Por que não podemos ser tolerantes com a intolerância? Como lidar com esse problema nos lugares aonde você frequenta?
Nos últimos 20 anos, temos visto uma tendência à intolerância, crescente. Seja em Política, ambientes de trabalho, escolas, ou tantos outros lugares, preconceitos parecem ter ressurgido.
Ou será que eles nunca deixaram de existir?
Seja como for, o que temos visto são demonstrações de ódio, revolta e resistência aos diferente em diversos países. Temos as rachas políticas em todos os continentes, países dificultando a entrada de refugiados, seja em fronteiras marítimas ou terrestres, ataques à centros religiosos, prisões e mortes de ativistas.
E isso não é uma “expressão de opinião”, como querem alguns, mas um crime. Porque a tolerância ao outro tem limites, e esse é, justamente, na forma como pensamos que deve ser a presença da diferença em relação a nós.
Confuso? Basta lembrarmos do “Paradoxo da Tolerância” do filósofo austríaco Karl Popper (1902-1994), uma de suas ideias mais conhecidas.
Basicamente, Popper aponta que, ao sermos tolerantes com a intolerância estamos admitindo a possibilidade de algo que vai limitar nosso princípio maior – a tolerância às diferenças.
Logo, como lidar com isso?
Liberdade parcial não é falta de liberdade
É preciso que entendamos que, quando alguns direitos ferem a liberdade de existência de outros, é preciso limitá-los.
E aqui, é especificamente o direito a propor que pessoas de vidas mais diversas não tenham direito a vida.
Ou seja, defender uma opinião homofóbica ou antissemita é, acima de tudo, defender o fim da vida de alguém. E isso não é moralmente correto: defender a morte de uma pessoa, apenas por ela ser quem é?
É diferente de você discordar do outro, e não querer aquele pensamento em sua casa, mas aceitar que ele exista, e aceitar que haja pessoas que defendam ele.
Esse caso é perfeitamente aceitável. E recomendável, afinal, a verdade sobre algo tem muitas faces, e algumas, não conseguimos visualizar só com a nossa perspectiva.
Alguém pode não concordar com os princípios de uma religião. Mas outras pessoas concordam. O que fazer diante disso? Primeiro, aceitar que aquilo não faz sentido para você, mas faz para o outro.
No caso de um ambiente coletivo, como devemos lidar com a diferença?
Combater de forma crítica
A principal ideia de Popper, quando ele pensa em formas de combater a intolerância é, não pela censura, mas pela limitação à propagação.
Deve ser permitido que um pensamento intolerante exista, enquanto teoria, mas não como prática.
Como teoria, ele é uma ideia que se enfrenta com estudos, debates e campanhas de reeducação social. Já como prática, esse pensamento intolerante é uma apologia à violência física, genocídio, entre outros – logo, é um crime.
Isso deve nortear o enfrentamento da intolerância. Práticas intolerantes precisam ser encaradas como práticas ilícitas, seja na escola, trabalho ou outras.
Após a punição, fazer um trabalho de reeducação é fundamental. Para tanto, palestras, aulas, workshops e conferências podem ser empregues.
A única coisa a não fazer é ignorar ou menosprezar o ocorrido.