Funções da linguagem – para que serve a função poética?
Veja também alguns exemplos práticos e dicas!

A linguagem não serve apenas para transmitir informações objetivas — ela também tem o poder de emocionar, provocar reflexões e encantar. É aí que entra a função poética da linguagem, um dos seis tipos estudados na comunicação. Muito além da poesia escrita, essa função está presente em músicas, propagandas, falas do cotidiano e até nas redes sociais, sempre que a forma de dizer ganha destaque e desperta o olhar criativo do receptor. Neste conteúdo, você vai entender o que é a função poética, qual seu objetivo e onde ela aparece no nosso dia a dia.
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Como usar a função poética?
A função poética da linguagem, estudada e descrita pelo renomado linguista russo Roman Jakobson, é uma das seis funções presentes em seu modelo clássico da comunicação verbal. Também chamada de função estética, ela se caracteriza por dar ênfase especial à forma da mensagem — ou seja, à maneira como as palavras são escolhidas, organizadas e apresentadas, indo além do simples conteúdo transmitido.
Nesse tipo de uso da linguagem, o foco se volta para a beleza, o ritmo, a musicalidade, os jogos de palavras e os recursos expressivos, como metáforas, aliterações e imagens sensoriais. A intenção é provocar sensações, despertar emoções e estimular a imaginação de quem lê ou ouve. Embora a função poética esteja fortemente associada à literatura — especialmente à poesia —, ela pode ser percebida em músicas, slogans publicitários, provérbios e até em falas do cotidiano, sempre que o aspecto criativo e expressivo da linguagem se sobressai.
Mais do que informar ou convencer, a função poética busca encantar pela forma, explorando o potencial estético da linguagem em sua plenitude. É por isso que ela atua não apenas no nível do significado literal, mas também no simbólico, conferindo profundidade e múltiplas interpretações à mensagem.
Principais características da função poética
Ela é uma das mais expressivas e criativas formas de uso da linguagem.
Diferente das demais funções comunicativas, ela coloca em destaque não apenas o conteúdo da mensagem, mas também a forma como ela é construída. Seu foco está na estética da linguagem, no modo como as palavras soam, se organizam e despertam sensações. Abaixo, exploramos algumas das características mais marcantes que ajudam a reconhecer essa função no texto.
- Ritmo e musicalidade
Uma das marcas mais evidentes da função poética é a busca por ritmo e sonoridade. Textos com esse foco costumam apresentar uma cadência própria, construída por meio de rimas, repetições, aliterações, assonâncias e até mesmo pausas calculadas. Esses recursos conferem fluidez à leitura e intensificam o impacto emocional, aproximando a linguagem da música.
- Emoção e profundidade reflexiva
A função poética é um canal poderoso para a manifestação de emoções intensas e pensamentos profundos. Por meio dela, o emissor revela sentimentos, angústias, encantamentos e reflexões existenciais sobre a vida, o amor, a morte, o tempo e tantos outros temas universais. A linguagem, nesse contexto, ultrapassa o uso cotidiano e se transforma em um instrumento de introspecção e sensibilidade.
- Riqueza de figuras
O uso de recursos estilísticos, como metáforas, hipérboles, antíteses, personificações, comparações e outros, é constante em textos que empregam a função poética. Essas figuras de linguagem não apenas embelezam o texto, como também ampliam seus sentidos, criando imagens vívidas e abrindo espaço para interpretações mais subjetivas e simbólicas.
- Ambiguidade e múltiplos sentidos
Na função poética, o significado das palavras raramente é único. Ao contrário, há uma valorização da ambiguidade e da polissemia, ou seja, da possibilidade de que uma mesma expressão seja compreendida de diferentes maneiras. Essa abertura interpretativa enriquece o texto e convida o leitor a participar ativamente do processo de construção de sentido.
Outras funções: muito além da poética
Embora a função poética seja uma das mais marcantes por valorizar a forma da mensagem, ela não é a única maneira pela qual a linguagem pode se manifestar. O linguista russo Roman Jakobson, um dos principais teóricos da comunicação, identificou seis funções essenciais da linguagem, cada uma voltada para um aspecto específico do ato comunicativo. A função poética é apenas uma delas — e, para compreendê-la por completo, é fundamental conhecer as demais.
A tabela a seguir apresenta essas funções, evidenciando suas características e elementos centrais na comunicação:
Função | Características |
Referencial ou Informativa | – Transmite informações objetivas e factuais. – Foca o referente ou o contexto externo. – Usa linguagem direta e denotativa. |
Emotiva ou Expressiva | – Expressa sentimentos, emoções e opiniões do emissor. – Foca o estado emocional ou psicológico do emissor. – Usa linguagem subjetiva e expressiva. |
Conativa ou Apelativa | – Busca influenciar ou persuadir o receptor. – Foca o receptor da mensagem. – Usa imperativos, sugestões ou solicitações. |
Fática | – Estabelece, mantém ou encerra o canal de comunicação. – Foca a própria comunicação. – Usa saudações, cumprimentos, interjeições etc. |
Metalinguística | – Refere-se ao próprio código linguístico. – Foca a linguagem como objeto de estudo. – Usa definições, explicações gramaticais etc. |
Poética ou Estética | – Foca a forma estilizada da linguagem. – Valoriza a criatividade e a expressão artística. – Usa ritmo, musicalidade, imagens vívidas e figuras de linguagem. |
Exemplos de função poética em diferentes tipos de texto
A função poética da linguagem pode ser identificada em diversas manifestações textuais, principalmente na literatura, onde a escolha das palavras e a estrutura da mensagem ganham destaque. Um exemplo clássico aparece nos versos do renomado poeta português Luís de Camões, no poema “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
Nessa obra, a função poética está intensamente presente, não apenas pelo conteúdo reflexivo sobre a transitoriedade da vida, mas também pelo cuidado com a sonoridade, o ritmo e as rimas. A forma como as ideias são organizadas e a estética das palavras revelam a intenção do autor em valorizar a construção da mensagem, indo além do simples conteúdo.