Por que estudar a obra dos Racionais MC’s?

 

Desde 2018, a banda de Rap Racionais MC’s virou leitura obrigatória para o vestibular da Unicamp – a Universidade de Campinas –, uma das mais importantes universidades da América Latina e do mundo. Isso deixou muitas pessoas instigadas: como um disco de música poderia ser “leitura obrigatória” de um vestibular?

A verdade é que outras universidades (como a FGV) já usaram obras como filmes, nas suas provas. Então, podemos supor que parte da surpresa é de puro racismo e preconceito (intencional ou não).

O fato é que a banda de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay é um dos grupos de música mais influentes do Brasil, dos últimos 25 anos.

Logo, ter a obra deles como leitura obrigatória para a Unicamp é uma alegria muito grande para aqueles que entendem a poesia e os estudos sociais para além dos livros. Leia o porquê.

 

1.      Uma visão anticolonial da vida carcerária

Talvez, a música mais conhecida do grupo seja Diário de um detento. A música, como o nome indica, é a visão de um presidiário, sobre a vida encarcerada, no Brasil.

Mas, diferente de uma obra jornalística, que se propõe a contar um caso pela visão de alguém estranho àquele ambiente, na música dos Racionais há a visão anticolonial. Isso porque, os músicos emergem daquele contexto.

A letra é inspirada, entre outros textos, no diário do ex-detendo Jocenir. Assim, a perspectiva da música não é a das vítimas de um crime, ou de seus juízes.

Antes, é dos acusados, seja se arrependendo, seja ponderando os motivos que os levaram para lá. Ou seja, a música dos Racionais é o que a História chama, popularmente, de “A versão dos derrotados”.

 

2.      Poesia oral

Outro aspecto muito importante na obra dos Racionais é no que se refere à sua poética.

É uma poesia de influência oral, fortemente galgada em produções literárias tradicionais como repente, moda de viola entre outros.

Além do Rap Norte-americano, é claro.

Assim, estudar uma música dos Racionais é estudar a forma como as palavras são pronunciadas, a posição e ênfase que elas recebem, a maneira como elas são estruturadas e afins, de forma que a letra se assemelha a um fluxo de consciência.

Ou seja, a letra vai acompanhando o pensamento do eu-lírico, em meio a tomadas de consciência e revelações (aquilo que na épica grega se chama de “Epifania”).

 

3.      Um elemento da cultura afro-brasileira

As letras e músicas, bem como o contexto dos Racionais, se engendram dentro da Lei 10.639/03, sobre cultura Afro-brasileira.

Afinal, a banda, suas músicas e tudo o que eles representam são ícones da identidade do jovens negros e periféricos do Brasil recente.

Não estudar suas obras é, em certa medida, deixar de estudar figuras relevantes para a compreensão de nosso país, nos últimos 40 anos (tenha em vista a conjuntura da infância dos músicos).

Logo, se você vai prestar vestibular, seja da Unicamp, seja de outra universidade, ligue o rádio e Bons Estudos!

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