Por que Luís Gama é tão importante, para o Brasil contemporâneo?

 

Uma das personalidades mais relevantes do Brasil é um advogado morto há exatos 140 anos. Trata-se de Luís Gonzaga Pinto da Gama – Luís Gama (1830-1882).

Nome cada vez mais conhecido nos estudos sobre políticas raciais e movimentos antirracistas, Gama foi um importante ativista político antiescravista e antimonarquista. Porém, nos anos posteriores a sua morte, houve um apagamento de sua vida.

Por quê? Devido ao racismo.

Afinal, quando vemos sua impressionante história, encontramos a biografia de pensador negro-brasileiro essencial, para pensarmos nos movimentos antirracistas contemporâneos.

A importância de Gama é a mesma de Bookter T. Washington (1856-1915) e Frederick Douglass (1818-1895) nos EUA.

 

Filho de uma ativista negro-brasileira, abandonado pelo pai

Apesar de alguns dados faltantes, sabemos que Luís Gama nasceu em 1830, filho da líder popular Luísa Mahin, ex-escravizada, de biografia perdida, mas notável por ter participado da Revolta dos Malê (1835) e da Sabinada (1837-1838).

Sem muitas informações sobre ela, sobre o pai de Gama, sabe-se apenas que era um fidalgo português que, endividado, vendeu o próprio filho como escravo, em 1840.

 

Educação tardia, e ideais profundos

Gama permaneceu escravizado até 1847, quando é alfabetizado por um dos seus “senhores”, um estudante de Direito. Em 1848 se alista no exército e se alforria.

Em 1856, torna-se escrivão da Secretaria de Polícia de São Paulo. Nesse cargo, estuda Direito autodidaticamente, pois, por ser negro, é impedido de se matricular na Faculdade.

Como rábula (o habilitado em Direito, mas sem graduação), Luís Gama atua em favor da alforria de escravizados, bem como na defesa de pessoas negras em processos.

Perseguido pelos Conservadores de São Paulo, é demitido da secretaria em 1868. Entretanto, desde finais dos anos de 1850, já era contribuía com o Partido Liberal, e depois com o Partido Republicano Paulista.

Maçom, ao lado de Ruy Barbosa, planejou a fundação de uma escola gratuita para crianças, e uma escola de alfabetização para adultos.

Sua intensa atuação lhe garantiu destaque nos tribunais de São Paulo, porém, todos os seus ganhos eram destinados a ações sociais, de forma que Gama nunca juntou grande capital.

 

Jornalista, ativista e escritor abolicionista

Em 1864, junto com o cartunista Angelo Agostini, funda o jornal Diabo Coxo de orientação antiescravagista, e em 1866, o Cabrião, vanguardista na caricatura e charge política.

Também era conhecido por contribuir em diversas publicações de São Paulo e do Rio, sobre temas como abolicionismo, política e Direitos Civis. Pesquisadores identificam quase 100 artigos de sua autoria, em arquivos públicos.

Como escritor de literatura, produziu algumas dezenas de poemas de forte caráter antiescravidão, identificados com a Terceira Geração Romântica brasileira.

Como ativista, escreve alguns dos primeiros textos brasileiros sobre questões como a relação entre raça e classe, e Direitos Civis de ex-escravizados.

Morto em 1882, em decorrência de diabetes, sua morte foi profundamente sentida por seus pares da imprensa. Nas décadas seguintes, seu nome foi jogado ao ostracismo.

Hoje, porém, é estudado como um dos primeiros pensadores sociais, políticos e jurídicos negro-brasileiros.

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