Você sabe o que é pleonasmo? Veja 11 exemplos de clássicos da literatura e da música brasileira
O pleonasmo, por vezes, é uma ferramenta utilizada por poetas, romancistas e escritores
Imagine que você está num daqueles dias em que tudo parece engraçado, e então, alguém solta: “Subir para cima” ou “Descer para baixo”. É impossível não rir, certo? Mas, você sabia que essa brincadeira com palavras tem nome? Sim, caros leitores, estamos falando do famoso pleonasmo! E, acredite, esse recurso linguístico está presente em muitas obras-primas da literatura e da música brasileira, tornando-se um verdadeiro charme na arte de se expressar. Nesta matéria, vamos mergulhar nesse mundo divertido e descobrir como escritores e compositores deram um toque especial aos seus textos com o uso do pleonasmo.
O que é pleonasmo?
O pleonasmo, também conhecido como redundância, é uma figura de linguagem onde se repetem palavras ou ideias para reforçar ou dar ênfase a uma mensagem. É como se a frase dissesse duas vezes a mesma coisa, só para ter certeza de que você entendeu bem! Brincadeiras à parte, o pleonasmo é uma ferramenta poderosa quando bem utilizada, adicionando expressividade e riqueza ao discurso. Embora algumas vezes ele seja utilizado de forma desnecessária ou até mesmo equivocada, há momentos em que o pleonasmo é intencional, criando um efeito estilístico que marca a obra.
Para facilitar a compreensão do pleonasmo e mostrar como ele pode ser elegante e criativo, veja abaixo alguns exemplos retirados de clássicos da literatura e da música brasileira. Esses exemplos mostram como o uso do pleonasmo pode ser encantador e, ao mesmo tempo, poderoso:
- “E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou” (Chico Buarque)
- Pleonasmo: “dançaram tanta dança”. O pleonasmo está na repetição da ideia de dançar. O verbo “dançaram” já carrega o significado de realizar uma dança, e ao acrescentar “tanta dança”, Chico Buarque reforça a intensidade e a quantidade do ato, criando um efeito de ênfase.
- “Detalhes tão pequenos de nós dois” (Erasmo Carlos)
- Pleonasmo: “Detalhes tão pequenos”. O pleonasmo ocorre na expressão “detalhes pequenos”. A palavra “detalhes” já implica algo minucioso, pequeno. Adicionar “pequenos” reforça a ideia de que são detalhes ainda mais diminutos e sutis, enfatizando a importância dessas pequenas coisas.
- “Eu nasci há dez mil anos atrás” (Raul Seixas)
- Pleonasmo: “há dez mil anos atrás”. A redundância está na repetição da ideia de tempo passado. A palavra “há” já indica algo que ocorreu no passado, e “atrás” também sugere o mesmo. Juntas, criam uma ênfase desnecessária, mas estilisticamente proposital e usada por Raul Seixas.
- “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)
- Pleonasmo: “mar salgado”. O pleonasmo se dá na expressão “mar salgado”, já que a palavra “mar” naturalmente sugere salinidade.
- “Morrerás morte vil na mão de um forte” (Gonçalves Dias)
- Pleonasmo: “Morrerás morte”. Aqui, o pleonasmo está na repetição do conceito de morte. O verbo “morrerás” já indica que o sujeito encontrará a morte, e o substantivo “morte” reitera essa ideia, dando um tom fatalista e inevitável ao destino descrito.
- “Tenha pena de sua filha, perdoe-lhe pelo divino amor de Deus” (Camilo Castelo Branco)
- Pleonasmo: “divino amor de Deus”. A redundância ocorre porque “amor de Deus” já implica algo divino. A palavra “divino” reforça essa característica, criando um pleonasmo que intensifica a sacralidade do pedido de perdão.
- “Quando com os olhos eu quis ver de perto” (Alberto de Oliveira)
- Pleonasmo: “com os olhos ver”. O pleonasmo está na explicitação do ato de ver “com os olhos”. Como ver é naturalmente um ato realizado com os olhos, a frase repete a ideia, enfatizando a importância da visão direta e próxima.
- “Foi o que vi com os meus próprios olhos” (Antônio Calado)
- Pleonasmo: “com os meus próprios olhos”. Similar ao exemplo anterior, o pleonasmo ocorre na expressão “próprios olhos”. O verbo “vi” já indica o uso dos olhos, e ao adicionar “com os meus próprios olhos”, o autor reforça a pessoalidade e a autenticidade do testemunho.
- “Vi, claramente visto, o lume vivo” (Camões)
- Pleonasmo: “Vi, claramente visto”. O pleonasmo está na repetição do ato de ver. “Vi” e “visto” são variações do mesmo verbo, e ao usá-los juntos, Camões reforça a clareza e a certeza da visão, dando mais intensidade à percepção do “lume vivo”.
Cada um desses exemplos demonstra como o pleonasmo pode ser utilizado não apenas como um recurso estilístico, mas também como uma maneira de intensificar o significado e a emoção na literatura e na música.
Pleonasmo lexical
O pleonasmo lexical ocorre quando há repetição de palavras que possuem o mesmo sentido, criando uma ênfase especial no texto. É um recurso bastante utilizado por romancistas, poetas e compositores para dar mais vida e expressão às suas obras. Nos exemplos citados acima, observe como os termos grifados exprimem a mesma ideia, criando um efeito proposital de ênfase e, muitas vezes, de poesia.
O uso do pleonasmo lexical é uma demonstração de como a língua pode ser moldada para expressar sentimentos e ideias de maneira única e marcante. Ao mesmo tempo em que é um recurso estilístico, também é uma forma de comunicação rica que transcende o simples significado das palavras, atingindo o coração e a mente dos leitores e ouvintes. Portanto, da próxima vez que você ouvir ou ler uma frase redundante, não pense apenas na repetição, mas sim no poder expressivo que ela carrega!