Mais do português: a origem das expressões – parte III

Descubra o significado por trás de ditados e frases que usamos no dia a dia!

As expressões populares, pérolas do folclore linguístico, residem no coração da língua portuguesa, pulsando com a vida e a sabedoria do povo. Mais do que simples combinações de palavras, são portais para a cultura, revelando costumes, valores e crenças que moldaram a identidade de um povo.

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A origem das expressões

Na sinfonia da fala coloquial, as expressões populares despontam como notas singulares, tecendo um mosaico de significados que transcendem o dicionário. Em seu cerne, reside a alma da língua, impregnada da vivência e do humor do povo, tecendo um elo entre gerações e perpetuando tradições.

Cada expressão popular é um universo em si, carregada de nuances e interpretações que variam de acordo com o contexto e a região. “Dar o pé na lata”, por exemplo, pode significar tanto “fugir” quanto “desistir”, enquanto “meter o bedelho” assume o sentido de “interferir” ou “intrometer-se”.

As expressões são um espelho da cultura, refletindo costumes, valores e crenças do povo. “Dar o nome aos bois”, por exemplo, significa “dizer as coisas sem rodeios”, revelando a franqueza e a honestidade valorizadas na sociedade. Já “estar com a faca nos dentes” expressa a determinação e a garra para alcançar um objetivo, características marcantes da cultura brasileira.

Cada região possui um vocabulário rico em expressões populares que refletem suas particularidades. No Nordeste, por exemplo, “cair no sarapatel” significa “se dar mal”, enquanto no Sul, “guai” é usado para expressar surpresa ou desaprovação. Essas expressões contribuem para a identidade regional, fortalecendo o senso de pertencimento e a valorização da cultura local.

Mais do português: a origem das expressões – parte III (Foto: Unsplash).
Mais do português: a origem das expressões – parte III (Foto: Unsplash).

Qual é a origem?

Para te ajudar a desvendar os mistérios por trás dessas joias linguísticas, preparei um roteiro de exploração:

1. Na trilha da história

  • Erro crasso: acredita-se que a expressão tenha surgido a partir de um erro cometido pelo romano Marco Licínio Crasso, que perdeu uma batalha e a própria vida em 53 a.C.

  • Por a mão no fogo: essa expressão remete a uma prática cruel da Inquisição, onde acusados de heresia eram obrigados a segurar uma barra de ferro quente com a mão.

2. Mergulhando na cultura

  • Tomar banho: tomar banho era visto como um ato de purificação, tanto do corpo quanto da alma. Assim, dizer para alguém “ir tomar banho” era uma forma de repreendê-lo por seu comportamento.

  • Dar o pé na lata: essa expressão pode ter surgido em referência às antigas carroças de lixo, que eram puxadas por cavalos. Ao fugir, a pessoa “dava o pé na lata”, ou seja, chutava a lata para assustar o cavalo e fazê-lo correr.

  • Meter o bedelho: “bedelho” era um instrumento usado por funcionários públicos para anunciar avisos. A expressão significa interferir em algo sem ser convidado, assim como o bedelho interrompia as conversas com seus anúncios.

3. Desvendando a mitologia

  • Ter sete vidas como gato: essa expressão faz referência à crença popular de que os gatos possuem várias vidas devido à sua agilidade e capacidade de escapar de situações perigosas.

  • Deitar a barba no colo: antigamente, os homens usavam barba como símbolo de virilidade. Deitar a barba no colo era um gesto de submissão, como se estivesse se colocando à mercê de alguém.

4. Explorando outras origens

  • Dar com a cara na parede: essa expressão pode ter surgido em referência às casas antigas, que eram feitas de taipa e tinham paredes frágeis. Ao se chocar contra a parede, a pessoa se machucava, simbolizando um fracasso ou obstáculo.

  • Cair no conto do vigário: a expressão tem origem em uma história real de um vigário que enganava pessoas fingindo ser rico e precisando de ajuda para transportar uma grande quantia de dinheiro.

Lembre-se: desvendar a origem é um processo contínuo e fascinante. Cada nova descoberta nos aproxima da riqueza cultural da nossa língua e nos conecta com a sabedoria do povo.

Exemplos

Chato de galochas

Denominamos “chato de galochas” uma pessoa que é particularmente inconveniente e apresenta um comportamento socialmente desagradável, insistindo em assuntos que não interessam aos outros. É como se fosse uma versão “especialmente chata”, ou seja, mais irritante do que o comum. Acredita-se que a expressão tenha surgido por volta da década de 1950, quando o uso de galochas era um hábito comum entre homens e mulheres.

As galochas são botas de borracha projetadas para proteger os pés da água, mantendo-os secos e protegidos da umidade. Feitas de material resistente, essas botas geralmente são usadas sobre os calçados normais em ambientes com muita água ou lama. Dessa forma, mesmo em condições climáticas desfavoráveis, o chato colocava suas galochas e entrava na casa das pessoas, molhando e sujando o piso da residência do anfitrião.

Guardar a sete chaves

No século 13, baús eram utilizados para armazenar joias e documentos da corte portuguesa. Cada baú possuía quatro fechaduras, sendo necessário quatro chaves diferentes, distribuídas entre funcionários do reino, para abri-los. Com o passar do tempo, os baús deixaram de ser usados. A expressão “guardado a quatro chaves” evoluiu para “guardado a sete chaves”, influenciada pelo misticismo em torno do número 7. Esse misticismo tem suas raízes nas antigas religiões babilônicas e egípcias, que veneravam os sete planetas conhecidos naquela época.

Portanto, a expressão “guardar a sete chaves” refere-se ao ato de proteger algo com extrema segurança e confidencialidade.

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