Mais do português: a origem das expressões – parte II
Veja como essas frases enriquecem nossa comunicação diária com curiosidades e exemplos práticos.
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É amplamente reconhecido que as expressões são adquiridas por meio do contato direto com a língua durante o processo de socialização. Estudos indicam que, por volta dos 6 anos, as crianças começam a empregar certas expressões e, a partir desse estágio, seguem ampliando seu repertório lexical de forma contínua.
Origem das expressões
As expressões idiomáticas surgiram no português, assim como em outras línguas, devido a uma combinação de fatores culturais, históricos e sociais que influenciaram a comunicação ao longo do tempo. Aqui estão algumas razões principais:
Influência cultural e histórica: as muitas vezes, elas refletem eventos históricos, mitos, tradições e costumes culturais. Por exemplo, algumas expressões podem ter raízes em contos populares, lendas ou episódios históricos que marcaram a cultura portuguesa.
Interação com outras línguas: a língua portuguesa sofreu influência de várias outras línguas devido ao comércio, colonização e imigração. O contato com outras culturas trouxe novas palavras e expressões que foram adaptadas e incorporadas ao português.
Necessidade de comunicação eficaz: as expressões idiomáticas permitem que as pessoas se comuniquem de maneira mais expressiva e eficaz. Elas podem transmitir ideias complexas de forma concisa e muitas vezes carregam significados emocionais ou humorísticos que vão além das palavras literais.
Evolução linguística natural: a linguagem está em constante evolução. Com o tempo, as palavras e frases podem mudar de significado, e novas expressões podem surgir. Este processo é parte da natureza dinâmica das línguas vivas.
Criatividade e metáforas: muitas são baseadas em metáforas e comparações criativas que facilitam a compreensão de conceitos abstratos através de imagens concretas. Isso reflete a tendência humana de pensar e se expressar de maneira figurada.
Em resumo, as expressões idiomáticas no português surgiram como resultado de um rico entrelaçamento de influências culturais, históricas e linguísticas, combinadas com a necessidade humana de se comunicar de maneira eficaz e expressiva.
Algumas das mais comuns
Casa da mãe Joana
A expressão “casa da mãe Joana” refere-se a um local onde tudo é permitido, onde qualquer um pode entrar e dar ordens, caracterizando uma total falta de organização.
A mulher que inspirou essa expressão viveu no século XIV. Joana, condessa da Provença e rainha de Nápoles (Itália), teve uma vida repleta de tumultos.
Em 1347, aos 21 anos, ela regulamentou os bordéis de Avignon, cidade onde estava refugiada. Uma das regras estabelecia: “o local deve ter uma porta por onde todos possam entrar”. Assim, “casa da mãe Joana” passou a ser sinônimo de prostíbulo, um lugar dominado pela desordem.
Santinha do pau oco
Frase utilizada para descrever alguém que aparenta ser bondoso, mas na realidade não é.
Durante os séculos XVIII e XIX, os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas escondiam suas mercadorias em estátuas ocas de santos. Estas estátuas, recheadas com os itens valiosos roubados, eram então enviadas para Portugal.
Voto de Minerva
A expressão tem sua origem em uma história pertencente à mitologia grega. Agamenon, o comandante da Guerra de Troia, ofereceu a vida de uma filha em sacrifício aos deuses para conseguir a vitória do exército grego contra os troianos.
Sua mulher, Clitemnestra, cega de ódio, o assassinou. Com esses crimes, o deus Apolo ordenou que o outro filho de Agamenon, Orestes, matasse a própria mãe para vingar o pai. Orestes obedeceu, mas seu crime também teria que ser vingado. Em vez de aplicar a pena, Apolo deu a Orestes o direito a um julgamento, o primeiro do mundo. A decisão, tomada por 12 cidadãos, terminou empatada.
Chamada pelos gregos de Atenas (Minerva era seu nome romano), a deusa da sabedoria proferiu seu voto, desempatando o feito e poupando a vida de Orestes. Eis a razão da expressão Voto de Minerva (também conhecida como “voto de desempate” ou “voto de qualidade”).