Poeta ou poetisa? Qual termo usar no feminino?
Essa não é apenas uma discussão de gramática, mas de gênero
A discussão sobre o gênero dos substantivos é um tema que todos estudam desde os primeiros anos escolares. Nos livros didáticos, geralmente se encontra uma tabela que apresenta os substantivos masculinos e seus correspondentes femininos. No entanto, raramente, ou quase nunca, se vê uma tabela que destaque primeiro os substantivos femininos em comparação aos masculinos. Essa hierarquia no ensino pode parecer sutil, mas é um reflexo de como, historicamente, o masculino tem sido priorizado nas classificações de gênero da língua.
Poeta ou poetisa? Qual o feminino?
Um exemplo clássico dessa tabela tradicional é o substantivo “poeta”, com seu correspondente feminino “poetisa”. Desde cedo, todos sabem que essa era a forma correta de se referir a uma mulher que escreve poesia. Esse uso permaneceu incontestado por muito tempo, sendo aceito sem que houvesse dúvidas sobre sua adequação. No entanto, nos últimos anos, o termo “poetisa” tem se tornado alvo de debates e polêmicas, especialmente à medida que as questões de gênero e linguagem são mais amplamente discutidas.
Por que existe essa polêmica?
Mas o que gerou essa polêmica? O termo “poetisa” passou a ser questionado devido ao seu uso histórico, que acabou por adquirir uma conotação pejorativa. Ele foi associado à ideia de que a produção literária das mulheres era inferior, algo que refletia um contexto social onde a visão masculina dominava as produções intelectuais e culturais. Assim, muitas mulheres escritoras, ainda antes das teorias feministas ganharem força, começaram a se autodenominar “poeta”, preferindo esse termo ao tradicional “poetisa”, como forma de afirmar a igualdade no ofício da poesia.
Um exemplo dessa escolha pode ser encontrado na obra de Cecília Meireles, uma das mais importantes poetas brasileiras. No poema “Motivo”, ela se refere a si mesma como “poeta”, mostrando uma consciência clara sobre o peso que a linguagem carrega. Em um dos versos, ela afirma: “Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.”
Poeta e poetisa fazem parte de uma discussão de gênero: o que diz a gramática?
A gramática normativa estabelece que, em geral, o gênero feminino nos substantivos é marcado pela desinência [-a], enquanto o masculino não possui essa marca específica. No entanto, ao longo dos anos, muitos dicionários e obras gramaticais reforçaram a ideia de que os termos masculinos são os principais, com os femininos sendo derivados ou secundários. Essa organização revela não apenas uma questão linguística, mas também uma visão de mundo em que o masculino é visto como norma e o feminino como exceção ou complemento.
O debate sobre o uso de “poeta” ou “poetisa” ultrapassa as regras gramaticais e toca em questões culturais e de representatividade. Enquanto “poetisa” foi por muito tempo a única forma de se referir a uma mulher que escrevia poesia, hoje muitas preferem “poeta”, entendendo que essa escolha elimina a ideia de diferenciação por gênero em uma profissão que, em essência, é a mesma, independentemente do sexo da pessoa que a exerce.
Afinal, qual a forma correta?
Ainda assim, é importante frisar que ambas as formas, “poeta” e “poetisa”, são corretas e aceitas na língua portuguesa. Ambas estão dicionarizadas e podem ser usadas, tanto na escrita quanto na fala. O que mudou, com o tempo, é a conotação que cada uma carrega e a escolha consciente que muitos fazem ao optar por um ou outro termo.
Seja optando por “poeta” ou “poetisa”, o fundamental é que a palavra escolhida reflita, da melhor maneira possível, a visão, a identidade e os valores de quem a utiliza. Afinal, a língua não é apenas um reflexo da nossa sociedade, mas também uma poderosa ferramenta que podemos usar para moldá-la, transformá-la e construir uma realidade mais inclusiva e representativa.