Por que ler autores do continente africano?

 

Quando falamos em Literatura, o mais comum é que, de cara, pensemos em autores europeus, americanos, e claro, brasileiros. Além disso, também pensamos, geralmente, em autores brancos.

Por conta disso, o termo “autores africanos” parece algo absurdo e até meio fantasioso.

Entretanto, você sabia que nesse continente, há diversos autores com uma produção tão consistente e massiva quanto qualquer um do cânone ocidental? E que, além de homens – negros ou brancos – há também uma vasta produção literária de mulheres?

Alguns críticos até reconhecem autores de lá. Porém, um dos preconceitos quanto a Literatura de Nações Africanas (porque afinal a “África” é um continente, e não um único país), nesse sentido, é o de relacionar toda a produção do continente num único viés: o da crítica política.

Mas, da mesma forma que o resto do mundo, lá também há autores das mais diversas temáticas. Se ainda resta dúvidas do porquê ler autores de países africanos, confira aqui mais alguns motivos.

 

1.      Novas perspectivas sobre a cultura ocidental

As invasões europeias ao continente africano não foram pacíficas. Muitas foram, marcadamente, guerras violentas, contra impérios seculares. Somam-se a isso missões religiosas, que demonirazam cultos tradicionais e islâmicos.

Logo, as literaturas de países africanos e asiáticos, em alguma medida, são respostas e formas como esse choque acontece.

Alguns autores da Europa e Estados Unidos, trazem essas pautas – Pearl S. Buck. Porém, quando essa visão parte de um autor de origem africana, ela é totalmente diferente – trata-se da visão dos oprimidos.

Basta vermos as novelas de Chinua Achebe ou as peças de Wole Soyinka (nigerianos), onde a visão “salvadora” de missionários cristãos é atacada, por meio de cenas de drama e violência.

Já percepções e valores como Feminismo e Sufrágio Universal, pela ótica de autoras como Paulina Chiziane (Moçambique), Bessie Head (Botswana) ou Chimamanda Adichie (Nigéria).

 

2.      Perceptivas de Áfricas reais

Um dos maiores problemas, ao falarmos em “África” são as visões mistificadas (magias misteriosas, bruxos sobrenaturais) e mitificadas (terra selvagem, sem cidades, sem tecnologia) sobre o continente. A começar pelo termo.

“África” é o nome de um território de 30 mil quilômetros quadrados e 1,2 bilhões de habitantes. Logo, não é “África”, mas áfricas: são várias as formações políticas e sociais do continente.

Assim, quando lemos um romance de um não-africano sobre algum lugar do continente, é quase certo que leremos essa visão mística e mítica.

Quando lemos livros de autores africanos, temos uma percepção mais próxima do real, desses países. Por exemplo, o Egito cotidiano, bem parecido com os Estados Unidos, nas obras de Nagib Mahfouz ou os dramas de pessoas LGBTQIA+ do queniano Binyavanga Wainaina.

 

3.      Perspectivas sobre o racismo

Um dos maiores problemas do mundo é o racismo.

E ele acontece em países africanos também, tanto de brancos com negros, quanto de uma etnia com outra.

Esse é tema de diversos livros, como os dos sul-africanos Nadine Gordimer ou J.M. Coetzee – que são brancos e produzem uma relevante autocrítica, e da ruandesa Scholastique Mukasonga.

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