É do nosso Brasil: o que há por trás dos sotaques brasileiros
É impressionante como cada variação do português revela a diversidade cultural do nosso país.

O Brasil é um país de dimensões continentais, onde a língua portuguesa ganha cores, sons e ritmos próprios em cada canto, assim, nosso texto hoje propõe uma viagem fascinante pelas diversas formas de falar (sotaques) que moldam nossa identidade. Dos chiados do Rio de Janeiro às melodias do Nordeste, passando pelo cantar arrastado do sul, cada sotaque revela um pedaço da nossa história, da nossa cultura e da nossa alma. Celebrar essas diferenças é valorizar a riqueza que nos torna únicos e, ao mesmo tempo, profundamente conectados.
Leia também: Carta do leitor – saiba como e onde usar esse gênero
Por trás dos sotaques brasileiros
Embora o Brasil compartilhe uma língua em comum, o português, os sotaques espalhados pelo país mostram que essa unidade linguística não é, de fato, homogênea. Você já parou para pensar no que é exatamente um sotaque? Mesmo sem conhecer a definição técnica, certamente já ouviu alguém falar de maneira distinta da que está acostumado, chamando sua atenção para essas diferenças.
Sotaques do Brasil
O termo “sotaque” diz respeito às variações no tom, na entonação e na pronúncia que caracterizam a fala de uma pessoa ou de um grupo regional. Quem já teve a oportunidade de conhecer diferentes regiões do Brasil sabe o quanto essas diferenças se destacam; no entanto, até mesmo acompanhando programas de rádio e televisão, mídias onde a oralidade é forte , é possível perceber essas particularidades. Cada estado brasileiro desenvolveu seu próprio jeito de falar, fruto da imensidão territorial do país, que torna inviável uma padronização absoluta da fala.
É importante lembrar que a história do português no Brasil começou com uma intensa interação com línguas indígenas e africanas, gerando um distanciamento natural em relação ao português de Portugal.
Com o passar dos séculos, especialmente no século XIX, a chegada de imigrantes de diversos lugares do mundo contribuiu para a diversidade de sons e entonações que temos hoje. Assim, cada canto do Brasil moldou suas próprias formas de pronunciar e articular palavras, criando uma variedade que reflete a riqueza cultural e histórica do país. Portanto, considerar um sotaque como superior ou mais correto do que outro é um equívoco carregado de preconceito, pois ignora a beleza e a importância da diversidade cultural brasileira. Os sotaques fazem parte da nossa identidade e devem ser celebrados como elementos fundamentais do nosso patrimônio linguístico.
Preconceito linguístico
O preconceito relacionado aos sotaques brasileiros consiste na discriminação baseada na maneira como alguém fala ou escreve. Esse tipo de discriminação pode ocorrer de várias formas, como a ridicularização de determinados sotaques, dialetos ou modos de falar, impactando negativamente as oportunidades e o tratamento reservado às pessoas afetadas.
Causas
-
Normas sociais e culturais: em diversas sociedades, certos padrões de linguagem são considerados “corretos” ou “superiores”, geralmente associados a grupos socialmente privilegiados. Isso faz com que outras formas de expressão sejam vistas como inferiores ou inadequadas.
-
Hierarquias sociais: existe uma forte ligação entre o preconceito linguístico e as estruturas de poder e status econômico. Línguas e dialetos de grupos historicamente marginalizados, como indígenas e afrodescendentes, muitas vezes são desvalorizados diante do padrão linguístico dominante.
-
Educação e mídia: a educação formal e os veículos de comunicação tendem a promover uma única forma de português como a ideal, reforçando a visão de que variações são sinônimo de erro ou falta de competência.
-
Ignorância e estereótipos: a falta de conhecimento sobre a diversidade linguística, somada à propagação de estereótipos, perpetua o preconceito. Muitas vezes, o julgamento é feito sem compreender a riqueza e a complexidade que cada forma de linguagem carrega.
-
História e colonialismo: o passado colonial, no qual a língua do colonizador era símbolo de poder e as línguas nativas eram marginalizadas, ainda influencia o modo como sotaques e dialetos são vistos na sociedade contemporânea.
Impactos
-
Acesso ao mercado de trabalho e à educação: quem fala de maneira diferente do padrão imposto pode sofrer discriminação, dificultando o acesso a oportunidades profissionais e educacionais.
-
Autoestima e identidade: ser alvo de preconceito linguístico pode abalar a autoestima de uma pessoa, gerando sentimentos de vergonha ou insegurança em relação à sua forma natural de se expressar.
-
Exclusão social: A marginalização linguística contribui para a exclusão social, reforçando barreiras que impedem a plena integração de certos grupos na sociedade.
Combater o preconceito linguístico é essencial para promover a valorização da diversidade cultural e linguística do Brasil. Educar para o respeito às diferentes formas de falar é um passo importante para a construção de uma sociedade mais inclusiva, justa e consciente da riqueza que nos define.
Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Criando filhos leitores – 4 dicas para incentivar a leitura”, já que o hábito da leitura estimula a criatividade, melhora o desempenho escolar e fortalece o vínculo familiar.