solidão, enquanto ela se agarra ao passado e fantasia com a possibilidade de escrever um livro de memórias. Nascida em São Paulo em 19 de abril de 1923 e falecida na mesma cidade em 3 de abril de 2022, Lygia foi romancista e contista, consagrada por suas obras densas e psicológicas.
Análise da obra
Personagens principais
Entre os nomes que compõem a trama estão:
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Rosa Ambrósio (protagonista)
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Rahul (seu gato)
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Gregório
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Diogo
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Cordélia
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Dionísia
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Ananta Medrado
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Renato Medrado
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Lili
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Leon
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Marta
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Marlene
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Douglas
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Flávia
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Miguel
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Lorelai
Tempo narrativo
Embora o livro não informe datas exatas, as falas da personagem principal sugerem que os acontecimentos ocorrem no fim do século XX, provavelmente na década de 1980; no entanto, mais importante que o tempo cronológico, o romance é marcado por um tempo psicológico, predominante na narrativa interna da protagonista.
Espaço
Grande parte da narrativa se passa no apartamento de Rosa Ambrósio, localizado em São Paulo. É nesse espaço íntimo que ocorrem as reflexões da personagem e o desenvolvimento do chamado “fluxo de consciência”, tanto dela quanto de seu gato Rahul.
Enredo
A narrativa gira em torno da decadência emocional e profissional de Rosa Ambrósio, uma atriz de aproximadamente 50 anos. Envolta em sentimentos de frustração, ela recorre ao álcool e à alienação para lidar com a própria realidade e com o descontentamento diante do país. Seu gato, Rahul, tem um papel curioso na história: além de acompanhar Rosa em sua solidão, ele também narra partes da trama, com lembranças que sugerem uma existência anterior, humana.
Rosa revive memórias fragmentadas de seus antigos amores — Gregório, com quem teve a filha Cordélia, e Diogo, seu ex-secretário e amante — além de episódios com sua mãe e com a analista Ananta Medrado. A relação com a terapeuta é importante na história, pois traz à tona diversas angústias da protagonista.
Gregório, seu ex-marido, era um professor com forte posicionamento político de esquerda, perseguido pela ditadura militar. Após ser torturado, passou um tempo lecionando na França antes de retornar e, mais tarde, cometer suicídio devido a uma doença incapacitante. Rosa, marcada por essa perda, é incapaz de superar a ausência dele e mantém uma vida limitada a lembranças, consultas com a analista, a companhia do gato e o desejo de reviver a juventude e os tempos de glória.
Rahul, o gato, é testemunha de fenômenos misteriosos, como a presença espiritual de Gregório e de uma menina que teria vivido no início do século XX. A narrativa, por vezes, se mistura entre a realidade e a fantasia, refletindo o estado psicológico instável da protagonista.
Após o desaparecimento repentino de Ananta, seu primo Renato procura a polícia. Rosa, por sua vez, acaba internada em uma clínica para dependentes químicos, supostamente por ter torcido o pé, enquanto se prepara para estrear uma nova peça de teatro chamada Doce Pássaro da Juventude.
A última imagem é a de Rahul observando Renato da janela, numa cena carregada de simbolismo sobre o que resta da vida de Rosa: fragmentos, olhares e sombras do que já foi.
Estrutura do romance
A narrativa de “As horas nuas” é dividida em 18 capítulos, organizando a trajetória da protagonista de forma linear, ainda que pontuada por reflexões e memórias.
Estilo literário
Inserido no contexto da terceira fase do modernismo brasileiro, também conhecida como pós-modernismo, o romance apresenta forte enfoque no universo feminino e adota uma abordagem intimista. A escrita é marcada pela fragmentação, presença de elementos do realismo fantástico, crítica social e uso do fluxo de consciência. Além disso, a obra mergulha em reflexões sobre a existência e os conflitos internos da personagem principal.
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Hora literária – veja 5 poemas de Olavo Bilac“, considerado um dos maiores representantes do parnasianismo no Brasil, Bilac encantou gerações com sua escrita refinada.